Em audiência, foram discutidas estratégias para a reestruturação da Associação Mineira de Paraplégicos
Deputados defendem apoio do poder público à Associação Mineira de Paraplégicos

Autoridades querem que associação vire centro desportivo

Parlamentares e convidados debateram possíveis soluções para o abandono da Associação Mineira de Paraplégicos (AMP).

16/05/2012 - 14:12

Razões políticas e má gestão foram apontadas como possíveis causas para o atual estado de abandono da Associação Mineira de Paraplégicos (AMP), localizada em Belo Horizonte. Entre as possíveis soluções apontadas, está a de transformar a instituição em um centro desportivo. A situação da AMP foi discutida durante audiência pública realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, nesta quarta-feira (16/5/12).

Um dos fundadores e ex-presidente da entidade, vereador Leonardo Mattos (PV), contou que, na época da sua criação, em 1979, a ideia era formar um grupo para defender os direitos das pessoas com deficiência. “A discussão culminou na AMP, que acolheu não só paraplégicos, mas pessoas com outras deficiências”, disse. Para ele, a associação conseguiu se organizar politicamente na defesa de seus direitos e, por isso, atraiu inimigos. “Mas não só razões políticas, mas também más gestões, fizeram com que a associação se endividasse e se desestruturasse”, afirmou. A entidade tem uma dívida de R$ 100 mil com a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), e também débitos com a Companhia Energética do Estado (Cemig), com a Receita Federal e outros.

Situada na Avenida do Contorno, 2.665, no bairro Santa Efigênia, Região Leste da Capital, a instituição já teve vários atletas associados participando de competições paraolímpicas. Em visita realizada em fevereiro deste ano, a comissão constatou o estado de abandono da entidade. Há mais de oito anos sem direção,  a associação vem sendo mantida pelos cerca de 600 frequentadores, que uma vez por semana se reúnem no local, um espaço de aproximadamente 4 mil metros quadrados, e para o qual contribuem mensalmente com R$ 2,00. Para a limpeza do ambiente, os frequentadores utilizam água de um poço artesiano. A água para consumo é fornecida por uma igreja vizinha ao prédio. A piscina está quebrada e suja, coberta por um líquido lodoso; a quadra carece de pintura e reparos, bem como as escadas, portas, janelas, móveis e demais equipamentos.

AMP pode virar restaurante popular por 6 meses

Segundo Leonardo Mattos, a responsabilidade para a solução dos problemas é da proprietária do terreno, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), que propôs, recentemente, transferir o restaurante popular da região dos hospitais para o prédio, durante seis meses. “Em contrapartida, a prefeitura faria uma reforma no local e pagaria todas as dívidas”, afirmou o vereador. Ao final do prazo estipulado, a PBH devolveria o edifício revitalizado e em condições de uso.

Para a gerente de Desenvolvimento Esportivo e Paradesportivo da PBH, Maria Cristina Abreu, a AMP hoje “é só uma figura simbólica”. Em sua visão, a ida do restaurante popular para o prédio será uma oportunidade de melhorar o local. “Os seis meses solicitados serão, ainda, um tempo necessário para que interessados se organizem e pensem como farão uso do local dali em diante”. Na opinião do vereador, a ideia da prefeitura pode ser acatada. “Mas, quando entregarem o prédio renovado, o melhor seria transformá-lo em um grande centro preparador de atletas paradesportivos”, propôs. Para ele, antes de tudo, no entanto, é preciso definir um gestor para o espaço após a entrega do prédio pela PBH.

Profissionalização de atletas – A vice-presidente da Associação Crescendo Com Amor, que tem o objetivo de ajudar a revitalizar o espaço da AMP, Andréa Campos, concorda com o vereador. “Devemos transformar o espaço em um centro de excelência esportiva. Sabemos da história do desporto no País, que sempre foi degradado pelos governos”, afirmou. Ela lamentou, ainda, o fato de a AMP ter chegado no ponto em que se encontra. Apesar de todas as dificuldades, a entidade ainda mantém dois times de basquete paraolímpico, um feminino e um masculino, e alguns poucos atletas individuais em outras modalidades esportivas.

O fundador da Associação das Pessoas com Deficiência de Contagem (Região Metropolitana), Maurício Alves Peçanha, participou da fundação da entidade. Com seu depoimento, ele comoveu participantes da audiência pública, que encheu o auditório do Plenarinho I. “A AMP já foi campeã em tudo: atletismo, basquete e outros. Meu coração está se remoendo, pois é triste demais estar perdendo a associação”, desabafou. Para ele, a instituição já foi “a maior e a melhor entidade de pessoas com deficiência do País”. Ele defendeu a união de todos para tentar reerguê-la. “Se Minas quer avançar, precisa olhar prioridades, principalmente o paradesporto”, afirmou.

Deputados cobram ações de poderes públicos no Estado

A proposta para a realização do encontro na Assembleia foi feita pelo presidente da comissão, deputado Doutor Wilson Batista (PSD), e pelos deputados Marques Abreu (PTB) e Elismar Prado (PT). Marques Abreu disse que, quando conheceu o local, ficou decepcionado. “A decepção maior foi ver o estado deplorável da AMP hoje. Ali, foi possível buscar talentos paraolímpicos. Fiquei surpreso em ver um ambiente tão mal cuidado pelos órgãos públicos”, disse.

Já o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) cobrou um posicionamento mais “firme” da PBH. Elismar Prado, por sua vez, lembrou que a dívida com as pessoas com deficiência é imensa no Brasil. “A história da associação nos emociona e nos motiva a trabalhar ainda mais por ela. Que o Governo do Estado e a PBH possam contribuir para regularizar juridicamente a documentação da entidade, quitando suas dívidas”, ressaltou.

Requerimentos – Como desdobramento das discussões, a comissão aprovou os seguintes requerimentos, de autoria dos deputados Marques Abreu, Elismar Prado e Dalmo Ribeiro Silva:

  • realização de visita à PBH para tratar de assuntos relacionados à Associação Mineira Paraplégicos, com as presenças dos secretários municipais de Planejamento, Orçamento e Informação e de Esporte e Lazer;
  • encaminhamento de pedido de providências, à Secretaria Municipal de Esporte e Lazer  e à Secretaria de Estado de Esporte e Juventude, para que sejam criados centros de referência de esporte e lazer para pessoas com deficiência;
  • envio das notas taquigráficas da reunião ao prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.

Consulte o resultado da reunião.