Apoiador do presidente, Coronel Sandro disse que corte foi necessário, mas obra será garantida
Para Beatriz Cerqueira, projeto do governo traz prejuízos às prefeituras
Parlamentares criticam projeto de municipalização do ensino fundamental

Veto de Bolsonaro e projeto de Zema centralizam discursos

Corte para obra na BR-367 e descentralização de matrículas do ensino fundamental foram principais assuntos no Plenário.

28/04/2021 - 18:27

O veto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a recursos para pavimentação da BR-367, no trecho que corta o Vale do Jequitinhonha, e o Projeto de Lei 2.657/21, que cria o projeto “Mãos Dadas”, foram os principais assuntos abordados nesta quarta-feira (28/4/21) no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Os discursos dos parlamentares foram realizados durante a Reunião Ordinária da tarde.

Confira o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Em dezembro do ano passado, Bolsonaro esteve no município de Jacinto, na divisa com a Bahia, para anunciar a obra. De acordo com o deputado Coronel Sandro (PSL), a decisão do presidente se baseou na falta de previsão de arrecadação para cumprir o compromisso no orçamento deste ano, que foi aprovado apenas no final de março.

Para não comprometer a receita, conforme afirmou o deputado, o Ministério da Economia se viu forçado a fazer cortes e priorizar os investimentos. “Temos que socorrer as pessoas”, disse Coronel Sandro ao considerar a escolha entre o asfalto e a oferta de comida a quem tem fome. Ele também ponderou que as dificuldades com a pandemia foram critérios para a revisão da obra.

Por outro lado, Coronel Sandro afirmou que o Ministério assegurou que o asfaltamento será feito na rodovia. Mesmo entendimento teve o deputado Carlos Pimenta (PDT), ao relatar uma negociação entre o senador Carlos Viana (PSD/MG) e autoridades para assegurar remanejamento no orçamento para garantir os recursos para a obra. “É a principal artéria do Vale do Jequitinhonha”, reforçou ao falar da importância da estrada para a região. Em aparte, Arlen Santiago (PTB) também se mostrou compreensivo. “Temos que dar um pouco de crédito ao presidente”, sugeriu.

Já o deputado Doutor Jean Freire (PT) conclamou os deputados a pressionarem o governo federal para garantir a conclusão da obra. Morador da região, o deputado enumerou problemas que já presenciou na rodovia, em suas constantes viagens pela estrada.

Citou, como exemplo, casos de ambulâncias, transportando pacientes intubados, que tiveram dificuldades de chegar a seus destinos, por causa dos buracos da rodovia, e ficaram sem oxigênio no trajeto. “Temos que criar uma corrente de luta e resistência para derrubar esse veto, independente de sigla partidária”, defendeu.

Deputadas criticam projeto de Romeu Zema

Três deputadas da oposição se manifestaram contrariamente ao PL 2.657/21, do governador Romeu Zema, recebido nesta quinta-feira pelo Plenário. A proposição, segundo Beatriz Cerqueira (PT), prevê a descentralização das matrículas dos anos iniciais do ensino fundamental, repassando para os municípios a responsabilidade que atualmente é do Estado.

A parlamentar afirmou que a medida vai gerar grande dificuldade para as prefeituras porque os custos para os municípios se elevariam em 86%, mas os repasses de recursos do Fundebh seriam de apenas 24%. “O prefeito terá que aportar recursos para essa nova rede municipal”, advertiu. Criticou, ainda, a falta de negociação com a comunidade.

Em aparte, a deputada Andréia de Jesus (Psol) concordou com a colega e citou as dificuldades já vividas em Ribeirão das Neves (Região Metropolitana de Belo Horizonte), que não consegue arcar com o ensino infantil – atualmente responsabilidade dos municípios. “É retirar o direito à educação pública”.

Ana Paula Siqueira (Rede) lamentou o anúncio da proposta no Dia Mundial da Educação, celebrado nesta quinta-feira. Ela também corroborou as críticas das outras duas deputadas e disse que tem muitos questionamentos sobre o projeto.

Fome – Ana Paula Siqueira também cobrou do Executivo ações para amparar as famílias mineiras que estão sofrendo com a extrema pobreza. Segundo ela, a própria Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) admitiu que houve 7% de aumento de pessoas nessa situação, após a pandemia da Covid-19. “Mas o governo ignora essa realidade”, lamentou.

Minas Gerais, de acordo com a deputada, é o único Estado da região Sudeste que não criou o auxílio emergencial próprio. No Brasil, 18 Estados e o Distrito Federal já implantaram a ajuda estadual. Os repasses prometidos pelo Estado aos municípios, em sua opinião, são insuficientes, pois alguns vão receber apenas R$ 2 mil para distribuir à população.

Pelas contas da deputada, na menor cidade do Estado, Serra da Saudade (Centro-Oeste), seria como se cada morador recebesse R$ 2,50 “para matar a fome”.

Mineração – Em seu discurso, o deputado Bernardo Mucida (PSB) defendeu que a mineradora Vale destine parte de seus lucros para as cidades onde atua. A empresa, segundo ele, apresentou um lucro superior a R$ 30 bilhões no primeiro trimestre deste ano, mas o dinheiro deve ser distribuído apenas a acionistas.

“Os municípios veem suas riquezas sendo levadas embora pelos vagões da Vale e continuam com os problemas ambientais decorrentes da mineração”, afirmou. O lucro auferido pela empresa, segundo o deputado, é equivalente a 50 anos de arrecdação do município de Itabira (Região Central), onde foi fundada a mineradora.

A sugestão de Bernardo Mucida é que parte dos ganhos sejam destinados à diversificação econômica dos municípios mineradores, com investimentos em infraestrutura, educação, ciência e tecnologia, para se quebrar o ciclo de dependência econômica com a mineração. Ele também defendeu alterações na legislação tributária, que isenta compradores externos do minério. “Esse erro tem custado o equilíbrio fiscal do Estado de Minas Gerais”, argumentou.