Coronavírus pautou as falas dos deputados na reunião de Plenário

Medidas de combate ao coronavírus dominam falas no Plenário

Deputados se revezam, uns para criticar e outros para defender, ações de Bolsonaro para conter expansão da pandemia.

17/03/2020 - 20:08

As medidas adotadas pelo Brasil e por Minas diante da expansão da pandemia do coronavírus no País. Esse foi o assunto que dominou as falas dos parlamentares na Reunião Ordinária do Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) desta terça-feira (17/3/20). Apesar da controvérsia em relação à postura do presidente da República quanto às ações de combate à contaminação no Brasil, a maioria adotou um tom crítico a Jair Bolsonaro.

O deputado André Quintão (PT) mostrou-se preocupado com declarações presidenciais, as quais demonstram, segundo ele, que o chefe da nação não tem conferido a importância devida a esse desafio. “É inadmissível ele dizer que a culpa é da imprensa e desautorizar as ações do ministro da Saúde, indo contra orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS)”, salientou.

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O deputado ainda destacou as consequências econômicas das medidas, que devem atingir fortemente os mais pobres, e defendeu ações federais para minimizar o impacto, como o descongelamento de recursos para a saúde e a manutenção do emprego e do salário de trabalhadores dos setores público e privado.

Também o deputado Ulysses Gomes (PT) condenou o “desgoverno federal”, que desorientaria a população: “O presidente não leva este problema a sério e corre-se o risco de o País chegar ao caos”, pontuou. Ele defendeu que o Brasil aprenda com os erros de outros países, referindo-se à Itália, onde 25% dos infectados morreram.

Comentando também a entrevista concedida por membros do Governo do Estado na segunda-feira (15), o deputado criticou com veemência o Executivo estadual. “Assistimos à falta de clareza do governo, com um secretário de Saúde sem dados”, constatou Ulysses Gomes.

Ele ainda acrescentou que o vereador de Belo Horizonte Mateus Simões (Novo) falou em nome do governo, mesmo sem ter sido nomeado secretário.

Urgência - “Não estamos tendo mais lugar para colocar os mortos”. Esta foi a frase de uma amiga que reside no Norte da Itália reproduzida pelo deputado Doutor Jean Freire (PT). No seu entender, o país europeu sofre por ter demorado a tomar as medidas necessárias.

“As nações que mantiveram as pessoas em casa se saíram melhor”, defendeu, criticando o presidente, que prometeu fazer festa de aniversário nos próximos dias. “Devemos ter responsabilidade. Não é histeria”, alertou.

Doutor Jean Freire também rebateu a fala de Bolsonaro de que ninguém tinha nada a ver se ele se contaminasse: “Todos nós temos a ver com isso, porque ele pode ter contaminado 200 pessoas com o cumprimento dele”, argumentou.

Histeria - Defenderam Jair Bolsonaro os deputados Coronel Sandro e Bruno Engler, do PSL. O primeiro afirmou que “as autoridades sanitárias estão adotando as providências necessárias e o Brasil, dentro do possível, está atuando”.

Concordando com Bolsonaro, Coronel Sandro disse ver também histeria e atuação parcial e militante da imprensa brasileira. Mesmo declarando concordar com as restrições sanitárias impostas pelas autoridades, ele questionou o porquê de se querer proibir cultos com cerca de 50 pessoas em igrejas evangélicas e não se fazer nada quanto a milhões de pessoas que trafegam de ônibus e metrô.

“Se o presidente sai do Palácio e cumprimenta pessoas, já dizem que ele vai contaminar o Brasil inteiro”, respondeu ele, completando que combate essa “hipocrisia no Brasil”.

“Bolsonaro desconvocou os atos do dia 15, mas a população foi às ruas e se manifestou a favor dele. Após o resultado negativo para o coronavirus, ele foi cumprimentar seus apoiadores”, disse Bruno Engler.

