A audiência pública faz parte da Semana de Conscientização sobre o Autismo, promovida pela ALMG e 32 entidades parceiras
Segundo Lídia de Lima Prata (centro), existem mais crianças com autismo do que com diabetes
Deborah Akerman listou as seguranças básicas a serem asseguradas pela assistência social
Inclusão social é uma das barreiras para desenvolvimento das pessoas com autismo

Superar estigma é desafio para pessoas com autismo

Comissão da Pessoa com Deficiência apresenta ações para retirar barreiras à integração dessas pessoas à sociedade.

04/04/2018 - 19:59

O depoimento de uma mãe de duas pessoas com autismo emocionou os participantes da audiência pública desta quarta-feira (4/4/18) da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Solicitada pelo presidente da comissão, deputado Duarte Bechir (PSD), a reunião foi um painel em que pessoas que lidam com autistas apresentaram iniciativas visando eliminar barreiras à participação social deste segmento.

Aos prantos, Maria Helena de Azevedo Roscoe, presidente da Associação de Amigos do Autista de Minas Gerais (AMA), disse que “o estigma em relação ao transtorno mental é muito forte”. Ela acrescentou que, quando fazia faculdade de medicina, diziam que as mães é que causavam autismo nos filhos.

“Nosso percurso é muito árduo”, desabafou ela, enfatizando que a pessoa com autismo é um cidadão que deve ter todos os seus direitos garantidos. Essa é a grande luta que ela vem travando nos seus 15 anos de militância em prol da causa. “Somos um movimento de famílias de pessoas com autismo que luta por políticas para esse público”, reforçou.

Ela enfatizou a necessidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) se estruturar melhor para fazer o diagnóstico precoce do autismo. “Se o transtorno for identificado mais precocemente na criança, ela pode ter um desenvolvimento mais favorável”, lembrou.

Maria Helena também defendeu um atendimento mais empático para essas pessoas. “Observar o ponto de vista do outro não é tarefa fácil para ninguém, mas é necessário não só para o autista, mas para a sociedade como um todo”, disse.

Transtorno afeta comunicação e comportamento

Abordando o que caracteriza o autismo, a psicóloga Lídia de Lima Prata alertou que se tem observado mais traços desse transtorno na população em geral. “Isso é alarmante: hoje, há mais crianças com autismo do que com diabetes”, frisou.

Ela afirmou que as alterações provocadas pelo autismo ocorrem em dois domínios: da comunicação social e do comportamento. Na primeira, observa-se a ausência de fala, em grau acentuado, ou a dificuldade de se comunicar com clareza e de entender metáforas, em um nível mais brando.

Outra dificuldade é de socialização, pois os autistas não conseguem olhar nos olhos. “Eles querem ter amigos e não sabem o que fazer; só se sentem rejeitados”, completou Lídia. Nota-se também um interesse muito intenso em determinado tema e a necessidade de repetir rituais. “Isso acaba prejudicando a capacidade de planejamento desses indivíduos, que têm grande dificuldade de parar de fazer uma coisa de que gosta para fazer outra de que precisa”, explicou.

Segundo a psicóloga, o cérebro do autista funciona de forma diferente do das demais pessoas, o que não deve impedir a convivência. “O que importa é sabermos identificar as diferenças e conviver com elas”, apontou. “O mundo precisa de todo tipo de mentes: para um psicologo é melhor ter muita empatia; já para um engenheiro é preciso ter um olhar de detalhe”, concluiu.

Avanços - O deputado Duarte Bechir lembrou que a audiência desta quarta faz parte das comemorações da Semana de Conscientização sobre o Autismo, promovida pela ALMG e 32 entidades parceiras. Ele comemorou alguns resultados de reuniões promovidas esta semana na Assembleia sobre o tema.

Um deles foi a proposta, feita pelo Tribunal de Justiça, de instalação de um Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania na sede da ALMG. Outro foi a criação do Fórum Permanente de Defesa da Pessoa com Deficiência, com a participação da Defensoria e do Ministério Públicos, entre outros órgãos.

Estado e PBH mostram ações para autistas

Deborah Akerman, superintendente de Proteção Social Básica e Gestão do Suas da Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), afirmou que a política de assistência social é relativamente nova e ainda pouco compreendida. Ela enumerou as cinco seguranças básicas a serem asseguradas por essa política:

  • Convivência familiar e comunitária (para pessoas que estão segregadas, como idosos);
  • Renda (para beneficiar famílias com renda de até um quarto do salário mínimo per capita);
  • Autonomia (garantida pelos centros de convivência ou em locais de acolhimento);
  • Acolhida (em territórios em situações de risco, oferecendo alojamentos para famílias);
  • Sobrevivência a riscos circunstanciais (oferta de auxílios material e financeiro em caráter transitório).

Essas seguranças, segundo a gestora, são garantidas, em sua maioria, pelos Centros de Referência da Assistência Social (Cras). Há também os Centros Dia, nos quais pessoas com deficiência podem passar o dia, permitindo aos pais realizarem outras atividades.

Outro programa é a Rede Cuidar, criada em 2017, que permite o repasse transparente de recursos da política pública.

“Repassamos R$ 30 mil para cada instituição, para construir rampas, criar convivência e melhorar a qualidade dessas entidades”, anunciou.

BH - Já André Luiz de Menezes, gerente da Rede Complementar da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, destacou que a Prefeitura conta com psiquiatras infantis em todas as regionais. Isso, de acordo com ele, permite o diagnóstico precoce do autismo e o encaminhamento da criança para o serviço adequado.

Consulte o resultado da reunião.