Novas unidades de ensino técnico são anunciadas para Minas
Gerais
O reitor do Instituto Federal de Minas Gerais
(IFMG) do Ministério da Educação e Cultura (MEC), Caio Mário Bueno
Silva, anunciou, nesta segunda-feira (6/6/11), uma parceria com o
Governo de Minas para a implantação de 13 unidades de ensino técnico
do Programa Brasil Profissionalizado em várias regiões do Estado.
Segundo ele, serão investidos R$ 1,2 bilhão em verbas federais,
sendo que dentro de até 30 dias devem ser liberados os recursos para
a construção das instalações, da ordem de R$ 6 milhões para
cada.
O anúncio foi feito durante o Debate Público
"Cenários da Educação Profissional e Tecnológica em Minas Gerais",
da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais, realizado no Plenário a pedido do
presidente da comissão, deputado Bosco (PTdoB), e do deputado Dalmo
Ribeiro Silva (PSDB). O programa, criado em 2007, tem o objetivo de
fortalecer as redes estaduais de educação profissional e
tecnológica, liberando recursos para que os Estados invistam na
modernização e expansão de suas escolas técnicas.
Mesmo reconhecendo os avanços significativos
verificados nas últimas décadas na educação do País, Bosco ressaltou
que ainda há muitos desafios a serem enfrentados. Se, por um lado, o
crescimento da economia brasileira nos últimos anos elevou o nível
social de muitos brasileiros, por outro trouxe o desafio de ampliar
a formação profissional dos jovens para atender às demandas das
empresas e instituições públicas por mão de obra qualificada,
destacou o parlamentar.
"Educação é sempre uma obra inacabada", disse o
deputado durante a abertura do evento. Segundo ele, o objetivo do
Debate Público é ouvir gestores da área educacional para conhecer os
programas e projetos governamentais em andamento no Estado e no
Brasil para, em seguida, repassar as informações aos 853 municípios
mineiros. Bosco considera que muitas oportunidades de formação
profissional são desperdiçadas devido à desinformação sobre a
existência dessas iniciativas.
Também presente à abertura do Debate Público, o
deputado Rogério Correia (PT) disse que a realidade atual dos jovens
é diferente de algumas décadas atrás. De acordo com o parlamentar,
no passado os estudantes de ensino fundamental e médio tinham uma
perspectiva muito pequena em relação às suas reais possibilidades de
ingressar na universidade, mas isso tem mudado, com programas como o
de cotas para minorias nas universidades federais, o Universidade
Para Todos (Prouni) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e ao Emprego (Pronatec), implementados pelo Governo
Federal.
Institutos federais integraram ensinos técnico e
universitário
Bueno Silva, do IFMG, lembrou a transformação dos
antigos Cefets e colégios técnicos e agrotécnicos em Institutos
Federais. Segundo ele, isso foi uma inovação, ao integrar o ensino
técnico profissionalizante ao universitário, com 50% das vagas para
cada nível. No governo Lula (2003-2010), foram construídos 214 campi
de Institutos Federais no Brasil, informou o reitor, acrescentando
que o compromisso do governo Dilma é criar mais 206 nos próximos
quatro anos. Até 2022, a meta é chegar a mil campi, o que, na
opinião de Bueno Silva, ainda é um número bastante tímido em relação
aos chamados países desenvolvidos.
Representando a secretária de Estado de Educação,
Ana Lúcia Gazzola, o superintendente de desenvolvimento da Educação
Profissional, Roberto Márcio Guerra, apresentou números do Programa
de Educação Profissional de Minas Gerais (PEP). Os investimentos no
programa, segundo ele, chegam a R$ 100 milhões por ano, oferecendo
84 cursos em vários eixos tecnológicos e atendendo a 172,8 mil
alunos em todo o Estado, dos quais 111 mil são bolsistas. Sem
informar o prazo, o superintendente disse que a meta é chegar a 500
mil alunos.
