DEPUTADO SEBASTIÃO NAVARRO VIEIRA (PFL)
Discurso
Declaração de posição favorável ao projeto de resolução, de autoria da
Bancada do Partido da Frente Liberal - PFL -, que susta os efeitos do
decreto estadual que altera o regulamento do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços - ICMS.
Reunião
291ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/10/2001
Página 41, Coluna 3
Assunto TRIBUTOS.
Aparteante Anderson Adauto.
Proposições citadas PRE 1825 de 2001
Normas citadas DEC nº 41984, de 2001
Legislatura 14ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 19/10/2001
Página 41, Coluna 3
Assunto TRIBUTOS.
Aparteante Anderson Adauto.
Proposições citadas PRE 1825 de 2001
Normas citadas DEC nº 41984, de 2001
291ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 9/10/2001
Palavras do Deputado Sebastião Navarro Vieira
O Deputado Sebastião Navarro Vieira - Sr. Presidente, Srs.
Deputados, o Líder da Bancada do PFL ocupou esta tribuna nesta
tarde e apresentou, em nome da bancada, um projeto de resolução
sustando os efeitos do recente decreto do Sr. Governador do
Estado, da Secretaria da Fazenda, Decreto nº 41.984, do dia
4/10/2001, retroativo ao dia 1º/10/2001. Apresentamos esse projeto
de resolução, sustando esse malsinado decreto do Sr. Governador.
Assomo agora a esta tribuna fazendo coro com as palavras do nosso
Líder, Sebastião Costa, conclamando os nossos nobres pares a
aprovar o projeto, rejeitando esse decreto do Sr. Governador.
Parece-me estranho que o Governador possa, numa hora dessas,
editar um decreto desrespeitando o princípio da anterioridade e da
anualidade na criação de tributos, bem como da razoabilidade e da
capacidade contributiva do produtor rural mineiro, instituindo,
para vigorar dentro do mesmo ano fiscal, imposto sobre adubo,
calcário e defensivos agrícolas.
O Governador, com essa medida intempestiva, tomada por desespero
financeiro, não acredito que queira massacrar Minas Gerais, o que
já é por vocação e gosto o inimigo número um do Presidente
Fernando Henrique está se tornando, hoje, o inimigo número um do
produtor rural mineiro. Se o Governador - tenho dito isto há
bastante tempo - voltasse um pouco seus olhos para Minas, não
teria feito um decreto dessa natureza. Mas o Governador não sabe o
que acontece em Minas. Se não estivesse na Itália, fazendo seu
giro de dez dias; se, na volta tivesse vindo para Minas, não
tivesse ficado no Rio fazendo articulações políticas com Leonel
Brizola; se, desde que assumiu o Governo, estivesse olhando para
Minas, e não sonhando com a Presidência da República, vivendo
verdadeira obsessão com o Presidente Fernando Henrique; saberia
que a cafeicultura do Sul de Minas, importante setor produtivo do
Estado, não suportaria mais esse gravame. Se o Governador
estivesse em Minas, olhando para as coisas de Minas, teria sabido
que existe, no sistema operacional da saúde, a HEMOMINAS, não
teria deixado os servidores sem reajuste por tanto tempo, não
teria dado reajustes setorizados. Às vezes, fico pensando, o
Governador não pode fazer isso de propósito, não anda passando
bem. Não pode querer, sendo merecedor da confiança dos mineiros
que o brindaram com o Governo do Estado, promover uma política de
terra arrasada, destruindo Minas Gerais. Não é possível que isso
esteja acontecendo. Será que o Governador não sabe que a
cafeicultura foi o sustentáculo da industrialização do Brasil, que
viveu, muitos e muitos anos, quase que exclusivamente da
exportação de café? Será que o Governador não sabe que o café
ainda é um importante produto, que traz divisas para o País? Será
que não sabe que Minas Gerais se tornou, acreditando nos Governos,
o principal Estado produtor de café do Brasil? Será que não sabe
que produzimos a metade do café no Brasil hoje, que a cafeicultura
gera 10 milhões de empregos? Minas Gerais produz, com a
cafeicultura, 5 milhões de empregos, mas hoje, no Sul de Minas, o
desemprego já campeia, principalmente entre aqueles trabalhadores
que trabalham na zona rural e moram nas cidades. Estes estão
passando por grandes dificuldades e gerando dificuldades para as
Prefeituras, que têm de acudir essas pessoas, dada a grande crise
por que passa a cafeicultura no País. O café tem um custo de
produção em torno de R$135,00, média nacional, mas está sendo
vendido a R$95,00, R$90,00. Segundo o Deputado Sebastião Costa, a
R$70,00 na zona da Mata. Quem está tomando pouco prejuízo, na
atividade cafeeira, está tomando prejuízo da ordem de R$50,00 por
saca de café. E vem agora o Sr. Governador impor mais um ônus ao
cafeicultor, em vez de lhe estender a mão, pois este está morrendo
afogado. É preciso tirá-lo dessa angústia. Mas, em vez disso,
empurra-o para afogá-lo de vez, criando esse imposto adicional.
