A Assembleia de Minas está iluminada com a cor amarela para alertar sobre o suicídio

Suicídio é tema de palestra nesta segunda-feira (18)

Especialista defende que não é preciso ter medo de falar sobre esse tabu, que constitui um problema de saúde pública.

14/09/2017 - 14:22 - Atualizado em 14/09/2017 - 17:51

A palestra “Suicídio: estigma e prevenção”, que acontece nesta segunda-feira (18/9/17), às 10 horas, no Teatro, dá sequência às atividades da campanha Setembro Amarelo, que tem a adesão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Aberta ao público interessado, a palestra também será transmitida ao vivo pela página da ALMG no Facebook, inclusive com a possibilidade do público on-line ter suas perguntas respondidas. A TV Assembleia também vai gravar a conferência e exibi-la ao longo da semana.

Quem vai esclarecer todas as dúvidas sobre o tema é o médico Humberto Correa da Silva Filho, vice-presidente da Associação Mineira de Psiquiatria, professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista no chamado comportamento suicidário.

Segundo ele, oportunidades como essa, de falar abertamente sobre um o assunto considerado tabu, são essenciais para desfazer o estigma e combater efetivamente o problema. “Temos que desfazer, por exemplo, o mito de que quem fala que vai se matar nunca tem coragem de fazê-lo. Isso é mentira. Em quase todos os casos, as pessoas comunicam antes sua intenção”, afirma.

Humberto Filho explica que, em 100% dos casos, o suicídio está ligado a uma doença mental, mesmo que nem sempre facilmente perceptível, sendo a mais comum a depressão. “Mesmo para quem é leigo, é preciso estar atento aos sinais, como tristeza, desânimo, perda do sono e do apetite, pessimismo e, sobretudo, quando a pessoa fala da vontade de morrer”, explica.

Nesses casos, de acordo com Humberto Filho, o primeiro conselho é ouvir e dar crédito a tudo o que essa pessoa tem a dizer. “Deve-se encaminhar a pessoa o mais rápido possível para um profissional de saúde, de preferência um médico psiquiatra, que saberá o que fazer”, aconselha. Ele completa que esse tipo de atendimento pode ser obtido por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Tabu - O especialista lembra que ainda há muita dificuldade em se falar sobre o suicídio, inclusive nos meios de comunicação, apesar de já ser um grave problema de saúde pública. Para os profissionais de comunicação, uma dica é seguir as orientações de entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Associação Brasileira de Psiquiatria.

“Não podemos tratar o tema com sensacionalismo, glamourizando o suicídio, para que quem veja ache que isso também pode ser uma solução para os seus problemas. Mas podemos sempre que possível orientar sobre os sinais, a prevenção e como obter ajuda. Falar de suicídio assim é uma obrigação”, afirma Humberto Filho.

Currículo - Graduado pela UFMG, o médico psiquiatra possui mestrado pela Universidade Louis Pasteur, na França, doutorado pela UFMG e dois pós-doutorados, um pela UFMG e outro pela Faculdade de Medicina Paris Decartes, na França. Além de professor da UFMG, é membro permanente e orientador de mestrado e doutorado nos programas de pós-graduação em Medicina Molecular e Neurociências.

Foi ainda presidente da Rede Mundial de Suicidólogos (2008-2010) e, atualmente, é presidente da Associação Latinoamericana de Suicidologia (2016-2018), presidente da Associação Brasileira para o Estudo e a Prevenção do Suicídio (2015-2018) e vice-presidente da Associação Mineira de Psiquiatria (2011-2017).

Setembro Amarelo – Desde o último dia 8, parte do prédio da ALMG está iluminada de amarelo como sinal da adesão à campanha nacional Setembro Amarelo, que alerta para a importância da prevenção do suicídio. Realizada pelo terceiro ano consecutivo, a iluminação especial no Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira ficará acesa até esta sexta (15).

Números atestam epidemia silenciosa

De acordo com a OMS, no mundo, o suicídio é responsável por mais mortes do que homicídios e guerras juntos. A estimativa é de que, a cada 40 segundos, uma pessoa se mata e, a cada três segundos, uma atenta contra a própria vida.

A cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, da Associação Brasileira de Psiquiatria, cita estudo de 2005 que revela que, estatisticamente, a cada 100 brasileiros, 17 já cogitaram se matar. Desses, cinco fizeram planos para isso e três efetivamente tentaram o suicídio. Uma dessas pessoas, conforme o estudo, chegou a ser atendida em um pronto-socorro.

Estima-se que até 2020 poderá ocorrer um incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio em todo o mundo. Além disso, cada suicídio tem um sério impacto na vida de, pelo menos, outras seis pessoas.

Reincidência - Ainda segundo a cartilha, os dois principais fatores de risco são a tentativa prévia de suicídio e a doença mental. No primeiro caso, é o fator preditivo isolado mais importante. Pacientes que tentaram suicídio previamente têm de cinco a seis vezes mais chances de tentar novamente. Estima-se que 50% daqueles que se suicidaram já haviam tentado previamente.

No segundo caso, quase todos os suicidas tinham uma doença mental, muitas vezes não diagnosticada, frequentemente não tratada ou não tratada de forma adequada.