“O pouco que temos feito para reduzir os acidentes de trânsito é quase nada”. A crítica da especialista em acidentes de trânsito, planejamento e transporte urbano e professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Denise Labrea Ferreira, foi feita durante a segunda metade do Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito em Uberlândia (Triângulo), na tarde desta sexta-feira (22/6/12). O evento foi o quinto de uma série de nove encontros regionais sobre o assunto que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais realiza em todo o Estado.

Para Denise, é preciso mais ações de governos e da sociedade para evitar o aumento da violência no trânsito nas cidades brasileiras. Educação permanente para o bom comportamento no trânsito foi uma das sugestões da especialista para mudar a realidade dos acidentes no município. Outra proposta da docente é a criação de "estacionamentos" para pedestres, que seriam espaços públicos com bancos para o descanso. “Se os carros possuem lugar para pararem, por que não as pessoas que caminham nas ruas?”, questionou.

Na opinião da especialista, Uberlândia e todo o País passam por um momento de crise de mobilidade urbana, o que interfere diretamente no número de acidentes. Segundo a professora, há mais espaço para veículos do que para as pessoas transitarem. “Além disso, no caso de Uberlândia, é preciso urbanizar as três rodovias que cortam a cidade, para ajudar a evitar mais acidentes”, pontuou.

Outras propostas – De acordo com a gerente de Educação para o Trânsito do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), Rosely Fantoni, as cidades brasileiras precisam cumprir um "dever de casa”, com o objetivo de conseguirem diminuir a violência no trânsito. “É necessário melhorar a gestão da segurança no trânsito, ter vias e veículos mais seguros e disponibilizar pronto-atendimento às vítimas de acidentes”, ressaltou.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário de Uberlândia e região, vereador Célio Moreira, falou sobre seu projeto de lei que visa a melhorar as condições de transporte de caminhões no Estado. Ele destacou também o descumprimento de direitos de motoristas profissionais como uma das causas de acidentes de trânsito. Como forma de melhorar a qualidade do serviço desses motoristas, ele sugeriu redução da jornada de trabalho, mais segurança nas rodovias, aposentadoria especial e pontos de apoio em rodovias (postos de parada para banho e pernoite).

Segundo o deputado Bosco (PTdoB), enfrentar a violência no trânsito é um dever de todos os cidadãos. "É com a participação efetiva de todos que vamos diminuir esse mal tão grande que assola mineiros e mineiras, além de todos os brasileiros", disse, ao final do evento.

Números – Dados divulgados pela Prefeitura de Uberlândia em setembro de 2011, durante a Semana Nacional de Trânsito, apontam que são registrados, por ano, 14 mil acidentes, sendo que as colisões frontais correspondem a 38% das ocorrências. Os acidentes de trânsito matam mais que os crimes violentos no município, de acordo com levantamento feito pela Polícia Civil (PC), com dados do primeiro semestre de 2011. Foram 91 mortes no trânsito, segundo a PC. No mesmo período, foram registradas 79 ocorrências em relação a vítimas de crimes violentos.

Segundo notícias recentes publicadas no jornal Correio de Uberlândia, a quantidade de acidentes envolvendo motocicletas na cidade aumentou 50% no primeiro trimestre de 2012 em relação ao mesmo período do ano passado. Os índices mostram que foram registradas, por dia, cerca 12 ocorrências desse tipo no trânsito, enquanto, em 2011, a média diária era de oito acidentes.

Ciclo de Debates Siga Vivo – O evento é fruto da parceria da ALMG com mais de 50 entidades envolvidas com a questão do trânsito e conta com cinco comissões permanentes engajadas na sua realização: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.

De acordo com o deputado Bosco (PTdoB), todas as sugestões recolhidas ao longo da série de debates serão consolidadas em um documento final, que poderá auxiliar na elaboração de políticas públicas. O Siga Vivo tem cinco objetivos principais: difundir a realidade da violência no trânsito; apresentar o impacto dos acidentes de trânsito nas vidas das famílias e nos sistemas públicos de saúde e previdência; debater as causas e possíveis soluções para o problema; articular agentes públicos para a adoção de medidas visando à redução das mortes e do número de vítimas; e sensibilizar a sociedade, por meio da educação e da mobilização, para um comportamento mais seguro no trânsito.

Após Uberlândia, também estão previstos encontros em Juiz de Fora (Zona da Mata), em 25/6; Ibiá (Alto Paranaíba), em 26/6; Divinópolis (Centro-Oeste), em 28/6; e Belo Horizonte, na ALMG, em 5/7. Até agora, além de Uberlândia, já foram realizados encontros em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), Governador Valadares (Rio Doce), Poços de Caldas (Sul de Minas) e Montes Claros (Norte de Minas).