Participação de trabalhadores rurais na fase de debates encerrou o primeiro dia do evento

Agricultores reclamam de crédito e restrições ao queijo

Na fase de debates do evento sobre agricultura familiar, trabalhadores criticam políticas de governo e pedem melhorias.

29/08/2012 - 19:59

Pouco antes da fase de discussões do Ciclo de Debates Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural Sustentável, que teve início nesta quarta-feira (29/8/12) no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) elogiou os trabalhadores rurais, afirmando que a ocupação do campo por essa atividade e pelos assentados da reforma agrária é o maior programa de defesa da soberania nacional. Mas ponderou que eles, trabalhadores, merecem atitudes mais ousadas dos governos estadual e federal. Mesmo reconhecendo que a destinação de R$ 22 bilhões para a agricultura familiar, por meio do Plano Safra, é um avanço, Adelmo avaliou que os governos têm que se aproximar mais desses agricultores, orientando-os.

A deputada Maria Tereza Lara (PT) coordenou a fase de debates do evento. Ela orientou os trabalhadores rurais presentes para que cobrem dos candidatos nestas eleições a inclusão da agricultura familiar em suas plataformas de governo.

Debates – Vários agricultores foram ao microfone para fazer questionamentos e solicitações aos órgãos governamentais. Iran Leite, de Belo Vale (Região Central), pediu apoio governamental para compra de adubo (cada vez mais caro) e na doação de tratores a associações rurais.

Dirceu Fernandes, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasília de Minas (Norte), constatou que, apesar dos números divulgados pelo governo de concessão de crédito, a maioria dos agricultores não consegue obtê-lo. "Em minha cidade, de 600 propostas enviadas ao Banco do Nordeste, só 15 foram aprovadas", disse.

Gilberto dos Reis, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Montes Claros (Norte), reclamou que foi furado um poço artesiano em área rural da cidade e a Cemig não ligou a energia para bombear a a água. O pedido foi feito à empresa em maio.

José dos Reis, da Fetaemg do Noroeste de Minas, disse que era assentado da reforma agrária na região. Ele afirmou que hoje lá só se produz leite, que é o único setor com cadeia produtiva organizada no local. Como alternativa, eles estão tentando produzir queijo, mas a lei do queijo artesanal impõe dificuldades para escoarem a produção. Ele sugeriu que o Governo de Minas crie casas para produção do queijo Minas artesanal, para 30 ou mais pessoas trabalharem coletivamente.

Haroldo Fernandes, do Assentamento Brejo dos Crioulos, no Norte de Minas, reclamou que, apesar de terem conseguido o título do assentamento, o Incra não está atuando para demarcar as terras. O assentamento no qual vivem 503 famílias tem extensão de 17.302 hectares, que se espalham pelos municípios de Varzelândia, Verdelândia e São João da Ponte. Como o Incra está em greve, ele disse temer que os fazendeiros ocupem parte do assentamento.

Sebastião de Souza, de Botumirim (Norte), reclamou que os técnicos da Emater não atendem aos agricultores da cidade e da região.

Respostas – Em resposta aos questionamentos, João Luiz Guadagnin, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, reconheceu que o crédito realmente não atende a todos os necessitados, pois é ainda restrito e demorado. Ele sugeriu que os interessados entrem em contato com o Ministério, com os deputados e com as diretorias dos bancos que concedem crédito rural para cobrar a agilidade na liberação. Quanto à solicitação de crédito para associações, Guadagnin lamentou que não haja linhas para esse tipo de entidade: “Crédito rural é para atividade produtiva geradora de renda”.

O subsecretário de Agricultura Familiar da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Edmar Gadelha, também reconheceu que a extensão rural não atende a contento. Afirmou que defende o que está definido na política nacional da extensão rural: assistência técnica universalizada, gratuita e com prioridade para a agricultura familiar. E anunciou que o governo já autorizou a abertura de concurso público para contratação de 400 técnicos rurais a partir de 2013. Sobre a falta de energia em poço artesiano, ele se dispôs a intermediar uma solução junto à Cemig.

Sobre a produção de queijo, Gadelha disse que já existe a lei estadual sobre o queijo Minas Artesanal, mas que precisa ser aperfeiçoada. Ele ressalta também que a lei federal conflita com a estadual, exigindo a maturação do queijo por no mínimo 60 dias, sendo que o queijo mineiro necessita de um período menor, entre 14 e 21 dias. Ele concordou com a criação das casas pra produção do queijo de leite cru e também dos centros de maturação coletivos.Em relação a crédito para compra de adubos e para doação de tratores, ele registrou que não no orçamento estadual recursos para apoiar projetos nessa área.

Por fim, o deputado federal Padre João (PT-MG), defendeu uma articulação maior entre os órgãos que apoiam a agricultura, pois haveria um grande descompasso entre eles. Também disse que era necessário divulgar mais os serviços oferecidos aos produtores rurais.