Ricardo Toledo Neder destacou o impacto das tecnologias na sociedade
A representante da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, e Ensino Superior, Lélia Inês Teixeira, assegurou que é diretriz do Governo de Minas a associação dos programas de tecnologia e a melhoria da qualidade de vida da população
Para o mestre em Desenvolvimento Sustentável Claiton Mello, a tecnologia convencional não respondeu às demandas de sustentabilidade
O educador ecológico Filipe Freitas foi um dos que defendeu o desenvolvimento da economia solidária

Especialistas defendem avanço das tecnologias sociais

Novas formas de inclusão e geração de emprego e renda foram tratadas no Ciclo de Debates Rumo à Rio+20, nesta sexta (1º)

01/06/2012 - 12:49

O doutor em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), professor e pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina, Ricardo Toledo Neder, destacou as influências das tecnologias sociais para a população. Ele participou do painel “Conferência Rio+20 e Sustentabilidade: a contribuição das tecnologias sociais", que compôs a programação do Ciclo de Debates Rumo à Rio+20 e à Cúpula dos Povos: tecnologias sociais, sustentabilidade e superação da pobreza. O evento aconteceu nesta sexta-feira (1°/6/12), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

De acordo com o estudioso, a tecnologia tem impacto marcante na sociedade, uma vez que é determinante para a produção, informação, geração de emprego e renda e sustentabilidade. Para ele, o desenvolvimento de tecnologias busca o bem-estar social, mas pode trazer, também, consequências negativas, tais como a subjetividade do pensamento humano e a agressão ao meio ambiente. Em sua fala, Ricardo Toledo Neder defendeu as tecnologias sociais como fruto de interesses e valores hegemônicos que passam pela democratização política. “Infelizmente, 90% dos investimentos em tecnologia, pelo menos na próxima década, serão utilizados para inovações empresariais. Apenas 10% desse total vai ser aplicado nas tecnologias sociais. Espero que a Rio+20 encontre uma forma de equilibrar esses recursos”, ponderou.

Estado busca transversalidade entre tecnologia e ser humano

A superintendente de Inovação Social da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia, e Ensino Superior, Lélia Inês Teixeira, assegurou que é diretriz do Governo de Minas a associação dos programas de tecnologia e a melhoria da qualidade de vida da população. Em sua participação, ela apresentou as ações desenvolvidas pelo Poder Executivo, tais como os 84 centros vocacionais tecnológicos e os 487 telecentros para atendimento da população. Os programas integram a Rede de Formação Profissional Orientada para o Mercado, que busca ampliar as capacidades locais e regionais, e contribuir para o aumento no nível de vida das pessoas. “Realizamos alfabetização digital e qualificação profissional, que geram cerca de 1,5 milhão de acessos à internet todos os meses nos nossos centros”, salientou. De acordo com Lélia Inês Teixeira, a rede é a maior do Brasil a oferecer capacitação gratuita nos segmentos de empreendedorismo, desenvolvimento social e sustentabilidade.

Ainda em seu discurso, a representante da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior falou sobre os novos projetos da pasta, voltados para pessoas pessoas com deficiência e para a educação na utilização da água como recurso.

Gerente da Fundação Brasil critica tecnologias convencionais

O mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) e gerente de Educação e Tecnologia Inclusiva da Fundação Banco do Brasil, Claiton Mello, destacou que a tecnologia convencional, do sistema capitalista, não respondeu às demandas de sustentabilidade. “Pelo contrário, ela tem consumido o planeta de maneira quase irreversível. Essas tecnologias, que  fomos obrigados a assumir, acabam com os recursos naturais”, afirmou Claiton. Ele lembrou que a promessa de melhoria das condições de vida no mundo tecnológico não ocorreu e que 1/6 da população mundial continua passando necessidade.

Foi para tentar mudar este quadro que, segundo Claiton, as tecnologias sociais surgiram. “Precisamos de um processo democrático e de participação popular para desenvolver novos mecanismos tecnológicos e conhecer como eles podem ter impacto direto na vida das pessoas e em sua realidade”, ponderou. Claiton defendeu ainda a importância de debates como este promovido pela Assembleia para tentar construir uma política envolvendo a tecnologia, ciência e sociedade como um elemento único.

Economia solidária – Uma dessas tecnologias sociais é a economia solidária, que foi defendida por Claiton Mello e pelo último expositor do painel, Filipe Freitas, que é membro da Associação Terra Una, educador ecológico e gestor de projetos socioambientais, com atuação nas redes do Educação Gaia, da Rede Global de Ecovilas e do Movimento de Cidades em Transição. Para Claiton, a economia solidária é importante no sentido de que as pessoas são atendidas de acordo como suas necessidades e que produzem impacto em suas vidas. “Precisamos pensar o planejamento a partir das percepções das pessoas”.

Em sua fala, o educador ecológico Filipe Freitas destacou que a economia solidária promove uma convergência capaz de implantar soluções tecnológicas sociais de forma cooperativa. Outra força poderosa, para ele, é a rede de permacultura, onde, por meio de princípos ecológicos, são mantidos sistemas de escala humana (jardins, vilas, sítios e comunidades) ambientalmente sustentávies, socialmente justos e financeiramente viáveis. "É uma constatação de que podemos sim viver bem, de forma mais integrada e saudável", ressaltou.

Filipe Freitas destacou ainda que o desenvolvimento de tecnologias brandas tem ganhado força entre empresários, "apesar de existir um falso marketing verde". Para ele, parte do empresariado tem se mostrado sensível a questões da sustentabilidade. Segundo Filipe, um dos conceceitos do mundo empresarial atual é a super produtividade de recursos, onde cada unidade de energia no sistema de produtivo deve ser utilizado com maior eficácia, para diminuir o desperdício. "Em breve usaremos cada unidade de energia com 10 vezes mais eficiência", afirmou.