Deputados reforçaram importância do Consea-MG e defenderam fortalecimento das políticas de segurança alimentar
Élido Bonomo teme que fim do Consea gere repercussão negativa nos órgãos estaduais
Extinção do Consea ameaça segurança alimentar, segundo especialistas

Extinção do Consea Nacional é alvo de protestos

Medida causa temor de efeito cascata em órgãos estaduais. Mudança de secretaria do Consea-MG também gera preocupação.

27/03/2019 - 19:55 - Atualizado em 28/03/2019 - 11:45

Protestos contra a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) dominaram os debates na audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que aconteceu na tarde desta quarta-feira (27/3/19).

Representantes de entidades governamentais e da sociedade civil discutiram também a mudança do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável de Minas Gerais (Consea-MG), que deverá fazer parte, de agora em diante, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese).

Atualmente, o órgão está vinculado à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A mudança consta de substitutivo apresentado pelo governo ao Projeto de Lei (PL) 367/19, que traz a reforma administrativa do Estado.

O secretário-adjunto da Seapa, Amarildo José Brumano Kalil, pontuou que, a princípio, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) receberia o Consea-MG, e eles chegaram a preparar um espaço na instituição para acomodar o conselho.

“Não sabemos o porquê dessa mudança, mas não somos nós quem decidimos. Precisamos encontrar uma forma de fazer as políticas públicas de segurança alimentar chegarem a quem precisa. O desafio da universalização é o fato de que esse é um tema transversal a todas as secretarias”, explicou.

Pioneirismo - O presidente do Consea-MG, Élido Bonomo, explicou a importância e pioneirismo do Conselho, o primeiro a elaborar uma lei orgânica estadual de segurança alimentar, inspirando outros estados, bem como a elaboração da legislação nacional sobre o assunto. Segundo ele, apesar de a extinção do órgão nacional não ter uma repercussão direta nos estados, pois cada um tem sua legislação própria, as implicações políticas disso são muito grandes.

“Se o governo diz que o Consea burocratiza a administração pública, é claro que isso pode ter um efeito dominó. O que o Conselho faz é justamente o contrário, assessorando a administração pública a entender com o que gastar e como atingir o público que precisa. O Plano de Segurança Alimentar reflete a diversidade da sociedade brasileira, tendo as perspectivas dos pesquisadores, de quem passa fome, de todos os envolvidos nos problemas”, explicou.

Élido Bonomo explicou ainda que, sem esse espaço de diálogo, a tendência é que o Plano não seja cumprido nem as metas atingidas.

“Felizmente, 12% das emendas parlamentares apresentadas este ano foram relacionadas à não extinção do Consea e nenhum estado extinguiu o seu Conselho. Acreditamos que podemos reverter esse quadro em nível nacional. Mas no Estado, se vamos mesmo para a Sedese, precisamos de algumas coisas, pois no Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG) constam conferências regionais e temos quase 200 agentes em 17 territórios do Estado, com potencial de produzir política pública a custo zero para o Estado. Estamos dispostos a cumprir todas as metas propostas e iniciar o Plano Plurianual 2020-2023”, pontuou.

Da articulação Mulheres no Campo, Ana Cristina Alvarenga também defendeu não apenas a continuidade do Consea Nacional, mas o seu fortalecimento.

“A equipe guardiã do programa foi desarticulada e precisa retomar seus fortes laços regionais. A produção dos pequenos agricultores precisa chegar às escolas, ao consumidor final nas feiras, e essas políticas estão distribuídas por várias secretarias. Daí a dificuldade do Conselho ir para uma secretaria mais finalística como a Sedese, que tem dificuldade de articulação geral”.

Fortalecimento da segurança alimentar é defendido

Parlamentares presentes à reunião manifestaram repúdio à extinção do Conselho Nacional e reforçaram a importância do Consea-MG. As deputadas Leninha (PT), Andréia de Jesus (PSOL) e Beatriz Cerqueira (PT) reforçaram a necessidade de diálogo com o governo estadual, para a apresentação de propostas estaduais que contemplem a segurança alimentar.

“Precisamos fortalecer quem coloca comida na nossa mesa. O agronegócio não faz isso, mas sim a agricultura familiar. Precisamos rever isso na reforma administrativa, a secretaria de desenvolvimento agrário não deveria ser extinta também”, lembrou Beatriz Cerqueira.

Os deputados André Quintão e Betão (ambos do PT) lembraram a postura de presidentes anteriores quanto à segurança alimentar, dando destaque ao “Fome Zero” e lembrando quando o Brasil saiu do Mapa da Fome.

Eles também se manifestaram contrariamente à reforma da previdência. “Em nível estadual, é bom lembrar que a reforma administrativa não será votada sem que haja acordo em torno de certos temas e a segurança alimentar é um deles”, reforçou André Quintão.

Consulte o resultado da reunião.