Tilden Santiago, diretor de Meio Ambiente da Copasa, lembrou que saneamento básico está historicamente associado a saúde
O analista da Copasa João Bosco Senra defendeu práticas para minimizar impactos do modelo econômico atual relacionados ao consumo da água
Para engenheiro florestal Álvaro Carrara, o desenvolvimento sustentável passa por repensar o atual modelo de agronegócio
A presidente do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, Regina Campos, destacou o conhecimento produzidos pelas comunidades tradicionais
Junio Magela, representante do Instituto Brasileiro de Ecologia e Desenvolvimento Sustentável, disse que o beneficiamento dos frutos do Cerrado pode ser ampliado em Minas
O facilitador do Comitê Mineiro da Cúpula dos Povos Alexandre Augusto Dornelas Cruz defendeu a agroecologia

Redução da pobreza e preservação ambiental são defendidas

Painel da tarde de Ciclo de Debates abordou tecnologias sociais capazes de aliar aumento de renda e respeito à natureza.

01/06/2012 - 18:54

Ações integradas com a preservação do meio ambiente, de baixo custo e de fácil aplicabilidade. Estes foram os parâmetros das propostas apresentadas no painel “Produção, Consumo, Meio ambiente e Pobreza: os desafios de um desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente justo”. O painel abriu os trabalhos da tarde do Ciclo de Debates Rumo à Rio+20 e à Cúpula dos Povos: tecnologias sociais, sustentabilidade e superação da pobreza, realizado nesta sexta-feira (01/6/12) no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O objetivo dos expositores foi propor soluções que pudessem se tornar ações multiplicadoras para demandas sociais, como o tratamento dos recursos hídricos e a construção de modelos produtivos mais sustentáveis.

“Saneamento básico e água de qualidade estão, historicamente, associados à saúde e à erradicação da pobreza”. O apontamento foi feito pelo primeiro expositor, Tilden Santiago, diretor de Meio Ambiente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). Ele dividiu o tempo de exposição com o analista de meio ambiente da empresa e engenheiro civil e sanitarista, João Bosco Senra.

João Bosco apresentou estatísticas demostrando que cresce o consumo de água no país e no mundo, sobretudo nos grandes centros urbanos. Ele lembrou que cuidar dos recursos hídricos é “cuidar de nós mesmos”. Segundo o engenheiro, a população mais pobre é aquela que mais sofre e adoece pela falta de saneamento básico e pela contaminação das fontes. “Sem deixar de mencionar que hoje, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,2 bilhão de pessoas não têm acesso à quantidade mínima desse bem essencial para a sobrevivência humana”, enfatizou.

O analista da Copasa João Bosco Senra também afirmou que é preciso desenvolver práticas que possam minimizar os impactos do modelo econômico vigente relacionados ao consumo da água. “Para isso, temos que efetivar e ampliar ações como a construção de fossas sépticas e de barraginhas, e a colocação de cisternas de placa, estratégias que buscam racionalizar o uso do recurso e proporcionar mais saúde à população, em especial, a mais carente”.

Agronegócio – Para o engenheiro florestal e coordenador técnico do Centro de Agricultura Alternativa (CAA) do Norte de Minas, Álvaro Alves Carrara, só será possível alcançar um desenvolvimento, de fato, sustentável se o modelo convencional do agronegócio for repensado. “A lógica produtiva de sistemas alternativos como a agricultura familiar, além de proporcionar renda e trabalho para a população rural, propicia ainda a preservação do ambiente”, ressaltou.

Ele ponderou, contudo, que a concentração de terra é um dos principais obstáculos para a consolidação desses sistemas mais democráticos e ecológicos. O engenheiro florestal explicou que 70% das terras agricultáveis, no Brasil, estão nas mãos de poucos. O profissional lembrou também que os pequenos agricultores têm mais dificuldade de obter incentivos e financiamentos bancários.

Ainda segundo Álvaro Carrara, a criação do CAA representa justamente a tentativa de fazer face aos latifúndios formados em meados da década de 80 no norte do Estado, que destruíram porções significativas da área com a monocultura de eucalipto, além de ter acuado as comunidades que ali viviam. “Quilombolas, indígenas, vazanteiros foram encurralados, os empreendedores não respeitaram nem mesmo a legislação ambiental da época e precarizaram as condições de trabalho”, alertou.

Ele informou que as comunidades tradicionais estão tentando sobreviver e promover atividades agroflorestais como a cultura de café associada ao cultivo de algumas frutas, atividade referida como “chácaras de café”. O coordenador do CAA disse que as famílias trabalham para implementar práticas sustentáveis, mas que esbarram no problema da posse. “Não é possível consolidar tais sistemas produtivos se não houver garantia de permanência na terra”, salientou. Ele fez ainda um apelo para que as políticas públicas de regularização fundiária possam garantir a posse de terra a esses pequenos agricultores e para que a discussão seja feita de forma radical, “no sentido originário da palavra, irmos à raiz do problema”, concluiu.

Vida mais simples – Direcionando o foco do debate para a questão da preservação dos recursos naturais, a presidente do Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva, Regina Campos, explicou a respeito do trabalho que a organização não governamental faz de registro e formação acadêmica das populações chamadas por ela de “tradicionais”, particularmente os índios e comunidades quilombolas. Segundo ela, a relação desses povos com a terra não é de consumo e sim de respeito. “Eles consideram a terra como um bem de partilha, que precisa ser preservado para as gerações futuras”. Em sua fala, a presidente ressaltou também algumas medidas que considera que serão essenciais na busca de um uso mais sustentável do solo, como o uso de ervas medicinais e chás aliados aos remédios. “Precisamos nos inspirar mais no modo de viver dos povos tradicionais, buscar uma vida mais simples e ter na terra o local onde plantamos e colhemos”, completou.

Representando o Instituto Brasileiro de Ecologia e Desenvolvimento Sustentável, Junio Magela Alexandre contou sobre o trabalho de beneficiamento de frutos do cerrado, que gera produtos medicinais, cosméticos e gastronômicos que poderiam se tornar fonte de renda para os habitantes das cidades do interior de Minas onde esses frutos são mais abundantes. O instituto já desenvolveu esse trabalho com êxito em outros estados do País. De acordo com o advogado, o processo acontece por meio da aplicação do conceito de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal). “Trabalharíamos com a redução da miséria e, ao mesmo tempo, colaboraríamos com a preservação do meio ambiente”.

O facilitador do Comitê Mineiro da Cúpula dos Povos Alexandre Augusto Dornelas Cruz mostrou a rede social que está desenvolvendo, chamada Bioeconomia, por meio da qual as pessoas poderão ter mais informações a respeito do conceito de sociedade em rede e poderão desenvolver atividades por meio da plataforma virtual, como a realização de cursos de educação a distância. “Acreditamos na agroecologia, que é uma agricultura que busca preservar a biodiversidade, na economia popular, na cultura livre, na inclusão digital rural e na inclusão social sistêmica. Creio que o sistema capitalista não pode crescer além dos limites de nossos recursos naturais”.

Após o painel, os presentes ao debate se manifestaram ao microfone, tendo como foco a importância da mobilização da sociedade civil em torno das questões ambientais.