Saúde animal deve mobilizar governos
Doutora em Epidemiologia e Manejo de Cães e Gatos destacou iniciativa como fundamental para enfrentamento de zoonoses.
19/10/2017 - 17:57O poder público deve investir na saúde animal para o enfrentamento das zoonoses, doenças infecciosas que são transmitidas dos bichos para o ser humano. A questão foi abordada em audiência pública da Comissão Extraordinária de Proteção dos Animais da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta quinta-feira (19/10/17).
Segundo a doutora em Epidemiologia e Manejo Populacional Ético de Cães e Gatos e diretora de Controle Animal de Itabirito (Região Central do Estado), Ana Liz Ferreira Bastos, as zoonoses representam 75% das doenças infectocontagiosas emergentes no mundo.
Para a veterinária, o conceito de saúde única é importante para lidar com essa realidade. “A saúde única nada mais é do que a ligação humana, animal e do ambiente. Não dá para promover a saúde humana sem que as outras estejam bem”, afirmou.
Ministério - De acordo com Ana Liz Ferreira, doenças que eram consideradas superadas estão retornando porque não há uma política de prevenção. Ela criticou o fato de o Ministério da Saúde não aderir ao conceito de saúde única e não investir recursos para cuidados com animais.
“Está aí a leishmaniose. É preocupante, porque os números são crescentes”, disse, exemplificando também com os casos de febre amarela.
Para a veterinária, a saúde única envolve também o trabalho integrado. Na opinião dela, é relevante que profissionais das áreas de medicina veterinária e humana troquem informações.
Diretora de Controle de Zoonoses relata trabalho em Itabirito
Ana Liz Ferreira enfatizou que, em Itabirito, há um canil que atua nos pilares do recolhimento seletivo, da castração e da adoção.
Além disso, ela contou que um veterinário integra o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), agindo ao lado de outros profissionais que trabalham pela qualidade da atenção básica de saúde. “Esse núcleo trabalha com a prevenção. Ao percorrer as casas, o veterinário pode orientar a população sobre controle, vacinação e prevenção de leishmania”, exemplificou.
A veterinária relatou também que esse trabalho no município envolve, entre outras iniciativas, o apoio a pessoas acumuladoras que, ao guardar muitos objetos, acabam por atrair ratos e baratas.
Desafios - A diretora enfatizou ainda como desafios para que o conceito de saúde única prospere a aceitação de um sistema social composto por animais não-humanos, a integração de serviços de atenção à família, e a elaboração de leis coerentes e com a devida aplicação.
Outros aspectos são a cooperação entre instituições, as subvenções para programas e serviços, e a continuidade de campanhas para controle populacional.
Comissão busca conscientizar gestores
O deputado Noraldino Júnior (PSC), que preside a comissão e foi o autor do requerimento para a audiência, salientou que a Comissão de Proteção dos Animais tem buscado conscientizar gestores públicos municipais para a necessidade de implantar uma política pública voltada aos animais.
“Esse trabalho é muito importante para a prevenção de doenças e para a promoção da saúde pública. Há uma interligação da saúde humana com a animal”, reforçou o parlamentar.
Ele acrescentou que, normalmente, há a preocupação com os animais apenas no controle de epidemias e não anteriormente, de modo preventivo.
O prefeito de Viçosa (Zona da Mata), Ângelo Chequer, relatou que, anteriormente, não havia uma política pública destinada aos animais na cidade. Segundo ele, alguns avanços nesse sentido, como a implantação do Centro de Controle de Zoonozes (CCZ), estão sendo obtidos. “Essa é uma função do poder público. Temos que promover e envolver mais gente nessa causa”, disse.
Foco - A protetora de animais Eliana Malta contou que, ao participar de uma reunião em uma prefeitura, foi enfatizado que o CCZ tem como foco os humanos.
“É preciso olhar o animal como participante desse sistema. Imagine que haja um cão com raiva na cidade. Basta que aconteça um caso para que o CCZ volte os olhos para os animais”, criticou.