Projeto é oportunidade de promover reflexões e exercitar discussões democráticas entre os jovens - Arquivo ALMG
Vítima de preconceito racial, Claudiane acha que discutir o assunto é urgente
Giovana valoriza a oportunidade dada pelo PJ de ouvir argumentos diferentes

Temas do PJ Minas estão no cotidiano dos participantes

Assuntos debatidos, escolhidos pelos próprios estudantes, favorecem mobilização em torno do projeto.

24/09/2018 - 16:05 - Atualizado em 24/09/2018 - 17:00

Projeto de formação política da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), promovido pela Escola do Legislativo em parceria com câmaras municipais, o Parlamento Jovem de Minas ganha mais adesões a cada ano.

E não só por causa da vontade de estudantes de todo o Estado de conhecerem mais a fundo o processo político. Os temas de cada edição, escolhidos, em votação, pelos próprios participantes, são tangíveis no dia a dia de jovens inconformados com problemas arraigados na nossa sociedade.

Em 2018, ano em que o PJ Minas completou 15 anos, o tema abordado foi a violência contra a mulher. “Na minha cidade, tive contato com uma emigrante que foi agredida pelo marido, mas resolveu não denunciá-lo, por depender financeiramente dele e não ter para onde ir”, contou Giovana Moreira, de 17 anos, aluna da Escola Estadual Monsenhor José Paulino, de Pouso Alegre (Sul de Minas), ao defender uma das propostas aprovadas na plenária final, realizada na última sexta-feira (21).

Trata-se da instalação, em diversas regiões do Estado, da Casa Mulher Brasileira - um abrigo provisório para mulheres vítimas de violência e seus dependentes.

“Os alunos trouxeram muitos relatos de pessoas próximas que já passaram por este problema, como familiares e vizinhos. Outros se interessaram por achar que essa discussão era exagerada e saíram com outra cabeça. O tema trouxe muita reflexão”, relatou Leandra Freitas, coordenadora do Parlamento Jovem na Escola do Legislativo.

Na edição de 2019, os debates se darão em torno do preconceito racial, um assunto bem familiar para Claudiane Gonçalves, de 18 anos, aluna do Colégio Apogeu, de Juiz de Fora (Zona da Mata). Como tantas outras mulheres negras, ela já passou por diversas situações de constrangimento por causa da cor da sua pele.

Algumas dessas experiências abrangem o acompanhamento atento de seguranças enquanto analisava produtos em uma loja de varejo e o tratamento diferenciado que observa ao alisar seus cabelos ou frequentar estabelecimentos comerciais com ou sem o uniforme de seu colégio, particular e reconhecido na cidade.

“É muito triste que ainda tenhamos que discutir o preconceito, mas urgente”, ressaltou Claudiane. A mesma opinião foi compartilhada por Thales Leonardo Santos, de 16 anos, aluno da Escola Estadual São João Batista, de Itamarandiba (Jequitinhonha/Mucuri).

“Temos que trabalhar esses conceitos sociais nas escolas, com os jovens. Desconstruir concepções já estabelecidas de pessoas mais velhas é muito mais difícil”, salientou.

Câmaras têm cada vez mais autonomia

Nesse processo de mobilização e preparação dos estudantes para as discussões, a Escola do Legislativo investe no fortalecimento da gestão compartilhada do projeto. Por meio de um módulo online, as coordenações municipais, dos polos regionais e estadual dividem dados sobre o trabalho desenvolvido e trocam experiências.

O próprio regulamento-geral do PJ Minas foi construído para favorecer a descentralização de ações. Segundo Leandra Freitas, da Escola do Legislativo, o resultado já é visível. “Antes, as câmaras municipais recorriam muito mais à coordenação estadual para embasar e tomar suas decisões”, explica.

Edelways Faria, por exemplo, coordenadora no município de Belo Horizonte e também responsável pelo Polo Metropolitano I, agregou inovações às atividades realizadas com os estudantes.

Os interessados em representar o polo na etapa estadual puderam organizar sua “propaganda política”, por meio de vídeos no WhatsApp e no Facebook, para convencer seus colegas, que fizeram suas escolhas em uma eleição com direito a cédulas de votação.

Em Belo Horizonte, as oficinas de formação temática e política, antes desenvolvidas nas próprias escolas, foram realizadas na Câmara Municipal (CMBH), com a reunião e consequente interação dos participantes e o apoio do corpo técnico especializado da instituição.

No próximo ano, será oferecida aos estudantes uma oficina de participação popular para ensiná-los, entre outras coisas, a acompanhar a tramitação das propostas de ação legislativa oriundas do Parlamento Jovem na CMBH e na ALMG.

Em Camanducaia (Sul de Minas), os estudantes tiveram acesso a cursos de teatro e oratória para desenvolverem suas habilidades de comunicação, como relatou a coordenadora Dilma Lopes. “No início do processo de formação, eles ainda não sabem muita coisa sobre o tema. No entanto, ao final, dão um baile na gente, com um conhecimento mais aprofundado inclusive sobre as leis”, observa.

Projeto mexe com estudantes e coordenadores

O resultado de toda essa trajetória, resumido na plenária final, na ALMG, emociona tanto estudantes quanto os responsáveis pelo projeto e deixa claro que tudo valeu a pena.

“Já chorei duas vezes hoje. Ver a dimensão do Parlamento Jovem, essa movimentação de estudantes, dá vontade de mobilizar todo mundo nas nossas cidades para participar”, extravasou Dilma Lopes, que participou pela primeira vez da plenária final. 

“Está sendo incrível, conheci muita gente legal e também fiquei impressionado com a estrutura da Assembleia, que não conhecia. Se pudesse, já ficaria aqui para o próximo ano”, destacou Thales Santos, de Itamarandiba.

Giovana Moreira, de Pouso Alegre, acredita estar agora muito mais preparada para um debate. “Ouvir argumentos diferentes, nesse processo democrático, me deixou mais aberta para novas ideias”, afirmou.

Na mesma linha, Claudiane Gonçalves, de Juiz de Fora, ressaltou ter percebido até mesmo processos típicos da política serem replicados no Parlamento Jovem, como a formação de chapas e a negociação entre os diferentes grupos para a aprovação de propostas. “A melhor coisa que fiz este ano foi entrar no projeto”, resumiu.

Edição 2018 - Com a aprovação de 12 propostas na plenária final, foi encerrada, nesta sexta-feira (21), a 15ª edição do Parlamento Jovem de Minas 2018. As propostas compõem o documento final do encontro e foram entregues à gerente-geral da Escola do Legislativo, Ruth Schmitz, que as encaminhará para a Comissão de Participação Popular.

O PJ Minas deste ano teve a participação de jovens de 81 municípios, inseridos nos 16 polos regionais.