Uberlândia foi a quinta cidade a receber o Ciclo de Debates Siga Vivo
Trânsito mata mais que crimes violentos em Uberlândia

Educação pode diminuir acidentes de trânsito em Uberlândia

Participantes de evento no Triângulo acreditam que mudanças culturais sejam importantes para reduzir mortes no trânsito.

22/06/2012 - 12:18

Uberlândia (Triângulo) tem a segunda maior frota de veículos do Estado: são cerca de 351 mil. Em 2001, era de 161 mil. Esse crescimento acompanha o aumento no número de acidentes de trânsito na cidade: passou de 6.879, em 2001, para 12.878, em 2010. Os dados foram apresentados pelo secretário de Trânsito e Transportes de Uberlândia, Divonei Gonçalves dos Santos, durante o Ciclo de Debates Siga Vivo: pelo fim da violência no trânsito, realizado no município. O encontro na Universidade Federal de Uberlândia, nesta sexta-feira (22/6/12), foi o quinto de uma série de nove que a Assembleia Legislativa de Minas Gerais vem promovendo em todo o Estado.

Segundo o deputado Elismar Prado (PT), em 2009, foram 166 mortes decorrentes de acidentes de trânsito em Uberlândia. Em 2010, o número pulou para 204. Para o parlamentar, esses números são “assustadores”. Em sua opinião, é preciso realizar campanhas de conscientização e investir, principalmente, na educação de motoristas e pedestres, para conter o avanço dos acidentes na cidade. “Precisamos de uma mudança cultural e, também, comportamental”, reforçou.

O superintendente Regional de Ensino, Wagner Lemos de Rezende, opinou de modo semelhante. “O principal responsável por problemas no trânsito, atualmente, é o condutor e não a máquina”, disse. Para ele, é preciso trabalhar preventivamente com os estudantes. “Nossas crianças serão os motoristas do futuro”, destacou. O deputado Bosco (PTdoB) também concordou que a educação seja instrumento fundamental para mudar a realidade local.

Atendimento das vítimas – Na visão do parlamentar Bosco, os acidentes de trânsito causam inúmeros prejuízos. “Há famílias que perdem entes queridos, há as pessoas que ficam com sequelas e, além disso, há dispêndio grande para tratar as vítimas dos acidentes”, destacou. Para evitar maiores danos causados por acidentes em Uberlândia, Elismar Prado lamentou não haver na cidade o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “A cidade devia ter esse serviço médico já há muito tempo”, disse.

O comandante do 5º Batalhão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, coronel Felipe Aidar, discordou de Elismar Prado. Ele não acredita que a solução para o atendimento das vítimas seja o Samu. “Os países que não possuem esse sistema são piores que o nosso? Que se invista o valor que seria gasto com o Samu em outros setores, como na melhoria de hospitais”, pontuou.

O diretor-geral do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HCU-UFU), Luzmar de Paula Faria, contou que o HCU é o único a receber de pacientes vítimas de acidentes de trânsito na cidade. Ele contou que, em 2011, o hospital universitário atendeu 1.982 pessoas. Desse total, 976 precisaram ficar internadas e 64 vieram a falecer. “A maior parte das vítimas é fruto de acidentes motociclísticos”, afirmou.

Transporte coletivo – Segundo o secretário de Trânsito e Transportes de Uberlândia, Divonei dos Santos, algumas diretrizes da prefeitura para diminuir o quadro de acidentes são priorizar transportes não motorizados e os coletivos; estruturar sistemas de ciclovias na cidade; e “humanizar” trechos rodoviários que cortam a malha viária. Ele falou, ainda, sobre a campanha “Sou Legal no Trânsito”, lançada no município há dois anos, cujo objetivo é sensibilizar a população para o cuidado no trânsito. Segundo contou, 67% dos acidentes são causados por automóveis, seguidos por motocicletas (cerca de 19%).

