Comissão de Segurança Pública constatou situação precária da Aisp localizada na Serra, em Belo Horizonte
Documentos importantes foram deixados para trás no prédio da antiga Aisp, hoje relegada ao abandono

Aglomerado da Serra tem unidade policial fechada e sucateada

Situação verificada por comissão durante visita estaria pondo em risco militares destacados para vigilância noturna.

04/09/2018 - 15:24

Paredes e tetos com rebocos se soltando, lixo acumulado pelos cantos, janelas quebradas, baratas. Esse foi o cenário encontrado nesta terça-feira (4/9/18) pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em visita feita à sede da Área Integrada de Segurança Pública (Aisp) no Bairro Serra, em Belo Horizonte.

O presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PTB), lembrou que o desmonte progressivo da Aisp já havia sido constatado em visita anterior, mas frisou que, desta vez, a preocupação maior da nova ida ao imóvel era averiguar denúncia de que dois policiais militares tem sido obrigados a vigiar o prédio sozinhos, no período noturno, em condições insalubres e submetidos a riscos com a própria segurança.

"Nem mesmo um vigilante noturno de empresa privada ficaria aqui nessa situação", frisou o parlamentar ao percorrer o imóvel, uma instalação de três andares localizada no Aglomerado da Serra e que foi encontrada fechada à população e sem servidores.

O parlamentar, que solicitou a visita junto com os deputados João Leite (PSDB) e Coronel Piccinini (PSB), disse que o comando da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), além de não se fazer presente, havia insistido para que a comissão também não fosse ao local nesta terça (4), alegando que o prédio já teria sido fechado há dois meses.

Justamente por isso, e diante das condições encontradas, é que a comissão vai solicitar a retirada imediata dos policiais destacados para vigiar o prédio das 20 horas às 6 horas, conforme ressaltou Sargento Rodrigues, criticando a justificativa de que a vigilância visa a evitar depredações ou invasões.

"Estão colocando dois militares para guardar um prédio totalmente depredado, sem banheiro ou cozinha funcionando direito e à mercê de riscos", criticou o deputado.

Devolução - Conforme argumentou o tenente PM Beltrão, que esteve no local e abriu o prédio para a visita, durante o dia a unidade serviria atualmente apenas como uma base para viaturas que rondam a região, ficando sob vigilância à noite até que a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) se posicione sobre ofício encaminhado à pasta pela PMMG.

Segundo o militar, no ofício, a corporação informaria à Seplag que o imóvel não está mais sendo utilizado e que, dessa forma, estaria aguardando providências para a devolução do prédio ao Estado.

Comissão vê falta de efetivo e abandono também de documentos

Durante a visita, também chamou a atenção da comissão a quantidade de documentos deixados para trás no prédio da então Aisp, como livros de registros e anotações, e também folhas timbradas contendo registros coletados por meio do 181 - Disque Denúncia.  Disponibilizado à população, o serviço recebe denúncias anônimas de crimes e sinistros, por meio de ligações do cidadão.

"Um abandono a mais, de documentos jogados, quando se deveria é manter o sigilo", condenou o deputado.

Segundo expôs Sargento Rodrigues, o desmantelamento da Aisp da Serra vem se dando desde o final de 2015, quando a Polícia Civil deixou a unidade. Isso porque as Aisps foram concebidas para agregar, de forma compartilhada, unidades da Polícia Militar e uma Delegacia de Polícia Civil operando num mesmo espaço, para maior integração e proximidade com a comunidade.

Para Sargento Rodrigues, a situação constatada decorre da falta de efetivo que atingiria muitas unidades no Estado e que, na sua avaliação, decorre da má gestão e da falta de planejamento da administração estadual.

Conforme o deputado, o Governo do Estado assumiu prometendo que 12 mil novos policiais militares e civis seriam incorporados ao efetivo, mas, entre 2015 e 2017, teria ocorrido o contrário, com a aposentadoria de 6 mil militares e outros 1,3 mil civis.

"Temos hoje um déficit de 6 a 8 mil homens no Estado", afirmou Sargento Rodrigues, também condenando o fato de uma região como o Aglomerado da Serra, onde vivem cerca de 50 mil pessoas, não dispor mais de uma área integrada de segurança pública.

O sargento BM Alexandre Rodrigues, presidente da Associação de Servidores do Corpo de Bombeiros e Polícia Militar do Estado de Minas Gerais (Ascobom), acompanhou a visita e classificou de insalubre a condição do imóvel.

Vistorias - A visita à Aisp da Serra faz parte de uma série de visitas às unidades da Polícia Militar, da Polícia Civil, dos Bombeiros Militares, do sistema prisional e do sistema socioeducativo propostas pela comissão. 

Em 21 de agosto, a comissão esteve no Instituto de Criminalística da Polícia Civil, constatando problemas como defasagem de pessoal e deficiência na infraestrutura.