Com auditório vazio, em razão das restrições impostas pela pandemia, CCJ votou pareceres sobre reforma da previdência
Por medida de segurança, devido à pandemia, servidores não puderam acompanhar a reunião. Do lado de fora da ALMG, eles manifestaram contra os projetos
O líder do Bloco Democracia e Luta considerou que a ALMG deveria insistir no adiamento da análise da matéria
Para o líder do Governo na ALMG, a reforma é essencial para garantir a sustentabilidade do equilíbrio fiscal
CCJ aprova pareceres que retiram itens administrativos da reforma previdenciária

Deputados criticam reforma da previdência em plena pandemia

Defensores das mudanças, no entanto, consideram proposta essencial para equilibrar as contas do Estado.

03/07/2020 - 15:25

A pressa em analisar o projeto de reforma da previdência dos servidores do Estado, sem amplo debate e sem participação popular, no momento em que o Parlamento mineiro está de portas fechadas à população, por conta da pandemia de Covid-19, foi criticada por diversos parlamentares na manhã desta sexta-feira (3/7/20), em reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Na ocasião, foram aprovados os pareceres do relator e presidente da comissão, deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), pela constitucionalidade das duas proposições do governador Romeu Zema que contêm a reforma: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/20 e o Projeto de Lei Complementar (PLC) 46/20.

A comissão rejeitou requerimentos do deputado Sargento Rodrigues (PTB) e da deputada Ana Paula Siqueira (Rede) pedindo o adiamento da discussão.

Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.

Além de discordarem de vários pontos constantes das matérias, parlamentares contrários à realização da reforma neste momento, questionaram a forma como o processo de discussão e votação está sendo conduzido, lembrando o estado de exceção imposto pela pandemia.

Sargento Rodrigues apontou trechos do parecer em que o próprio relator admite que o tema requer “amplos debates com as categorias envolvidas”. Citou também o artigo 5º da Constituição Federal, que trata da livre manifestação do pensamento, de locomoção e de reunião, prejudicada no contexto da pandemia. Ele disse que vai impetrar mandado de segurança contra a tramitação da matéria.

Segundo o deputado, a voz do cidadão está sendo calada “na Casa que se diz do povo”, já que os recursos tecnológicos a distância não substituiriam a participação presencial. Ele lembrou, ainda, que desde o início da pandemia outros prazos relevantes da vida política, civil e administrativa do País têm sido adiados ou prorrogados, entre os quais as datas das eleições municipais.

Prazo - A representante do Bloco Democracia e Luta na CCJ, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), alegou que “a temática é complexa e o tempo curto” para analisá-la. Segundo ela, os pareceres apresentados são “robustos” e introduzem alterações importantes, mas ainda assim não contemplam a perspectiva dos servidores e deixam dúvida sobre garantia dos direitos, com grande impacto sobre os funcionários do Estado, principalmente as mulheres.

A deputada defendeu que a CCJ usasse o prazo regimental de até 40 dias para analisar as proposições.

Reforma afetará também 220 municípios mineiros

A deputada Marília Campos (PT) disse que a proposta de reforma afetará também 220 municípios mineiros que possuem regime próprio de previdência. Ela destacou que a única urgência legal, no momento, seria votar as alíquotas de contribuição até o dia 31 de julho, por exigência de uma portaria do governo federal. E questionou o líder do governo, deputado Raul Belém (PSC), que defende a aprovação das matérias sob o argumento de sanear as finanças do Estado.

“Na verdade, vamos agravar a situação financeira e fiscal do Estado, se for aprovado o PLC 46, que institui regime de capitalização, extinguindo a previdência solidária, já que, sem a contribuição dos servidores da ativa, que irá para o fundo de capitalização, o Estado terá que arcar com as despesas de aposentadorias e pensões, além de contribuir também com 22%”, disse.

O deputado Delegado Heli Grilo (PSL) apelou aos colegas para que adiassem a discussão das proposições, focando apenas nas alterações de alíquotas.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) reiterou o pedido de adiamento. “Não é possível dar tramitação a um projeto de tal complexidade, de forma remota, sem que as pessoas atingidas sejam escutadas. Minha atividade como deputada estadual não substitui a participação popular”, afirmou.

Para ela, o governo está confiscando dinheiro dos mais pobres, enquanto mantém isenção fiscal a grandes empresários.

O líder do Bloco Democracia e Luta, deputado André Quintão (PT), também criticou o processo de discussão em plena pandemia. Segundo ele, o fatiamento das propostas adotado pela CCJ, ao separar os temas administrativos e previdenciários, não atendeu as necessidades dos servidores. Ele defendeu a análise das alíquotas em separado e considerou que a ALMG deveria insistir no adiamento, pelo governo federal, do prazo de 31 de julho, tendo em vista o cenário da pandemia.

Também defendeu o adiamento a deputada Andréia de Jesus (Psol), para quem os principais prejudicados com a reforma serão as mulheres, os negros e os segmentos de renda mais baixa

O líder da Minoria, deputado Ulysses Gomes, e o deputado Betão, ambos do PT, também criticaram a proposta e pediram o adiamento, assim como o presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, deputado Celinho Sintrocel (PCdoB). Na comissão que preside, garantiu, a discussão será feita sem pressa e com cuidado.

Para defensores, reforma é essencial para equilibrar contas públicas

Os parlamentares que defendem a reforma consideram que a mudança no sistema previdenciário é essencial para garantir a sustentabilidade do equilíbrio fiscal e atuarial, do crescimento econômico, da geração de empregos e do próprio pagamento dos benefícios atuais e futuros aos servidores. Essa é a posição sustentada pelo líder do Governo na Assembleia, deputado Raul Belém (PSC).

O deputado Guilherme da Cunha (Novo) disse que a reforma combate distorções.

O deputado Bartô (Novo) reconheceu que a pandemia traz desconforto pela falta de participação popular para discutir os projetos, mas ponderou que o Estado passa por uma situação financeira calamitosa, agravada com a expansão da Covid-19, o que justificaria a necessidade de se prosseguir com a discussão. “Cabe a nós (parlamentares) discutirmos com as entidades (de trabalhadores) e equacionar o projeto”, sugeriu.

Bartô considerou a reforma tímida, por proporcionar um impacto financeiro de R$ 2,3 bilhões para um deficit de R$ 20 bilhões.

O deputado Bruno Engler (PSL) lembrou que o governo não consegue nem mesmo pagar o salário dos servidores em dia, ao salientar que os direitos devem se adequar à realidade das contas públicas.

Relator defende processo

O presidente da comissão e relator das matérias, deputado Dalmo Ribeiro Silva, disse se sentir com o dever cumprido, ao dar uma resposta aos projetos encaminhados pelo governo. Em defesa do processo, ele afirmou que concedeu a palavra e permitiu a participação de todos os parlamentares ao fazer seu parecer.

Também elogiou o presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PV), e o Colégio de Líderes, por terem mantido a Casa em funcionamento durante todo o período do isolamento social e permitido, de forma remota, aprovar projetos importantes para a sociedade. 

Ele considerou, ainda, a reforma necessária para equacionar a situação financeira do Estado e, também, cumprir exigências do Governo Federal. Ressaltou a necessidade do desmembramento das propostas para permitir ampla discussão nas questões que tratam de questões administrativas.

A deputada Celise Laviola (MDB) elogiou a atuação da comissão e ressaltou a disposição dos líderes em dialogar e chegar a um entendimento sobre as questões tratadas na reforma.