Painel da parte da tarde do ciclo de debates Siga Vivo
Medidas para reduzir acidentes de trânsito são apontadas por especialistas e autoridades

Siga Vivo recebe palestrantes da Rede Sarah

Ciclo de debates pelo fim da violência no trânsito já registrou 234 propostas; discussão prossegue nesta sexta-feira (6)

05/07/2012 - 19:35

Na segunda parte do painel “O Atendimento às Vítimas de Acidentes de Trânsito”, realizado na parte da tarde do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, nesta quinta-feira (05/7/12), apresentaram-se três representantes da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação: o médico Dr. João Gabriel Ramos Ribas, a fisioterapeuta Gabriela Afonso Galante e o estatístico Luiz Sérgio Vaz. Eles apresentaram conjuntamente uma palestra que abordou de maneira bastante esclarecedora o trabalho feito pela instituição em sete unidades no Brasil. A etapa final do ciclo de debates está sendo realizada em Belo Horizonte, no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Até esta quinta-feira, 234 propostas já tinham sido registradas, segundo informou a deputada Maria Tereza Lara (PT), que conduziu os trabalhos na parte da tarde.

De acordo com o Dr. João Gabriel, o foco do atendimento nos hospitais da Rede é a neurorreabilitação, sendo que os pacientes que sofrem neurotraumas causados por acidentes de trânsito compreendem grande parte dos atendidos pela instituição. Os neurotraumas envolvem lesões cerebrais, medulares e em crianças. Segundo ele, “em 2007, a cada 100 internações feitas no Sarah, 41 eram de vítimas no trânsito. Em 2011, esse número aumentou para 52,6%. E dessa taxa mais recente, 43% são de pacientes de 15 a 29 anos. Ou seja: os jovens são os que sofrem mais”. Ele também chamou atenção para o baixo número de vítimas que estavam usando cinto de segurança no banco de trás dos carros: apenas 27%. “O que as pessoas não percebem é que às vezes a pessoa nem sofre um trauma grande estando no banco de trás do carro, mas o impacto dela sobre o passageiro da frente pode gerar nele uma paraplegia ou tetraplegia. Por isso é indispensável o cinto também para quem está trás, para que as demais pessoas não se machuquem”.

O estatístico Luiz Sérgio mostrou alguns dados da realidade do trânsito brasileiro e mundial. Segundo ele, as perspectivas são ruins, pois, se nenhuma medida radical for tomada, em 2030 os acidentes serão a quinta causa de morte no mundo. “O Brasil é o quinto país do mundo em mortes no trânsito, sendo o segundo em morte de motociclistas. Nossos pronto-socorros e o SUS estão sobrecarregados. O custo de atendimento dos acidentados aos cofres públicos gira em torno de R$ 8.700 por pessoa. E se a vítima é fatal, esse custo sobe para R$ 35.000”, explicou.

A fisioterapeuta Gabriela contou como é feita a reabilitação das vítimas na Rede Sarah. De acordo com ela, o objetivo é conseguir uma qualidade de vida melhor para as pessoas que sobrevivem, com perspectivas realistas de reaprenderem as atividades do dia a dia. “Nós focamos nas potencialidades, não nas incapacidades. Temos uma visão integral do paciente, sem fragmentações. Buscamos deixá-los o mais próximo possível de suas vidas cotidianas, com treinos de locomoção, socialização, educação física e esportes, inclusive levando-os para a rua, para o cinema, levando-os a vivenciar as situações cotidianas e superar da melhor forma os obstáculos que aparecerem ”.

Como debatedora e palestrante, a diretora institucional da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, Ana Dall' Agnese, encerrou o painel do ciclo de debates nesta quinta-feira. Ela contou a história da Fundação, cujo objetivo é valorizar e preservar a vida mobilizando a sociedade por meio de ações educativas e culturais. São mais de 18 mil voluntários em todo o país. “Os acidentes de trânsito são uma epidemia silenciosa. Por isso, o casal Régis e Diza criaram a Fundação. Para dar voz a famílias como a deles, que foi destroçada por um acidente de trânsito, que vitimou seu filho. Para nós, o trânsito não são carros, são pessoas. Essas vítimas todas têm um rosto e uma história”. Ela ressaltou a necessidade de ações efetivas de combate aos acidentes de trânsito, especialmente contra a bebida alcoólica. “Há uma indústria poderosa por detrás disso? Sim, mas precisamos combatê-la também. Não adianta educar as crianças se os pais delas bebem e dirigem e nada acontece com eles. Elas seguem os modelos que têm em casa. A mudança de atitude tem que ser em cada um”.

Mais de 200 propostas já foram apresentadas
Ao todo, 234 propostas foram registradas pela organização do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, desde a fase inicial do evento até a tarde desta quinta-feira (5/7/12), primeiro dia da etapa de encerramento, no Plenário da Assembleia. Promovido pela ALMG, em parceria com 58 entidades públicas e privadas, o ciclo de debates contou com oito encontros regionais. O primeiro foi realizado no dia 21 de maio, em Betim, Região Metropolitana de Belo Horizonte. O último, em Belo Horizonte, foi desdobrado em duas sessões: quinta-feira (5) e sexta-feira (6).

Até agora, o Triângulo Mineiro foi a região do Estado que apresentou o maior número de propostas (39), seguido das regiões Centro-Oeste (38), Central (37), Alto Paranaíba (33), Zona da Mata (29), Sul (27), Norte e Nordeste (16) e Vales do Rio Doce/Mucuri e Jequitinhonha (15). Todas as propostas estão disponíveis para consulta no portal da Assembleia (www.almg.gov.br). A organização acolherá ainda outras propostas ao longo desta sexta-feira, no curso dos debates, e até segunda-feira (9), via internet. Ao final, será feita uma síntese de todas elas, agrupadas por assunto e encaminhadas para possíveis ações legislativas.

Debates - Campanhas educativas, construção de ciclovias e de faixas exclusivas para motocicletas, mais rigor na fiscalização e na punição dos contraventores de trânsito, foram algumas das propostas e sugestões apresentadas na tarde desta quinta-feira. Durante os debates, o secretário-adjunto de Saúde de Betim, Márcio Melo Franco, elogiou “o alto nível das palestras”, mas se disse “cético” quanto a campanhas educativas, ressaltando que o Brasil ocupa o segundo lugar, no mundo, em número de acidentes com moto. Defendeu mais rigor na punição e fiscalização. “Não acredito em êxito de campanhas educativas se não olharmos bem estas questões”, disse, acrescentando que entre 2011 e 2012 o número de acidentes com motocicletas, em Belo Horizonte, aumentou 72,9%, sendo 52% nos corredores entre veículos.

Rogério dos Santos, do Sindicato dos Motociclistas de Minas Gerais, também se revelou pessimista, alegando que a família incentiva os jovens a adquirirem motocicleta tão logo entram para o mercado de trabalho, como um símbolo de status e crescimento do poder aquisitivo. Denunciou também o que chamou de “negligência das autoridades”.

Mais otimista, Ricardo Teixeira, o “Mr. Bus”, educador da BHTrans, mostrou-se satisfeito com o resultado do evento. “O que aprendemos aqui hoje é lição de casa para cada um de nós. Vamos adotar comportamento seguro, usando o cinto de segurança, utilizando as passarelas para atravessar as vias e parando nos sinais de trânsito”, apelou. Ele propôs uma ação educativa, no sinal de trânsito em frente à Assembleia Legislativa, no encerramento dos debates.