Durante encontro estadual sobre a mobilidade urbana, especialistas defenderam que ele o transporte, o trânsito e o uso do solo sejam pensados conjuntamente
Segundo Daniel Marx Couto, BH possui apenas 60 km de ciclovias, mas a expectativa é de que, até o próximo ano, seja ampliada para 200 km

Planejamento é essencial para o desenvolvimento das cidades

Durante o Encontro Estadual do Fórum Mobilidade Urbana, participantes defendem meios alternativos como a bicicleta.

20/09/2013 - 14:28

Crescer desordenadamente custa caro e gera reflexos diretos no dia a dia da população, como o maior tempo no trânsito e a piora da qualidade de vida. Por isso, para os palestrantes que, nesta sexta-feira (20/9/13), participaram do segundo dia do Encontro Estadual do Fórum Técnico Mobilidade Urbana, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), é necessário repensar os modelos utilizados e encontrar soluções para minimizar os impactos já sentidos.

Esse planejamento, como explicou o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Ailton Brasiliense Pires, deve ser pensado não apenas para a cidade, mas para a região. Ele disse que, para solucionar os problemas, é necessário considerar as cidades que estão no entorno e desenvolver planos integrados para a região metropolitana. Para o palestrante, Curitiba é o exemplo de cidade que realizou planejamento e aprendeu com os próprios erros e com os erros dos outros. Primeiro, eles teriam realizado um investimento no transporte por ônibus e, hoje, pensam em outro modo para resolver as suas dificuldades.

Aílton criticou a deficiência de corredores de transporte público e a transferência de moradias para locais cada vez mais distantes, o que faz com que a mobiliadde fique mais cara. Como solução, ele defende que o transporte, o trânsito e o uso do solo sejam pensados conjuntamente.

Essas dificuldades, na opinião do deputado Fred Costa (PEN), não estão presentes apenas nas grandes cidades. Para ele, nos médios e pequenos centros, as pessoas também têm prejudicado sua qualidade de vida pelas dificuldades de circulação. Por isso, o parlamentar também defendeu o planejamento e o investimento no transporte em massa. “Precisamos investir em algo seguro, rápido e que realize o transporte de um grande número de pessoas, como o metrô”, disse.

O diretor de Transporte Público da BHTrans, Daniel Marx Couto, defendeu uma mudança para um cenário em que sejam melhoradas as condições de acessibilidade, ampliadas a integração de transporte e a expansão dos modos de transporte de alta e média capacidade, além do incentivo ao uso alternativo de transporte.

Por esse motivo, ele disse que BHTrans e a Prefeitura de Belo Horizonte estão agindo em diferentes frentes. Uma delas é a construção de um centro de monitoramento que tem o objetivo de otimizar o trânsito na Capital. Daniel também disse que 3.050 ônibus já contam com aparelhos de localização, filmagem e transmissão de dados. “Esse maior controle fez com que, nos últimos seis meses, o índice de viagens atrasadas e não realizadas fosse reduzido em 50%”, disse.

Belo Horizonte investe em ciclovias

O diretor disse ainda que também estão sendo feitos investimentos em ciclovias. Hoje Belo Horizonte possui apenas 60 km, mas segundo ele, a expectativa é de que, até o próximo ano, essa quantidade seja ampliada para 200 km. Ele disse também que, nesse momento, há um edital de licitação para aquisição de 30 bicicletas que serão compartilhadas pela população. Nos últimos três anos, de acordo com Daniel, o número de ciclistas aumentou de 0,7% para 2%. No entanto, até 2016, o objetivo é chegar a 7%. “A meta é ousada, mas com a rede de 200 km de ciclovias, pretendemos chegar a esse número”, disse.

Outro município que investe na utilização da bicicleta como veículo alternativo de transporte é o Rio de Janeiro. De acordo com o subsecretário de Meio Ambiente e presidente do Grupo de Trabalho de Planejamento Cicloviário do Rio de Janeiro, Altamirando Fernandes Moraes, a cidade possui a maior malha cicloviária do Brasil e a segunda da América Latina. Atualmente são 300 km de ciclovias, e o objetivo, até 2016, é alcançar 450 km. Hoje já são realizadas cerca de 1 milhão de viagens ao dia por ciclistas, e o número de bicicletas (2,5 milhões) já é maior do que o número de carros (2 milhões).

O município também possui 60 estações com 600 bicicletas que ser utilizadas pela população para transitar na Zona Sul. Com a ampliação, serão mais de 200 estações e 2 mil bicicletas que poderão transitar nas regiões do Centro, Zona Norte, Tijuca, Barra e Jacarepaguá. Outro estímulo é o preço: 10 reais por mês é o valor da mensalidade para utilização do serviço.

Todas essas ações, segundo o subsecretário, têm o objetivo de incentivar o uso da bicicleta em pequenas distâncias. “Por mais que você tenha um excelente meio de transporte, as pessoas têm sempre uma necessidade individual para pequenas distâncias, dentro dos bairros, o que pode ser feito com a bicicleta”, disse. Outro objetivo é que as bicicletas sejam um modo de transporte complementar, por isso as ciclovias são conectadas a estações de metrô, barca e BRT. Além disso, nos sábados e domingos, é permitido entrar no metrô com as bicicletas.

Bicicletas motivam debates

Na fase de debates, foram feitos questionamentos sobre ciclovias, bicicletários e rodízio de veículos. Quanto às ciclovias, os questionamentos foram mais direcionados ao subsecretário Altamirando Fernandes Moraes. Segundo ele, a implantação de ciclovias depende da demanda. “Os investimentos estão sendo feitos nas regiões onde a demanda dos ciclistas é maior”, informou. Já sobre a questão de quem constrói os bicicletários, Fernandes explicou que os investimentos são feitos com recursos públicos e privados.

Sobre a implantação de rodízio de carros nos grandes centros urbanos como solução para o trânsito, o presidente da ANTP, Ailton Brasiliense, afirmou que essa não é a solução e sim uma alternativa possível, enquanto se planeja uma solução definitiva. “Rodízio é momentâneo, tem que existir um horizonte”, acrescentou. Nessa questão, o deputado Fred Costa afirmou que o País teima em investir em medidas paliativas para solução dos problemas das cidades e ainda questionou se é melhor usar tais medidas para minimizar os problemas ou investir diretamente em infraestrutura.