Criado em 2007, o PEP prevê investimentos de R$
119,9 milhões em 2011, com 35 mil ofertas de vagas. O objetivo do
programa é oferecer educação profissionalizante gratuita de
qualidade, criando oportunidades no mercado de trabalho aos seus
participantes. Os cursos são oferecidos em todas as regiões do
Estado.
Qualificação no campo -
Cerca de 5.100 cursos de formação profissional rural foram
oferecidos em 2010 pelo Serviço Nacional de Aprendizagem de Minas
Gerais (Senar-MG), o que qualificou 70 mil trabalhadores,
aproximadamente. Os números foram apresentados pelo coordenador de
Formação Profissional Rural do Senar, Luiz Ronilson Araújo Paiva. A
entidade foi criada em 1993 e mantém cursos em áreas como cultura de
bois, cabras e café, agroindústria e extrativismo.
De acordo com Luiz Ronilson, o Senar mantém
parcerias com instituições como a Empresa Brasileira de Agropecuária
(Embrapa) e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas (Epamig),
que promovem a formação de instrutores, principalmente para lidar
com café de montanha. Todos os cursos oferecidos pelo Senar são
gratuitos.
Mercado precisa de bons currículos e capacidade
crítica, afirma especialista
O professor da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Hormindo Pereira de
Souza Júnior, afirmou que as diretrizes educacionais do País foram
delimitadas na década de 1990 e se orientam para a empregabilidade e
o desenvolvimento de competências do trabalhador. Ele destacou que o
atual mercado de trabalho não considera apenas o currículo, mas dá
importância a profissionais que saibam trabalhar em grupo e
organizar o fluxo de informações que marca a sociedade
contemporânea. Além disso, o professor chamou a atenção para
demandas por trabalhadores que realizam várias tarefas, saibam
compartilhar conhecimento e tenham capacidade de analisar
criticamente a realidade.
O reitor do IFMG, Caio Bueno Silva, considerou que
uma das mudanças pelas quais a educação profissional deve passar é
conectar a produção de conhecimento com o mercado de trabalho. Ele
criticou o distanciamento entre as escolas de ensino profissional o
mercado de trabalho. Segundo Caio, a falta de conexão remonta a
década de 1970, durante a luta contra a ditadura, quando
"demonizávamos o mundo do trabalho".
Debates - O despreparo dos
jovens que saem do ensino médio e iniciam os cursos de
profissionalização foi um dos aspectos abordados pelo representante
do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de
Lavras (UFLA), Lucas Marques Pereira, um dos participantes do Debate
Público desta manhã. O reitor do IFMG, Caio Mário Bueno Silva,
concordou que muitos alunos chegam às universidades e institutos
federais com dificuldades e com a necessidade de passarem por um
nivelamento.
Para Bueno Silva esse problema é fruto de um
projeto pedagógico de ensino fundamental que, na sua avaliação, é
equivocado e de pouca consistência. O reitor afirmou ainda que já
está sendo discutido, no âmbito do MEC, um exame nacional de ensino
técnico, nos moldes do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(Enade), para avaliar o rendimento dos alunos dos cursos técnicos do
Pronatec.
Outro questionamento feito durante a fase de
debates pela participante Marilda Brígida Souza foi em relação ao
número de estudantes que participaram do Programa de Educação
Profissional (PEP) no Estado e que já conseguiram um emprego. De
acordo com o superintendente de desenvolvimento da Educação
Profissional, Roberto Márcio Guerra, o percentual de jovens
empregados varia entre 55 e 65%. Guerra também lembrou que há um
esforço constante de formar novas parcerias que integrem estudante,
escola e empresa, com o objetivo de ampliar a oferta de emprego para
os jovens trabalhadores.
O secretário geral do DCE da UFLA, Rodrigo
Matsumoto Cobra, questionou como o jovem que faz um curso
profissionalizante estará preparado para se manter no emprego, uma
vez que não há uma preocupação com a atualização profissional. O
professor da UFMG, Hormindo Pereira de Souza Júnior, avaliou que a
formação deveria ir além dos limites do mercado, valorizando a
capacitação dos jovens.
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