Como criar imposto numa hora destas, em cima de uma atividade tão
importante como a rural, principalmente a cafeicultura? Ele não
cria outro imposto, mas modifica o decreto que regulamenta o ICMS.
O adubo, o calcário e os defensivos agrícolas tinham alíquota 0. O
Governador criou 8,4% para o adubo, 4,3 para o calcário e 7,2 para
os defensivos agrícolas. O produtor rural mineiro já não suporta
esse ônus. O desemprego campeia, as dificuldades são grandes, a
cafeicultura está falida. O Governador vem sufocar ainda mais o
produtor rural mineiro, principalmente o de café.
Dizemos, no Sul de Minas - está presente o Deputado Marco Régis,
que é de Muzambinho, município grande produtor de café - que,
quando o café vai bem, tudo vai bem: o médico vai bem, o dentista
vai bem, o comércio vai bem, as Casas Pernambucanas vão bem. O
café distribui dinheiro. É uma cultura agrícola democrática,
demanda muita mão-de-obra e tem um custo de produção muito
elevado.
Estamos vivendo, desde o ano passado, uma grande dificuldade. O
cafeicultor do Sul de Minas, além de não conseguir preço, não teve
safra. A seca afetou a safra deste ano. Além de colher pouco, o
produtor não teve preço de venda, que ficou muito aquém do custo
de produção. E o Governador ainda criou um imposto em cima de quem
já está morrendo. Não está matando somente o agricultor, mas
também a indústria produtora de adubos, principalmente as
localizadas na região da cafeicultura no Sul de Minas, na Zona da
Mata, no Alto Paranaíba e no Triângulo. Os produtores de adubo,
para conseguirem vender seus produtos, estão procurando os
cafeicultores, oferecendo-lhes adubo, que será pago em café no
próximo ano. E vem o Governador criar imposto sobre o adubo.
O Deputado Anderson Adauto (em aparte)* - Parabenizo V. Exa.,
Deputado Sebastião Navarro Vieira, por abordar um assunto de tanta
importância.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, corroborando as palavras do nobre
Deputado, tornarei pública uma correspondência que recebi ontem do
Sindicato das Indústrias de Adubos e Corretivos Agrícolas do
Estado de Minas Gerais. Em Uberaba, no Triângulo, está localizada
a Indústria de Fertilizantes do Brasil. Todas as fronteiras do
Brasil central foram abertas nos últimos anos graças à implantação
das empresas de adubos. Num primeiro momento, tivemos a Fosfértil,
empresa estatal que foi privatizada. Hoje, para nossa tristeza,
não faz parte das empresas nacionais, assim como não existe
misturadora de adubo com capital nacional. Todas estão nas mãos
das multinacionais. E o que é pior: além de essas multinacionais
dominarem numa ponta a comercialização de grãos, estão, na outra
ponta, fornecendo adubo e corretivos aos agricultores. Assim, a
znica coisa que cabe ao agricultor brasileiro é correr o risco
relacionado com a intempérie no plantio dos grãos. Mas gostaria de
torná-lo público, porque acho muito importante esse assunto, para
o qual já estou tentando uma solução.
