Comissão de Defesa do Consumidor debateu com as primeiras empresas classificadas no ranking de reclamações do Procon Assembleia os problemas apontados pelos clientes
Hermann Bergmann falou que a criação de marco regulatório do setor foi um grande avanço

Telefônicas continuam campeãs de reclamações no Procon

Problemas são solucionados rapidamente apenas em canais específicos para atendimento de órgãos de defesa do consumidor.

31/05/2017 - 19:48 - Atualizado em 01/06/2017 - 10:00

Desde 2014, as empresas de telefonia móvel ocupam seis dos dez primeiros postos no ranking de reclamações do Procon da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). De acordo com o coordenador do órgão, Marcelo Barbosa, apenas os canais específicos para atendimento de entidades de defesa do consumidor avançaram. O assunto foi discutido em reunião da Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte nesta quarta-feira (31/5/17).

Antes de 2014, as financeiras eram, de acordo com Marcelo Barbosa, campeãs de reclamações devido a negociações relativas a cartões de crédito. De lá para cá, as operadoras de telefonia não abandonaram mais o indesejado primeiro lugar.

Naquele ano, a ALMG instalou a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Telefonia que, ao final dos seus trabalhos, assinou com as maiores companhias do setor um termo de compromisso.

Desde então, o cenário não mudou muito, de acordo com o coordenador do Procon. A Oi ocupou o topo da lista de reclamações em 2014 e 2015 e foi ultrapassada pela Vivo nos anos seguintes. As razões das queixas também não teriam se modificado, com a cobrança indevida como maior fonte de problemas.

Marcelo Barbosa destacou que um dos itens do acordo firmado com a ALMG - a criação de canais específicos para atendimento dos órgãos de defesa do consumidor - foi cumprido e o índice de conciliação por esses canais ultrapassa 80%.

“Por que os consumidores não conseguem resolver as questões diretamente com as empresas? Por que precisam recorrer ao Procon, se a resolução não demora às vezes cinco minutos pelo nosso canal?”, questionou Marcelo Barbosa.

Ele defendeu que, além de melhorar o atendimento direto ao consumidor, as empresas apresentem as informações relativas aos serviços prestados de forma mais clara, especialmente quanto ao uso de dados, que é fonte frequente de dúvidas dos usuários.

Campeã - A delegada de Defesa do Consumidor da Polícia Civil Sílvia Helena de Freitas corroborou a informação de que a Vivo é campeã de reclamações. Segundo ela, os representantes da empresa sequer comparecem às audiências agendadas.

Para Marcelo Barbosa, o maior número de reclamações dessa operadora na delegacia é reflexo do não comparecimento de seus representantes nas reuniões de conciliação do Procon.

Anatel pede análise qualitativa de reclamações

O gerente regional da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Hermann Bergmann Garcia e Silva, disse que o número das reclamações é um dado que só pode ser compreendido com uma análise qualitativa. Isso deveria levar em conta, por exemplo, a proporção de tais reclamações frente ao número de usuários.

Hermann Bergmann destacou o aumento do número de clientes no período e afirmou, ainda, que a análise qualitativa indica que a maior fonte de reclamações é a TV por assinatura, e não os serviços telefônicos.

A criação do marco regulatório do setor, o chamado Regulamento Geral de Direitos do Consumidor de Serviços de Telecomunicações (RGC), foi citado por Hermann Bergmann como um grande avanço.

Segundo ele, a Anatel também criou recentemente uma superintendência específica para tratar do relacionamento com os consumidores. Ações de educação para o consumo também teriam sido realizadas pela agência reguladora.

Empresas investem em canais de comunicação com clientes

As operadoras se defenderam lembrando a criação de novos canais de atendimento com os consumidores, especialmente na internet e em aplicativos de celular.

De acordo com o representante da Vivo, Ricardo Mascarenhas Diniz, só o aplicativo teria alcançado 56 milhões de visitas em abril de 2017, e as reclamações feitas por essa via já representam 49% dos contatos feitos pelos clientes, enquanto os contatos via Procon não chegam a 1%.

Os representantes das empresas também garantiram que o número de reclamações tem reduzido proporcionalmente ao número de clientes. Segundo Marcos Antônio Borges, da Oi, desde a CPI da Telefonia o número de reclamações contra a empresa caiu 30%, proporção superior ao número de clientes perdidos pela operadora. Ele afirmou que o resultado vem de melhorias como padronização de call centers e auditorias.

A redução das reclamações da Claro, segundo seu advogado, Felipe Gazola, foi de 14%. Fernanda Oliveira Laranja Pinto, da TIM, ressaltou que a curva de reclamações da empresa também caiu e que a operadora é a menos demandada pelo Procon.

Deputados criticam desvio de recursos de fundos

Os deputados criticaram o governo federal por não utilizar os recursos dos Fundos de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel) e de Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel).

“Ao todo são R$ 80 bilhões, dinheiro suficiente para termos uma internet exemplar no mundo. Ao invés disso, só geram superávit para o governo conseguir mais dinheiro para gastar com outras coisas”, frisou o presidente da comissão, deputado Felipe Attiê (PTB), no que foi apoiado pelo deputado João Leite (PSDB).

O deputado Felipe Attiê pediu também fiscalização mais severa à Anatel e esforço por parte dos representantes das empresas. “Se 10% do que vocês dedicam à propaganda fosse dedicado ao consumidor, nós não estaríamos aqui”, completou.

O deputado João Leite leu os compromissos firmados depois da CPI e defendeu que as informações sobre o cumprimento de todos os itens sejam fornecidas à ALMG.

Já o deputado Carlos Henrique (PRB) relatou problema pessoal com uma companhia telefônica que lançou em sua conta o valor de serviços não utilizados. “Fiquem sempre atentos às suas contas, porque pode ser um valor irrisório, que passa despercebido. Mas é assim que somos, muitas vezes, prejudicados”, alertou.

Providências - Durante a reunião, os deputados aprovaram uma série de requerimentos com pedidos de informações mais específicas a empresas e à Anatel sobre as estatísticas e sobre o atendimento dos vários compromissos firmados depois da CPI realizada em 2014. Ao governo federal, devem ser solicitadas informações sobre os fundos de telecomunicações.

Consulte o resultado da reunião.