Projeto Narrativas inaugurou o gênero documentários na programação da TV Assembleia

Documentário da TV Assembleia conquista novo prêmio

Produção sobre episódio em Governador Valadares que antecedeu o golpe de 1964 ganha Prêmio Mineiro de Direitos Humanos.

11/12/2017 - 12:59

O documentário Na Lei ou na Marra: 1964, um combate antes do golpe, da TV Assembleia, venceu mais um prêmio. Após ter conquistado em 2014 o 36º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, um dos mais prestigiados do País, a produção recebeu o reconhecimento do Prêmio Mineiro de Direitos Humanos.

A cerimônia de entrega da homenagem será realizada durante a 1ª Mostra de Direitos Humanos da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania (Sedpac). A premiação acontecerá nesta quarta-feira (13/12/17), às 19 horas, na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte.

O Prêmio Mineiro de Direitos Humanos, que neste ano tem como tema “Mídia e Direitos Humanos”, está em sua terceira edição. Em 2017, comunicadores de diversas regiões do Estado serão homenageados por terem contribuído para a promoção e defesa do tema. Além do documentário da TV Assembleia, na mesma categoria foi contemplada uma produção da Rede Minas.

A programação da mostra, com exposições, oficinas, rodas de conversa e atividades culturais, acontece nesta quarta (13) e quinta (14), com o objetivo de despertar reflexões sobre o papel dos direitos humanos na construção de uma sociedade igualitária.

O documentário Na Lei ou na Marra, que integra o projeto Narrativas, foi exibido pela primeira vez no dia 31 de março de 2014, como parte de uma extensa programação da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para lembrar os 50 anos do golpe de 1964.

Com a conquista de mais um prêmio, ele será reprisado na programação da TV Assembleia nesta quarta (13), às 20 horas, e no próximo sábado (16), às 15 horas.

Golpe - A obra conta como, em 30 de março de 1964, milícias lideradas por fazendeiros atacaram as sedes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Governador Valadares (Vale do Rio Doce) e do jornal O Combate, que apoiavam a luta dos lavradores pela reforma agrária.

O fato foi emblemático da escalada de tensões que antecederam o golpe e da onda de perseguições que se estendeu com a tomada do poder pelos militares, situação que se repetiu em diversas regiões do País.

O episódio é ainda pouco conhecido e divulgado pela história oficial. Para a realização do documentário, a equipe da TV Assembleia conseguiu localizar um personagem central da trama, o ex-presidente do sindicato, Francisco Raymundo da Paixão, o “Chicão”, que ainda hoje prefere manter seu paradeiro no anonimato.

Também foi levado de volta a Governador Valadares o jornalista Carlos Olavo da Cunha Pereira, fundador de O Combate, que reviveu os lances históricos vividos às vésperas do golpe militar.

O conflito no Vale do Rio Doce refletiu a atmosfera de tensão político-social no campo em todo o País na década de 1960. Foi uma época de protestos e marchas organizados por associações, sindicatos e ligas dos camponeses e violenta reação dos latifundiários às propostas de reforma agrária anunciadas pelo presidente João Goulart.

O documentário traz ainda o olhar de historiadores sobre a violência dos conflitos agrários. A região de Valadares era estratégica por ser uma das últimas fronteiras agrícolas do País e Chicão chegou a ser recebido por João Goulart, defensor da reforma agrária.

Na outra ponta, as lideranças dos fazendeiros da região também procuraram Carlos Lacerda, então governador do Rio de Janeiro e um dos principais expoentes da oposição que apoiou o golpe de 1964, o que exemplifica a crescente tensão por todo o País na época.

Pesquisa - “Foi preciso muita pesquisa para ir atrás dessa história, que tinha poucos registros. Há um livro escrito pelo jornalista, mas ainda não existia um trabalho em vídeo que contasse essa hipótese de que o golpe teve em Valadares a sua primeira violência”, conta Priscila Martins Dionizio, produtora da TV Assembleia.

“Foi uma surpresa muito boa ter um trabalho assim premiado neste contexto de instabilidade democrática. É muito importante reviver agora esse momento da nossa História”, completa Priscila.

Para o também produtor Marcos Barreto, o prêmio é um reconhecimento do investimento feito pela TV Assembleia em trabalhos diferenciados sobre questões hoje em evidência na sociedade brasileira. “Esse olhar atento à questão dos direitos humanos está alinhado com as atividades desenvolvidas pela Assembleia de Minas”, aponta.

Além de Priscila e Marcos, a equipe que coordenou a produção do documentário é formada também por Erick Araújo, Tatiane Fontes e Leandro Matosinhos. Também foi mobilizada boa parte da equipe técnica da TV Assembleia.