Na parte da tarde do debate, participantes defenderam aprimoramento das políticas públicas voltadas para o jovem mineiro do meio rural
Argileu Martins da Silva defendeu modelo pedagógico da alternância
Idalino Firmino dos Santos disse que existem 15 mil agricultores em associações pelo Estado

Preocupação com jovens marca debate sobre educação no campo

Na segunda parte de debate público na ALMG, participantes sugerem ampliação das escolas famílias agrícolas no Estado.

09/08/2013 - 17:13

Na segunda e última parte do Debate Público Educação do Campo em Minas Gerais, promovido pela Comissão de Política Agropecuária e Agroindustrial da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta sexta-feira (9/8/13), no Plenário, os participantes defenderam a massificação das escolas famílias agrícolas (EFAs) em todo o Estado e o aprimoramento das políticas públicas voltadas para o jovem mineiro do meio rural. No modelo pedagógico de alternância, seguido pelas EFAs, o aluno fica 15 dias na escola e outros 15 na sua terra, onde ensina e aprende com a família.

Os autores do requerimento para o encontro, que teve início na parte da manhã, foram os deputados Rogério Correia e Almir Paraca, ambos do PT. Também participaram do debate o deputado André Quintão e os deputados federais Padre João e Nilmário Miranda (todos do mesmo partido). “Acompanhei o nascimento das escolas agrícolas em Minas e elogio a decisão do Ministério da Educação (MEC) de acolher a pedagogia da alternância como uma de suas diretrizes. Demorou, mas aconteceu”, afirmou Padre João. Nilmário Miranda acrescentou que muitas pessoas que hoje exercem posição de liderança passaram pelas EFAs. “Isso mostra que a EFA é muito mais do que uma escola".

Para o deputado André Quintão, é importante que a educação do campo seja reconhecida como política pública, e não como uma ação eventual. Ele também se mostrou preocupado com a questão da violência nessas escolas, e disse que vai propor audiência pública para requerer esclarecimento sobre esses fatos. Quintão se referiu ao caso da EFA da comunidade do Jacaré, próxima a Itinga (Vale do Jequitinhonha). Em abril, um homem ainda não identificado invadiu a EFA e atirou contra dois professores que estavam no pátio.
 
EFAs estimulam relações sociais cooperativas

Na parte da tarde do Debate Público Educação do Campo, foi apresentado o painel "Agricultura Familiar: Assistência Técnica Rural (Ater) Jovem e Outras Políticas Públicas Destinadas à Juventude Rural”. Houve um consenso, entre os participantes, sobre a EFA como modelo apropriado para a juventude que vive no campo, bem como da pedagogia da alternância.

Na opinião do diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Argileu Martins da Silva, ao longo da história, a concepção pedagógica hegemônica no País não estimulou a cooperação. “A concepção vigente estimula relações sociais competitivas, o que, no meio rural, não seria interessante".

“O desafio é continuar com a pedagogia da alternância. Não é possível vencer esse desafio, de políticas públicas para o jovem do meio rural, se não for enfrentada a questão da educação”, observou Argileu. Para ele, a saída está na estratégia de massificar esse método de ensino.

“Trouxemos a concepção dialética (ou seja, da alternância) para o campo – pois o educando constrói o conhecimento na sua relação com os demais, comprometido com a realidade onde vive e que ele pode transformar. As escolas de alternância estimulam relações sociais cooperativas e, desse modo, formam o cidadão não para estabelecer relações competitivas, mas cooperativas", ilustrou.

Políticas públicas dificultam projetos de jovens

O representante da Secretaria de Agricultura Familiar ressaltou, ainda, que, na competição por emprego nas áreas rural e urbana, os jovens preferem se empregar nas cidades. Por esse motivo, pode-se afirmar que as políticas de desenvolvimento agrário, de crédito e de comercialização contribuem, mas não resolvem o problema em relação aos jovens da área rural. “Por isso temos o trabalho permanente para refinar essas políticas para adequá-las à realidade do jovem rural mineiro".

“O jovem não consegue implementar seus projetos de vida com as políticas vigentes hoje”, disse Evina Teixeira da Cruz, ex-presidente da Associação Mineira das Escolas Família Agrícolas (Amefa). Por isso, completou, é preciso rever as políticas públicas voltadas para o jovem.

Presidente da União Nacional das Escolas Família Agrícolas do Brasil (Unefab), o agricultor Antonio Baroni afirmou que em Minas há poucos deputados comprometidos com a luta do trabalhador no campo, e que é necessário olhar para os agricultores que querem continuar a vida no campo.

O secretário-executivo da Amefa, Idalino Firmino dos Santos, apresentou um panorama histórico das EFAs. Idalino observou que a primeira escola familiar do Brasil e da América Latina surgiu em 1968, no Espírito Santo, a EFA de Olivânia. Em Minas, apenas em 1984 foi lançada a primeira EFA do Estado. Já a Amefa foi criada em 24 de julho de 2003. “Partiu dos próprios agricultores, de ter algo que garanta a unidade”. De acordo com Idalino, são hoje 15 mil agricultores organizados em associações pelo Estado. Ele lembrou também que em 2011, na última assembleia realizada, na EFA de Araçuari, os jovens reivindicaram o ensino superior nas EFAs.

Homenagem – O assessor pedagógico da Amefa, Gilmar de Souza Oliveira, apresentou um histórico das EFAs do Estado e de suas delegações presentes na cerimônia. Ex-presidentes e ex-diretores da Amefa foram homenageados.