Para o deputado, o governo, ao pedir que não haja histeria, tenta combater o pânico. “Isso gera problemas - hospitais lotados, pessoas estocando alimentos e álcool gel. O combate ao coronavirus é necessário, mas com responsabilidade”, lembrou.

Bruno Engler também registrou a criação de um comitê de crise pelo governo federal, que disponibilizou R$ 83 bilhões para ações contra o coronavírus, sendo R$ 432 milhões para os estados. “Não é com politicagem que vamos vencer a crise”, declarou.

Deputado defende uso de máscara contra coronavírus

Utilizando máscara, o deputado Bartô (Novo) respondeu a pessoas que, segundo ele, pareceram incomodadas com o uso do equipamento. Na sua opinião, o uso da máscara mostra seu respeito ao próximo e a busca de conscientizar as pessoas sobre o risco de não se utilizar esse recurso.

Outras medidas que ele adotou foram o trabalho em casa para servidores de seu gabinete, ficando apenas um no local. Sugeriu, ainda, a criação de comissão especial na ALMG para tratar de assuntos ligados ao coronavírus.

Bartô enfatizou a importância do isolamento para impedir a circulação do vírus. “Devemos conscientizar a todos de que é importante ficarmos mais isolados. Se fizermos isso rapidamente, poderemos controlar a expansão do vírus”, propôs.

Já o deputado Cleitinho Azevedo (Cidadania) divulgou que foi procurado por servidores da Assembleia preocupados com a proliferação do coronavírus no ambiente de trabalho. “Concordo com eles, pois todos estão correndo risco e têm a minha solidariedade”, ressaltou.

O deputado ainda criticou a atitude de comerciantes que subiram o preço do álcool em função da procura. “O Brasil tem que ser exemplo de solidariedade, não de corrupção. Temos que acionar o Procon, para convocar as empresas que estão aumentando os preços”, declarou.

O 3º-vice-presidente da ALMG, deputado Alencar da Silveira Jr. (PDT), parabenizou a Assembleia e seu presidente, Agostinho Patrus (PV), pelas providências adotadas para conter a expansão do coronavírus. “Recebemos de 6 a 8 mil visitantes por dia, este susto por que passa o Brasil deve fazer com que mudemos nossos hábitos. Temos que cuidar da nossa casa e do nosso próprio lixo”, disse.

Já o 1º-vice-presidente, deputado Antonio Carlos Arantes (PSDB), disse estar assustado com o coronavírus. “O que me assusta é que pessoas com sintomas não conseguem fazer exame, e estamos só no começo. Aqui em Belo Horizonte, estão pedindo sete dias para entregar os resultados”, ressaltou.

Outra preocupação dele foi quanto aos produtores e trabalhadores que atuam no CeasaMinas. “Não vi nenhuma ação do governo para essas pessoas. E se um produtor de 60 anos ficar com gripe? Ele não vai ficar em casa esperando passar. O que a Secretaria de Saúde vai fazer para esse público?”, cobrou.

Segurança - Por fim, o deputado Sargento Rodrigues (PTB) criticou o veto do governador à recomposição dos vencimentos da segurança pública. Ele recapitulou os passos da negociação, com secretários de Estado, comandantes das forças de segurança e deputados estaduais e federais, para se chegar ao texto do Projeto de Lei (PL) 1.451/20, referente a essa recomposição.

“Foi fechado o acordo com 30 pessoas apoiando esse texto. Em fevereiro, foi aprovado o projeto com 66 votos. No dia 20, o projeto foi enviado para sanção”, registrou. O deputado afirmou ter ficado surpreso com o veto e disse que Romeu Zema não tem palavra nem compromisso. “Faço um apelo aos líderes, para que derrubemos esse veto vergonhoso. Isso não se faz, governador”, censurou.

Coronel Sandro também condenou a atitude do governador. Ele lembrou que foi realizada reunião na ALMG para tratar do assunto, nesta terça-feira (16), seguida de manifestação de servidores da segurança nas proximidades da Assembleia.