O grupo Alegria e Companhia apresentou
A programação da Semana de Conscientização sobre o Autismo contou com oficinas e exposições
Maya Rubinger só descobriu que tinha síndrome de Asperger há dois anos

Autistas mostram seu potencial na ALMG

Programação da semana de conscientização sobre esse transtorno enfatiza o respeito e a valorização de quem é diferente.

05/04/2018 - 15:29

Pessoas com transtornos do espectro do autismo (TEA) têm muitas habilidades e podem estudar, trabalhar, aprender idiomas, dançar, atuar, fotografar, entre outras infinitas possibilidades. A programação da Semana de Conscientização sobre o Autismo, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quinta-feira (5/4/18), começou com uma apresentação do grupo de teatro Alegria e Companhia, do Centro Especializado Nossa Senhora Aparecida (Censa), no Auditório José Alencar.

O grupo reúne adultos autistas e pessoas com deficiência com alto grau de dependência, mas que, atuando, encontraram seu papel na sociedade, como explicou a diretora do Censa, Natália Costa.

O pequeno espetáculo, intitulado "O patinho Diferente", é uma releitura do clássico "Patinho Feio" e termina com a seguinte frase, dita por um dos atores: "Qual é a moral da história? Respeitem as diferenças!". Na plateia, psicólogos, pedagogos, mães orgulhosas, olhares curiosos e emocionados de todos.

A abertura oficial das atividades do dia foi feita pelo presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, deputado Duarte Bechir (PSD). Ele destacou a importância de reunir aqueles que hoje trabalham para dar suporte às pessoas com necessidades especiais, sejam elas autistas ou não, para conhecer as dificuldades, os avanços e os recursos disponíveis na luta pela inclusão social.

Apoio - A presidente da Associação da Síndrome de Asperger no Transtorno do Espectro do Autismo (ASA TEA-MG), Isabel Barros, falou sobre a importância da ajuda mútua e do incentivo às mães que enfretam dificuldades com seus filhos.

Uma parte da batalha, segundo ela, é para que o poder público ofereça alternativas de suporte a essas pessoas. "Infelizmente, nem todas as famílias têm condições financeiras para oferecer atividades e tratamentos particulares e caros, para que o autista desenvolva seu potencial e seja, de fato, incluído na sociedade", afirmou.

Incluir é diferente de inserir

As atividades da Semana de Conscientização sobre o Autismo nesta quinta (5) também incluiram palestras, oficinas de musicoterapia, rodas de conversa, exposições de fotos e desenhos e até lançamento de um livro escrito por Pedro Enir Couto, autista de 28 anos. 

A Prefeitura de Belo Horizonte, representada pela diretora de Educação Inclusiva e Diversidade Étnico-Racial da Secretaria Municipal de Educação, Patrícia Cunha, trouxe algumas professoras que trabalham com atendimento educacional especializado e uma mostra de materiais pedagógicos usados como estratégias de acessibilidade nas salas especializadas das escolas municipais da Capital.

Em uma das rodas de conversa, a escritora e palestrante Michele Malab, que também tem um filho com TEA, destacou a importância de entender que cada autista tem características próprias, que devem ser respeitadas. Para ela, se a criança não quer participar de uma apresentação na escola, por exemplo, não se pode forçá-la. "Incluir é diferente de inserir", esclareceu.

Outro assunto muito recorrente na conversa, da qual participaram mães e profissionais envolvidos com o autismo, foi o papel do auxiliar ou acompanhante da criança. Quando o aluno autista tem essa pessoa que a acompanha na escola em tempo integral, é preciso ter cuidado, para que ela não fique muito dependente ou estigmatizada pelo simples fato de ter uma "sombra" ao lado dela o tempo todo, conforme enfatizou Michele.

Outro problema, na opinião dela, é que a rede pública muitas vezes oferece como apoio pessoas que não têm formação pedagógica para desempenhar uma função tão importante.

Conhecer o transtorno fez Maya se encontrar

Uma das dificuldades que envolvem o TEA é justamente a dificuldade do diagnóstico, uma vez que as características podem variar muito de um indivíduo para o outro. A história de Maya Rubinger, que expôs fotografias e textos de sua autoria na ALMG, comprova que esse diagnóstico pode ser bem tardio.

Já nasceu diferente, como ela mesma conta. A mãe não conseguiu amamentá-la. Quase não dormia, não gostava de ser levada ao colo, ficava agressiva e chorava o tempo todo. Quando completou um ano de idade, começou a tomar Gardenal, sempre teve muita dificuldade na escola. Aos 10 anos, foi diagnosticada com depressão, fez vários tipos de terapia e passou longos anos dependente de antidepressivos e ansiolíticos.

Há dois anos, após assistir a um documentário sobre TEA, Maya, hoje com 40 anos, descobriu que aquele podia ser o seu problema. Procurou especialistas e teve o diagnóstico confirmado de síndrome de Asperger (também conhecida como autismo de alto funcionamento, em que se verifica inteligência considerada normal ou superior à media).

Depois disso, trocou a medicação, conheceu a ASA TEA e "se encontrou". Depois de desistir de várias profissões, Maya fez um curso de fotografia, conseguiu vencer a timidez excessiva, começou a fazer amigos e agora também prepara um livro de poemas.