Aproveito o momento para propor que esta Casa possa assumir essa
discussão, que é muito séria, independentemente de bancadas.
A correspondência que o Presidente me passou diz: (- Lê:)
“Conforme nosso contato, informo as principais alterações
trazidas pelo Decreto nº 41.984, publicado em 4/10/2001, e as suas
prováveis conseqüências:
1- Venda de fertilizantes corretivos. Esses produtos até a
publicação do decreto eram diferidos e passaram a ser tributados
com uma alíquota final de 8,4%.
Para o produtor já descapitalizado,” - e são essas as suas
colocações - “isso passa a representar um custo adicional
proporcional ao tributo” . E é verdade: obviamente alguém vai
pagar esse tributo, e, naturalmente, vai ser o agricultor.
(- O Presidente faz soar a campainha.)
O Deputado Anderson Adauto - Peço licença para mais um minuto,
Sr. Presidente, para que possa concluir essa leitura. “Isso, além
de onerar o produtor, vai tirar sua competitividade, pois, em
todos os demais Estados da Federação, o produtor compra seus
insumos em operação interna, gozando de diferimento ou isenção, ou
seja, sem nenhum ônus de tributo. Dessa forma, Minas passa a
tratar seus produtores com uma carga tributária superior aos
demais Estados quando em operação interna.
O mais surpreendente é que Minas Gerais, que é o maior produtor
de fertilizantes do País, onerará seus produtores com 8,4% de
ICMS, enquanto o mesmo produto produzido em Minas e vendido para
as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste vai tributado com
alíquota de 4,9% de ICMS, conferindo vantagem competitiva para
produtores de outras regiões, que competirão com os produtores
mineiros nos mercados nacional e internacional.
Para a indústria mineira, o reflexo mais imediato será a
competição das indústrias instaladas em São Paulo com as
indústrias instaladas no Sul de Minas”. E menciona também o caso
da região de V. Exa. “As indústrias paulistas tendem a ocupar o
espaço das indústrias mineiras, uma vez que a carga tributária
passa a ser a mesma, porém as indústrias paulistas contam com
posição logística privilegiada”.
Então, aproveitando o momento em que V. Exa. ocupa a tribuna e
reconhecendo a importância do tema, gostaria que nós, Deputados
que representamos nossas regiões e entendemos que esse assunto é
importante, estivéssemos presentes, segunda-feira, na reunião que
se realizará entre o sindicato e a Secretaria da Fazenda, para
fazermos a defesa da indústria e do agricultor mineiro.
O Deputado Sebastião Navarro Vieira - V. Exa. confirma o que
disse: o nosso Governador está fazendo de Minas uma política de
terra arrasada. Quando produzimos produtos agrícolas de consumo
interno, evidentemente o imposto tem que ser repassado no preço;
quando produzimos “commodity” internacional, como o café, acabamos
de matar o cafeicultor mineiro.
Infelizmente, não tive a satisfação de ouvir o Deputado Marco
Régis, de Muzambinho, importante cidade produtora de café da
região Sul-mineira.
Enfim, Sr. Presidente, Srs. Deputados, conclamo a todos desta
Assembléia Legislativa, como representantes do povo, para que, ao
contrário do Governador, que tem sido inimigo da agricultura, da
pecuária e do produtor rural de Minas Gerais, sejamos nós os
defensores. No Sul de Minas, os sindicatos rurais já ameaçam levar
seus tratores para as rodovias, paralisando-as, chamando, assim, a
atenção para o absurdo que o Governador comete ao criar imposto
sobre insumo agrícola numa hora de tamanha dificuldade.
Então, fica meu apelo a cada Deputado, na defesa do povo mineiro,
para que possamos aprovar esse projeto de resolução apresentado
pela Bancada do PFL, revogando o malsinado Decreto nº 41.984, que
cria imposto sobre o insumo agrícola numa hora em que não poderia
fazê-lo.
* - Sem revisão do orador.