Tachos de cobre foram usados para decorar o Auditório, em referência o equipamento tradicional usado na fabricação dos doces
Ângela Vieira reiterou a possibilidade do uso dos tachos de cobre
Amazile Maia enumerou os benefícios do cobre para a produção de doces
Tacho de cobre na produção de doces artesanais está liberado pela Anvisa

Produtores de doces podem usar tachos de cobre

Informação foi confirmada pela Vigilância Sanitária estadual durante audiência e surpreendeu doceiros e autoridades.

03/05/2022 - 19:40

Os tradicionais tachos de cobre usados na produção de doces em Minas Gerais estão liberados. A informação foi confirmada pela Vigilância Sanitária estadual (Visa) durante audiência da Comissão Extraordinária de Turismo e Gastronomia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (3/5/22). A regra está em vigor há exato um ano, mas ainda assim, surpreendeu produtores e autoridades.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 20, de 2007, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) restringiu o uso do tacho de cobre, exigindo revestimento de outros materiais, entre os quais ouro ou prata. A alegação é de que o cobre é transferido para o alimento, com riscos para a saúde. A medida gerou grande impacto no setor, levando a casos até de depressão de doceiras tradicionais, conforme relatos na audiência.

Ângela Vieira, diretora de Vigilância em Alimentos e Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde, explicou, porém, que a norma foi modificada. A RDC 498, de 2021, vigente desde 3 de maio de 2021, permite o uso de equipamentos de cobre sem revestimento, a critério da autoridade sanitária competente, sempre que se demonstre sua função tecnológica de uso.

Segundo ela, a autoridade competente é a vigilância sanitária municipal, com apoio da Visa estadual. A diretora frisou a necessidade de boas práticas, como a higiene correta do tacho, mas reforçou que a Emater tem trabalhado nessa orientação.

O deputado Mauro Tramonte (Republicanos), presidente da comissão e autor da solicitação para o debate, apresentou requerimento, a ser votado em outra reunião, para que a Anvisa divulgue a alteração na norma. “A Anvisa editou novo texto, em vez de revogar o existente”, justificou, comemorando a mudança. Produtores também pediram divulgação do tema.

Especialista defende o cobre

Se o uso do cobre depende da demonstração de sua função tecnológica, a audiência trouxe subsídios para isso. Amazile Biagioni Maia, engenheira química, mestre em Alimentos e doutora em Bioquímica, fez a defesa técnica do produto, que classificou como “insubstituível”. Entre as propriedades do cobre, ela listou a eficácia contra a proliferação de vírus, bactérias, fungos e algas.

Uma das principais características do metal, segundo Amazile, é a alta condutividade térmica, cinco vezes maior que o ferro e 20 vezes maior que o aço. “O aquecimento inativa enzimas, o que deixa o doce com mais frescor. Também evita a oxidação que gera perda de aroma, sabor e cor. No caso dos doces de frutas verdes, como o figo, o cobre ainda estabiliza a cor (clorofila).

Com base na literatura internacional, Amazile também apontou que o cobre não tem efeito cumulativo no organismo, que absorve o necessário e dispensa o excedente. Os casos de intolerância, segundo ela, são distúrbios genéticos raros. “O cobre é ingrediente em alimentos aprovado pela FDA”, reiterou, citando a agência americana que controla alimentos e medicamentos.

Ainda segundo a doutora em Bioquímica, o índice preconizado de cobre é de 1 mg/dia, mas a FDA isenta de risco até dez vezes esse valor. Ela aponta, por fim, que os doces em geral não atingem esse limite diário inicial. O deputado Gustavo Mitre (PSB) reforçou a necessidade de valorizar e incentivar o uso do cobre.

Valorização

Produtores também reivindicaram, na audiência, a valorização da produção artesanal de doces, a simplificação e unificação de normas. Edson Wander Puiati, coordenador da Frente da Gastronomia Mineira, destacou que o produtor vive uma dicotomia entre as políticas públicas, que o incentivam, e a legislação, que o coíbe.

Delegado Heli Grilo (União) também defendeu a valorização dos produtos artesanais mineiros e a facilitação do comércio deles. “Além da questão cultural, esses produtores geram emprego e renda”, reforçou. Mauro Tramonte acrescentou que é desejo de todo viajante que passa por Minas levar um doce.

A secretária-adjunta de Cultura e Turismo, Milena Andrade Pedrosa, destacou que o Executivo tem um plano de desenvolvimento da cozinha mineira com mais de 70 ações, sendo uma delas o inventário dessa cozinha, da qual os doces são parte essencial. “Temos que resguardar saberes, fazeres e sabores. Para ser original, basta voltar às origens”, defendeu.

Segundo ela, pesquisa realizada em 2017 aponta que 30% dos turistas justificam a vinda a Minas pela cozinha do Estado, e 40%, pela cultura. Além disso, 12% das empresas mineiras têm alguma relação com o turismo, setor que responde por 8% da geração de emprego e renda no Estado. “É importante para o desenvolvimento social do Estado”, reforçou.