Parlamentares manifestaram apoio aos servidores da Escola de Saúde Pública, que exigem autonomia
Segundo Fernanda Maciel, corpo técnico da escola já se organizou para reduzir despesas
Parlamentares acreditam que matéria deve ser melhor analisada com quem for afetado pela medida
Perda de autonomia da Escola de Saúde é preocupação de professores, alunos e deputados

Retirada do PL 368/19 é defendida em audiência

O projeto de lei, que compõe a reforma administrativa, incorpora a Escola de Saúde Pública à Secretaria de Saúde.

27/02/2019 - 17:38

Participantes de audiência da Comissão de Saúde, nesta quarta-feira (27/2/19), reivindicaram a retirada de tramitação, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), do Projeto de Lei (PL) 368/19, que pretende incorporar a Escola de Saúde Pública do Estado à Secretaria de Saúde. Eles argumentam que a alteração, proposta pelo Executivo, comprometeria a atuação da instituição ao suprimir sua autonomia administrativa e financeira.

A medida faz parte da reforma administrativa encaminhada à ALMG, no último dia 6, pelo governador Romeu Zema. De acordo com a justificativa da proposição, o objetivo é garantir maior alcance e efetividade no desenvolvimento de políticas públicas referentes ao ensino, à educação, à pesquisa e ao desenvolvimento institucional e de recursos humanos no Sistema Único de Saúde (SUS).

No entanto, a diretora-geral da instituição, Lenira de Araújo Maia, afirmou que a incorporação da escola à Secretaria de Saúde não cumprirá essa finalidade: “Pelo contrário, pode representar a perda do seu objeto”. Ela explica que a missão da unidade de ensino é atuar na formação e capacitação dos profissionais de saúde da rede pública (com a oferta de cursos de pós-graduação, técnicos e livres), já a da secretaria é prestar assistência aos usuários. “Podemos ser menor do ponto de vista da estrutura, mas não em nossa finalidade”, afirma a gestora.

O argumento do Executivo de que a medida reduziria os custos da instituição foi rebatido por Fernanda Jorge Maciel, representante dos servidores da escola. Segundo ela, o corpo técnico está ciente da crise econômica pela qual passa o Estado. Por isso, já se organizou para tomar medidas de redução das despesas, inclusive promovendo o enxugamento da estrutura de cargos.

Conforme dados apresentados pela servidora, o cenário formulado pela escola de saúde representaria a economia de R$ 211 mil a mais que o previsto pelo Executivo, preservando-se o caráter autônomo da escola.

Ainda de acordo com Fernanda Maciel, é possível comparar os dois modelos já vivenciados pela instituição: o de vinculação à estrutura da Secretaria de Saúde e o de independência administrativa e financeira. Ela afirmou que a avaliação dos dois contextos permitiu atestar que, desde 2007, quando a escola alcançou sua autonomia, foram ampliadas as ações da unidade.

Certificações – A servidora lembrou que a Escola Pública de Saúde é a única do Estado e que, com a incorporação pela secretaria, estaria impedida de realizar, por exemplo, a emissão de certificados de capacitação. Isso porque o órgão, pela própria natureza de suas atribuições legais, não poderia assumir para si essa competência.

Gestores do Executivo garantem que proposta não trará prejuízos

Representantes do Executivo defenderam a proposta de incorporação da escola e asseguraram que o objetivo do Estado é otimizar e racionalizar recursos. O secretário adjunto de Saúde, Bernardo Ramos, disse que não está em pauta a extinção da unidade nem tampouco a desvalorização das atividades ou dos servidores.

Com a reforma, a autonomia dos profissionais que atuam na qualificação dos servidores da rede pública de saúde não muda, afirmou Ramos. Ele frisou que a incorporação é apenas um processo de adequação administrativa e que a manutenção dos serviços prestados está garantida.

Kênnya Kreppel Dias Duarte, subsecretária de Gestão de Pessoas da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, também afirmou que a autonomia da escola não está em risco. Segundo ela, as regras de funcionamento para a secretaria e para a instituição são as mesmas. “Em outros estados, o credenciamento técnico de instâncias de capacitação acontece dessa forma”, ressaltou.

Sobre as certificações, o secretário adjunto explicou que o impasse pode ser solucionado com o estabelecimento de parceria com a Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), dentre outras.

Parlamentares defendem independência da escola

A manutenção da autonomia da Escola Pública de Saúde também foi defendida pelos parlamentares presentes. Doutor Jean Freire (PT), deputado que solicitou a realização da reunião, afirmou que a capacidade de atuação da escola, de fato, foi alargada após adquirir autonomia e isso não representou necessariamente aumento de despesas. “Recursos aplicados na saúde são investimentos”, declara.

Marília Campos, Beatriz Cerqueira e André Quintão (todos do PT), Cleitinho Azevedo (PPS) e Doutor Paulo (Patri) manifestaram apoio à posição assumida pelos servidores e solicitaram a retirada de tramitação do PL 368/19. Para eles, o projeto deve ser melhor analisado e discutido com aqueles que serão diretamente afetados pela medida.

O presidente da comissão, Carlos Pimenta (PDT), disse que a construção de consenso em torno da questão é fundamental, sobretudo com a participação das entidades sindicais que representam os servidores. Nesse sentido, Núbia Roberta Dias, diretora do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais, concordou com o parlamentar: “Prezamos uma gestão participativa, sabemos da importância da otimização dos recursos, mas a decisão não pode ser tomada de cima para baixo”.

Transparência – Já o deputado Guilherme da Cunha (Novo), relator da reforma administrativa na Comissão de Constituição e Justiça, assegurou que a tramitação dos projetos (também compõe a proposta o PL 367/19) vai se pautar na transparência. Ele disse que não seria necessário retirar a proposição, pois o processo legislativo permite justamente o aperfeiçoamento do texto. Para tanto, ele se comprometeu a ouvir e ponderar as contribuições da categoria e dos parlamentares na elaboração do seu parecer. 

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