Vídeos

Memória e Poder

Política e Direito: José Gregori

27/05/2017

"A política ainda não comprou a ideia dos direitos humanos. Por analogia, a sociedade também não". A afirmação é de um dos pioneiros na defesa dos direitos humanos no Brasil, o jurista e político paulista José Gregori. Aos 86 anos, ainda atuante no cenário político brasileiro, Gregori foi ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso e Secretário Nacional de Direitos Humanos. Apesar de reconhecer avanços, sobretudo nas políticas em defesa das crianças, mulheres e idosos, ele vê o país dando os primeiros passos em um longo caminho de combate ao racismo, à intolerância de gênero e à desigualdade econômica. "Mas ouso pensar que a contabilidade que se faz em matéria de direitos humanos é uma pouco mais elástica do que nos outros temas. Porque as dificuldades são maiores e porque temos de mexer com as pessoas. E não do ponto de vista de atitude apenas, mas de sentimento. É preciso fazê-las sentir que o fato de respeitar o outro não é uma exigência da lei, mas algo que a nossa natureza deve reconhecer", afirma. Gregori foi uma figura atuante na defesa dos direitos dos presos políticos durante o regime militar. Por uma década (1972-82), foi presidente da Comissão de Justiça e Paz, fundada pelo arcebispo de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, e considerada um refúgio aos que se opunham à ditadura. Anos depois, fez parte da Comissão da Verdade e foi co-autor da Lei dos Desaparecidos Políticos. "Esta lei é o meu cartão de visitas. Mexemos em um assunto que era tabu, sem sentimento de revanchismo ou vingança. Apenas para reparar injustiças cometidas pelo Estado brasileiro". No programa, Gregori recorda a experiência de ter vivenciado momentos importantes da história brasileira como o suicídio de Getúlio Vargas, do qual era oposicionista: "Ao ver a comoção que a morte do presidente causou nas camadas mais populares, percebi que errei a pontaria, lutei do lado contrário ao povo". E ainda a noite do Golpe de 1964, a qual passou em pleno Palácio das Laranjeiras, residência do presidente João Goulart. "Era a sede de um governo em desmoronamento. De forma que o golpe veio sem que se esboçasse reação".