Projetos de prevenção e combate às drogas marcam debate público

Projetos da Polícia Militar de prevenção ao uso de drogas, experiências de comunidades terapêuticas no tratamento de ...

15/06/2009 - 00:01
Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais
 

Projetos de prevenção e combate às drogas marcam debate público

Projetos da Polícia Militar de prevenção ao uso de drogas, experiências de comunidades terapêuticas no tratamento de usuários e a necessidade de sistematizar dados sobre essa área. Esses foram os focos principais do Debate Público Contextualização do uso de drogas na Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizado nesta segunda-feira (15/6/09) pela Comissão Extraordinária de Políticas Públicas de Enfrentamento à Aids, às DSTs, ao Alcoolismo, às Drogas e aos Entorpecentes. Realizado no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais a requerimento dos deputados Célio Moreira (PSDB) e Gilberto Abramo (PMDB), o evento reuniu diversos dirigentes de órgãos e entidades voltadas para a prevenção e combate ao uso de álcool e drogas.

O tenente-coronel Armando Leonardo Linhares apresentou os programas da Polícia Militar de prevenção às drogas. Ele afirmou que a atuação da PM se dá em três níveis - prevenção primária, secundária e terciária. No primeiro nível, a polícia trabalha desde 1998, com o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), ministrando palestras para crianças a partir de 5 anos até jovens de 18 anos. De acordo com o militar, até 2008, 314 mil pessoas foram atendidas no Estado, sendo 78 mil só na RMBH. Até esse ano, 314 municípios foram atendidos com o Proerd, programa baseado num projeto desenvolvido nos Estados Unidos. O próximo passo do programa é atingir também os pais com as palestras.

No nível secundário, a PM desenvolve o projeto Jovens Construindo a Cidadania, que consiste na parceria entre escolas e comunidades, visando "alcançar um ambiente livre de drogas, crime e violência". A PM conta ainda com uma patrulha de prevenção às drogas, que encaminha usuários para o tratamento. Por fim, no campo da prevenção terciária, Armando Linhares informou que a PM criou em 2006 o Grupamento Especializado em Policiamento em Áreas de Risco (Gepar). Com esse grupo, a PM oferta tratamento a dependentes químicos em situação de vulnerabilidade e risco em aglomerados urbanos. O trabalho vem sendo desenvolvido principalmente na chamada "Crackolândia", na Pedreira Prado Lopes, em Belo Horizonte, e é articulado com Poder Judiciário, Ministério Público, Governo do Estado, Polícia Civil e PBH.

Subsecretário defende política pública para o setor

O subsecretário de Estado de Políticas Antidrogas, Cloves Benevides, conclamou a comissão e os participantes do debate a passarem dos dados sobre drogas para a prática. "Que essa sistematização buscada aqui na comissão se consolide numa política pública articulada para o setor", defendeu. Ele comunicou ainda a realização da Conferência Estadual de Políticas de Combate às Drogas, que será entre 10 e 12 de setembro, e que foi precedida de 120 conferências municipais. Ele também lamentou que o Governo Federal não tenha lançado iniciativa nacional sobre o tema.

A mudança no perfil do usuário de drogas foi enfatizada pelo coordenador de Prevenção e Triagem do Grupo de Apoio da Família Caná, Zilton Alves da Silva. Para ele, a droga que promove a afinidade entre usuários atualmente é o crack. "Grande parte dos jovens em tratamento nas nossas comunidades são usuários de crack", lamentou ele, lembrando que isso levou a mudanças no perfil do usuário e nas formas de abordagem e tratamento. Ele lembrou que só na RMBH, há 54 comunidades terapêuticas, que atendem 1.620 residentes e realizam 6.480 atendimentos mensais. Em nome das comunidade, ele reivindicou auxílio financeiro permanente do poder público.