Rodovias que cortam Uberlândia têm número elevado de acidentes de trânsito

O chefe da 17 Delegacia de Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Uberlândia, Clayton Gonçalves Rosa, lembrou que existem três rodovias que cortam Uberlândia: as BRs 050, 365 e 452. As duas primeiras têm um volume de tráfego diário de 13 mil veículos e a última, 5 mil. Nas três rodovias, em 2011, foram 1.472 acidentes. Em 2012, até o momento, foram 771 acidentes, com 354 feridos e 21 mortes. “Excesso de velocidade, falta de atenção e não guardar a distância de segurança são as principais causas de acidentes nessas rodovias”, contou.

Clayton Rosa reforçou, ainda, que 43% dos acidentes ocorrem no perímetro urbano das três rodovias. Algumas das soluções apontadas pelo chefe da delegacia de PRF para evitar acidentes são restringir o número de veículos de carga no perímetro urbano; instalar lombas eletrônicas; fechar acessos a rodovias sem faixa de aceleração\desaceleração; e, principalmente, implementar ações educativas.

De acordo com o sargento Edvaldo dos Santos, da 9ª Cia. Independente de Meio Ambiente e Trânsito da PM de Minas, o Brasil é “campeão”, proporcionalmente, na morte de trânsito. Segundo informou, são 111 pessoas mortas por dia. A cada 13 minutos, uma pessoa falece devido a acidentes. Em Minas Gerais, em 2011, ele contou que foram1.270 falecimentos. Comparando com 2010, houve aumento de 20%. “A maioria dos acidentes ocorre com o sexo masculino, com idade entre 25 a 30 anos”, ressaltou.

Preocupação – O deputado Bosco leu, durante o encontro, uma mensagem encaminhada pelo presidente da ALMG, deputado Dinis Pinheiro (PSDB). De acordo com o presidente, o avanço dos números relativos aos acidentes de trânsito, envolvendo mortes e deixando sequelas, é motivo de “grande preocupação”. Segundo ele, dados da Organização Mundial da Saúde, divulgados pela Associação Nacional de Transportes Públicos, indicam que, a cada ano, 1,300 milhão de pessoas morrem no mundo, vítimas de acidentes de trânsito. No Brasil, as estimativas variam entre 35 mil e 50 mil mortes anuais. “Ficamos ainda mais consternados ao perceber o impacto dos acidentes no sistema de saúde”, ressaltou.

Para Dinis Pinheiro, a maioria dos desastres é causada por algum tipo de negligência ou comportamento de risco dos condutores, como o excesso de velocidade, o consumo de bebidas alcoólicas e, no caso dos motoristas profissionais, a realização de jornadas de trabalho muito longas. “A mudança, portanto, que precisamos promover é, sobretudo, cultural”, pontuou. Ele disse, ainda, que também deve haver a melhoria da estrutura viária e da segurança veicular, por meio da atualização da legislação e do aperfeiçoamento da fiscalização.

Saiba mais sobre o Ciclo de Debates Siga Vivo

O evento é fruto da parceria da ALMG com mais de 50 entidades envolvidas com a questão do trânsito e conta com cinco comissões permanentes engajadas na sua realização: Segurança Pública; Saúde; Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência; Educação, Ciência e Tecnologia; e Transporte, Comunicação e Obras Públicas.

O Ciclo de Debates Siga Vivo tem cinco objetivos principais: difundir a realidade da violência no trânsito; apresentar o impacto dos acidentes de trânsito nas vidas das famílias e nos sistemas públicos de saúde e previdência; debater as causas e possíveis soluções para o problema; articular agentes públicos para a adoção de medidas visando à redução das mortes e do número de vítimas; e sensibilizar a sociedade, por meio da educação e da mobilização, para um comportamento mais seguro no trânsito.

Após Uberlândia, também estão previstos encontros em Juiz de Fora (Zona da Mata), em 25/6; Ibiá (Alto Paranaíba), em 26/6; Divinópolis (Centro-Oeste), em 28/6; e Belo Horizonte, na Assembleia, em 5/7. Até agora, já foram realizados encontros em Betim (Região Metropolitana de Belo Horizonte), Governador Valadares (Rio Doce), Poços de Caldas (Sul) e Montes Claros (Norte).