Militares estariam sofrendo com a falta de pagamento, pelo Estado, das despesas de alguns dos imóveis que fazem parte do Residencial das Américas, em Belo Horizonte
Para Cabo Júlio (à direita), a AGE deve paralisar o despejo até a sanção da lei
Lígia Pereira explicou que o governo não tem cumprido suas obrigações financeiras por falta de recursos

PMs pedem suspensão de ordem de despejo em moradia funcional

Militares aguardam aprovação de projeto que vai alienar os imóveis onde vivem para exercerem preferência de compra.

05/07/2017 - 13:28 - Atualizado em 05/07/2017 - 15:44

Policiais militares e seus familiares solicitaram, aos deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), que as ações de despejo expedidas pelo Judiciário para retirá-los de moradias funcionais, em especial no Residencial das Américas, em Belo Horizonte, sejam suspensas até que o Projeto de Lei (PL) 4.135/17 seja aprovado pela ALMG e sancionado pelo governador.

A solicitação, feita em audiência pública nesta quarta-feira (5/7/17), é justificada porque o projeto, que cria os fundos estaduais de incentivo e financiamento de investimento, traz um dispositivo que aliena imóveis ocupados por militares e estabelece preferência de compra a esses servidores. A matéria aguarda parecer de 2º turno na Comissão de Administração Pública.

Segundo o deputado Cabo Júlio (PMDB), coautor do requerimento para a audiência, os militares vêm sofrendo com a falta de pagamento, pelo Estado, das despesas de alguns dos imóveis que fazem parte do residencial. Com isso, o Poder Judiciário teria autorizado as ordens de despejo, inclusive com permissão para arrombamento.

“Os militares pagam suas contas em dia, mas, como o Estado não arca com as despesas dos imóveis vazios, o valor do condomínio aumenta, não tem como ser pago e, além do risco de despejo, serviços como água e luz estão sendo interrompidos”, disse Cabo Júlio.

O parlamentar, que é o autor de emenda ao PL 4.135/17 que trata da alienação dos imóveis e prioridade de aquisição pelos militares, entende que a Advocacia Geral do Estado (AGE) deve paralisar as ações de despejo até que a lei seja sancionada.

O advogado dos moradores Daniel Igor Mendonça reuniu-se com o Ministério Público, a Secretaria de Estado de Defesa Social e a AGE. Nesse encontro, teria sido acordada a suspensão dos despejos até a aprovação do PL 4.135/17. De acordo com ele, a AGE não teria cumprido o combinado, alegando obrigação jurídica do cumprimento das desocupações.

“O Tribunal de Justiça também entende que os familiares não têm relação legal com o Estado, o que manteve a autorização de desocupação e arrombamento. Precisamos de um novo acordo com o governo”, alertou Daniel.

Policiais e familiares temem perseguições

O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-MG, Willian dos Santos, reforçou a importância da garantia do direito dos militares se manterem nos imóveis que já ocupam, assim como de exercerem a preferência de compra.

Ele afirmou que a situação se repete com outros servidores da área de segurança, como bombeiros e policiais civis. “É preciso ficar atento e evitar perseguições aos denunciantes. Muitos deixaram de participar desta audiência por medo de retaliação”, relatou. Ele também pediu a suspensão de todos os processos até que a lei dos fundos seja sancionada.

O presidente da Associação Central Única dos Militares Estaduais (Cume), sargento Walter Carvalho, lamentou que a categoria esteja tendo seu direito à moradia tolhido e também solicitou a revogação imediata das ordens de despejo e que o Estado doe as moradias funcionais aos servidores.

A representante dos moradores, Dorcas Ferreira de Morais, afirmou que as famílias vêm passando por humilhação e dificuldades. Ela garantiu que os militares não querem o imóvel de graça, mas pedem a preferência na compra. Afirmou, ainda, que eles não vivem nos residenciais funcionais por vontade própria, mas em razão de segurança.

Estado se diz sensível ao problema

A representante da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), Lígia Maria Alves Pereira, explicou que o governo não vem cumprindo suas obrigações financeiras porque vive uma crise financeira severa, mas garantiu que há um esforço para superar essa situação, de forma que o Executivo volte a arcar com suas obrigações.

O assessor da presidência da Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab-MG), Alexandre Fortes, disse que o governador é sensível ao problema. Ele defendeu os servidores da segurança pública e ponderou que uma grande negociação vai encontrar uma solução definitiva para o impasse.

No mesmo sentido, o chefe da seção de Assistência Social da PM, major Fernando de Souza, também afirmou que o comandante-geral da corporação está sensibilizado e colocou-se à disposição para participar das mesas de negociação.

Advogado-geral teria sinalizado suspensão das ordens de despejo

Ao final, Cabo Júlio anunciou ter enviado mensagem ao advogado-geral do Estado, Onofre Alves Batista Júnior, relatando o problema e solicitando a paralisação dos despejos. Como resposta, teria obtido o compromisso de análise dos fatos e posterior suspensão das ações. Ele agendou uma reunião de trabalho para a próxima terça (11), para alinhar as negociações.

O presidente da comissão e também autor do requerimento que motivou o debate, deputado Cristiano Silveira (PT), garantiu que os depoimentos prestados não irão gerar perseguições dentro da Polícia Militar e comprometeu-se a enviar um ofício à AGE reforçando o pedido de suspensão das ações de despejo.

O deputado Carlos Pimenta (PDT) destacou que as moradias em questão resguardam a integridade dos militares e seus familiares.

Consulte o resultado da reunião.