A coordenadora do Grupo Solidariedade Minas Gerais, Maria Lúcia Antônio, falou sobre o trabalho desenvolvido por essa ONG, voltada para a assistência aos portadores de HIV. De acordo com ela, o grupo atua na prevenção e na chamada redução de danos. Essa última consiste em estratégias para prevenção das consequências danosas do uso de drogas, respeitando a liberdade individual e garantindo o direito humano aos serviços de saúde da rede pública. Maria Lúcia avalia que a política de redução de danos é importante, uma vez que a maioria dos usuários atendidos pela entidade apresenta alguma doença: "89% são soropositivos, 36% tem pneumonia e apenas 2% não têm nenhuma doença", informou. Ela ainda destacou a importância do encaminhamento de usuários aos serviços de saúde. "Se o usuário vai direto para o posto de saúde, na maioria das vezes, ele nem é recebido. Por isso, é importante encaminhá-lo", disse.

O presidente do Conselho Municipal Antidrogas de Belo Horizonte (Comad-BH), Anthero Drummond Junior, defendeu a atuação mais efetiva na prevenção às drogas, em quatro frentes: educação, por meio da capacitação de servidores da área; trabalho conjunto com setores afins, visando reduzir a violência e as drogas; ampliação de programas que vêm apresentando resultado positivo; e desenvolvimento de atividades conjuntas da escola com a comunidade.

Falta diagnóstico completo do setor

Convidada a fazer um diagnóstico sobre o sistema de atenção às drogas, Raquel Martins Pinheiro, diretora do Centro Mineiro de Toxicomania (CMT-Fhemig), disse ser impossível sua missão, pois esse levantamento não existe. "Há uma completa falta de dados, o que nos impede de fazer ações de forma coordenada", criticou ela, avaliando que as informações disponíveis são dispersas e desencontradas.

A coordenadora do Grupo Solidariedade/MG, Maria Lúcia Antônio, defendeu a política de redução de danos desenvolvida pela entidade. Questionada se a distribuição de instrumentos para uso de drogas não estimularia o consumo, ela afirmou que esta medida tem o objetivo de diminuir o contágio e a incidência de doenças decorrentes do consumo de drogas. "Nossa atuação não tem o objetivo de reduzir a demanda, mas é uma política para reduzir os danos, como o próprio nome diz", afirmou.

Questionado sobre o que o Poder Legislativo pode fazer diante da redução de investimentos do Estado no combate ao uso de drogas, o deputado Célio Moreira (PSDB) disse que os parlamentares podem apresentar emendas orçamentárias que beneficiem o setor, a exemplo do que ele próprio fez. "Essa redução que ocorreu agora não é exclusividade da saúde. A crise mundial levou o governo a promover uma redução de 15% a 20% no orçamento de todas as secretarias", afirmou. Moreira também pediu apoio para divulgar o teste gratuito de aids que será promovido em uma próxima reunião da comissão, por meio de análise de fluido oral.

O deputado Fahim Sawan (PSDB) também destacou a realização dos testes. "Existem quase 60 mil pessoas em Minas que têm o vírus da aids e não sabem que estão contaminadas", afirmou Sawan. Ele cobrou a participação da Secretaria de Estado da Educação nos encontros da comissão e destacou a importância de que todos os setores participem e somem esforços para a proposição de uma política concreta para combate ao uso de drogas e doenças sexualmente transmissíveis.

Já o deputado Antônio Genaro (PSC) defendeu sua experiência de 40 anos como pastor na Igreja Quadrangular. "Já recuperei milhares de pessoas envolvidas com drogas, mas para isso, é preciso trabalhar com amor. Quando alguém nos trata com amor de verdade, nós sentimos", afirmou. Ele criticou também a abordagem adotada pelas entidades que atuam nessa área. "O usuário é tratado na entidade, faz terapia, mas com a base não se mexe: a alma".

Presenças - Deputados Fahim Sawan (PSDB), coordenador da comissão; Célio Moreira (PSDB) e Antônio Genaro (PSC). Também participou Magda Lúcia Diniz e Silva Rocha, referência técnica em Saúde Mental.

 

 

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