Kalache (à dir.) foi o primeiro palestrante do painel O Contexto do Envelhecimento em Minas e no Brasil, do ciclo de debates
Viviane Marçal apresentou alguns dados sobre a realidade das pessoas idosas em Minas Gerais

Especialistas traçam contexto do envelhecimento no País

Crescimento do número de idosos até 2050 será várias vezes maior que a população em geral.

01/10/2013 - 13:04

“Hoje há mais pessoas acima de 60 anos vivas do que a soma de todas as que já chegaram a essa idade ao longo da história”. A afirmação é do presidente do Centro Internacional da Longevidade no Brasil e ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial da Saúde, Alexandre Kalache. Ele foi o primeiro palestrante do painel “O Contexto do Envelhecimento em Minas e no Brasil”, do Ciclo de Debates 10 Anos do Estatuto do Idoso - avanços e desafios para um envelhecimento digno, promovido nesta terça-feira (1º/10/13) pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) em parceria com outras 30 entidades.

Kalache chamou de “revolução da longevidade” as mudanças na realidade etária da população. Para se ter uma ideia dessa transformação, ele apresentou uma projeção sobre o crescimento populacional brasileiro entre 1950 e 2050: enquanto a população total será 3,7 vezes maior, o número de pessoas entre 60 e 80 anos vai ser multiplicado por dez. Já a quantidade de idosos acima de 80 anos será 26 vezes superior.

Além do aumento da expectativa de vida, que passou de 43 anos em 1945 para 75 atualmente, contribui para essa mudança a redução na taxa de fecundidade, que está abaixo do nível de reposição populacional há pelo menos seis anos, explicou Kalache. Hoje o Brasil tem 14,9 milhões de idosos (7,4% da população total), número que subirá para 58 milhões (26,7%) em 2060.

“Envelhecer não deve ser encarado como um fardo, e sim como a melhor coisa que pode nos acontecer”, destacou Kalache. Ele lembrou que, com a “revolução da longevidade”, o tempo de aposentadoria hoje é quase equivalente ao período trabalhado. Daí a importância das políticas públicas capazes de garantir saúde e dignidade aos idosos, finalizou.

Mais da metade dos idosos mineiros sustentam suas casas

A diretora do Núcleo de Articulação com Movimentos Sociais da Coordenadoria Especial de Políticas para o Idoso de Minas Gerais, Viviane Café Marçal, apresentou alguns dados sobre a realidade desse segmento no Estado. Segundo ela, 64% dos idosos são os responsáveis financeiros em suas residências. Do total de empreendedores, 6 mil têm mais de 60 anos, disse Viviane.

Mas as estatísticas levadas por ela ao ciclo de debates mostram também números preocupantes: somente no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, foram atendidos 404 idosos atropelados este ano. O Disque Denúncia Direitos Humanos recebeu, em 2012, nada menos que 1.192 ligações referentes a maus tratos contra idosos.

“É preciso mudar a consciência da população sobre a vulnerabilidade e as especificidades desse segmento”, disse a diretora, destacando a necessidade de se ensinar os filhos e netos a tratarem os idosos com a devida dignidade. Ela encerrou sua palestra convidando todos os presentes a ficarem de pé e gritarem: “Eu tenho voz!”.

A coordenação do painel ficou a cargo da presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembleia, deputada Rosângela Reis (PV). Ela lembrou outras ações da ALMG na busca de políticas públicas em favor dos idosos, como os ciclos de debates Demandas de um Brasil que Envelhece (2002) e Qualidade de Vida e Políticas Públicas para os Idosos (2010), além do Fórum Democrático para o Desenvolvimento de Minas Gerais (2011), que tratou do tema também.

Apesar de toda a legislação existente, Rosângela Reis lamentou a falta de efetividade das leis. “Estamos longe de alcançar o que recomendam os planos e instrumentos legais às pessoas acima de 60 anos: uma rede de serviços capaz de assegurar direitos básicos como saúde, alimentação, cultura, transporte, respeito e convivência familiar e social.”