Hospital do Câncer Infantil de Juatuba deve ter outra destinação

A identificação de outra finalidade para o prédio onde está sendo construído, pela ONG Aura, o Hospital do Câncer Inf...

14/08/2008 - 00:01
 

Hospital do Câncer Infantil de Juatuba deve ter outra destinação

A identificação de outra finalidade para o prédio onde está sendo construído, pela ONG Aura, o Hospital do Câncer Infantil de Juatuba, pode ser a solução para o impasse criado pela impossibilidade de credenciamento do hospital pelo SUS. A sugestão foi apresentada pelos participantes da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, que debateu o assunto nesta quinta-feira (14/8/08). A reunião foi solicitada pelo deputado João Leite (PSDB) que, ao final da audiência, apresentou requerimento, juntamente com o deputado Durval Ângelo (PT), para inclusão da situação do hospital na pauta do encontro da comissão com o secretário de Estado de Saúde, agendada para o próximo dia 26.

Os deputados também querem propor, durante o encontro, uma parceria formal entre a Secretaria de Estado da Saúde e a Associação Unificada de Recuperação e Apoio (Aura) para os serviços de suporte terapêutico de nefrologia e cardiologia às crianças e adolescentes com câncer.

O impedimento para que o hospital de Juatuba fosse credenciado pelo SUS ocorreu em função de portaria baixada pelo Ministério da Saúde em 2005, que determinou que a unidade que atende aos pacientes com câncer tem que ser completa, realizando, além das cirurgias, o tratamento quimioterápico e radioterápico. "O Hospital do Câncer Infantil não tem estrutura para atender a todas as exigências", afirmou a subsecretária de Estado de Saúde, Helidea de Oliveira Lima, que reforçou que o credenciamento de qualquer serviço de saúde atende a critérios federais. Helidea elogiou o trabalho desenvolvido pela Aura e disse que o governo tem interesse em ter a ONG como parceira no acompanhamento dos pacientes e seus familiares. Ela ponderou, contudo, que seria necessário o estudo sobre a necessidade do hospital para a população.

Desde 1998 a Aura realiza um trabalho de apoio às crianças com câncer e seus familiares, em uma casa de apoio em Belo Horizonte. Nesse espaço, que recebe famílias de várias partes do Estado, há brinquedoteca, apoio pedagógico às crianças em tratamento, além de acompanhamento com fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos. Para os pais são oferecidas também oficinas de capacitação. Em 2001, a Aura conseguiu a doação de um terreno de 102 mil m² em Juatuba para construção de um hospital oncológico. Nas obras iniciadas com doações de empresários e doações populares, já foram investidos cerca de R$ 5 milhões.

Especialista diz que não há demanda reprimida em oncologia infantil em BH

A médica Soraya de Paula Paim, que representou o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Helvécio Miranda Magalhães Júnior, defendeu que não há demanda reprimida em oncologia infantil em Belo Horizonte que justifique um pedido de reconsideração do caso do hospital por parte do ministério. "O que temos é carência no apoio às famílias, sobretudo das que vêm do interior", afirmou. Opinião semelhante tem o membro do Comitê de Onco-Hematologia Pediátrica, Eduardo Ribeiro Lima. Ele também acredita que a Santa Casa e os Hospitais da Baleia e das Clínicas suprem a demanda de atendimento aos pacientes de câncer infantil, mas que o apoio dado às famílias pela Aura é fundamental.

Recursos utilizados para construção de hospital devem ser devolvidos à Aura

Para o provedor da Santa Casa Belo Horizonte, o ex-deputado federal Saulo Levindo Coelho, os recursos para a construção do hospital deveriam ser revertidos à Aura e aplicados em uma nova casa de apoio, que pudesse atender a um número maior de famílias. O prédio de Juatuba, segundo ele, deveria ser transformado em um hospital geral para atendimento da região. O assessor jurídico da Aura, José Alfredo Baracho Júnior, defendeu o entendimento de que a boa fé dos doadores de recursos para o hospital precisa ser preservada. "As doações foram feitas para um hospital de câncer e não para qualquer outra finalidade", afirmou, embora reconheça a legitimidade do governo como gestor do sistema de saúde. O advogado concordou com a sugestão de Saulo Coelho para a solução do problema. "O dinheiro doado deve ser usado na casa de apoio de Belo Horizonte", concluiu.

A diretora da Aura, Eliane Fernandes Dantas, defendeu as motivações para a construção do hospital de Juatuba enfatizando que foram feitos, sim, estudos profundos sobre as carências de atendimento da população. Segundo ela, no próprio documento da Secretaria de Estado da Saúde encaminhado à ONG para comunicar a impossibilidade de credenciamento, o Estado reconhece que o hospital foi construído seguindo as normas vigentes na época. "Se o governo diz que o atendimento de alta complexidade está completo, só nos cabe acatar", afirmou.

No entanto, a diretora da Aura pediu que o governo formalize, por meio de um documento, a promessa de que reverterá o investimento feito pela associação na construção do hospital para a ampliação do atendimento feito pela associação em Belo Horizonte. Segundo Eliane Dantas, a Aura está com dificuldades de arrecadar recursos para suas atividades porque as pessoas a associam ao hospital. "O trabalho está limitado. Não em qualidade, mas em número de atendimentos", lamentou.

Os deputados João Leite e Durval Ângelo (PT) garantiram que vão continuar acompanhando o caso e ressaltaram a importância do trabalho desenvolvido pela entidade. O deputado Domingos Sávio (PSDB) se disse otimista ao perceber que todos os envolvidos no debate têm as mesmas preocupações. "Queremos que a população seja bem atendida e consideramos o trabalho da Aura imprescindível", resumiu.

Requerimentos - Durante a reunião foram aprovados vários requerimentos. O deputado Durval Ângelo solicitou providências ao ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, ao secretário de Estado de Defesa Social, ao chefe da Polícia Civil, aos promotores de Justiça da comarca de Nanuque e à Corregedoria do Sistema Prisional para solução do problema da cadeia pública de Nanuque, tendo em vista o homicídio de um agente penitenciário ocorrido em seu interior no ano de 2005, e de crimes praticados contra presos nos anos de 2006 e 2007, entre outras denúncias.

O deputado também pede providências da Corregedoria do Ministério Público Estadual sobre as denúncias apresentadas por Jussara Aparecida Emiliano contra a promotora Jaqueline Ferreira Moises, da 13ª Promotoria de Direitos Humanos. Ele também pede o envio de ofício ao secretário de Estado de Defesa Social para que seja garantida a urgente transferência do apenado Fabiano Vieira da Costa da cadeia pública de Cambuí, que não oferece condições de abrigá-lo, contrariando a legislação penal.

Durval Ângelo solicitou ainda audiência pública para debater a homologação e a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, efetivada por meio de decreto do presidente Lula, pois será julgada ação judicial no Supremo Tribunal Federal questionando o diploma legal de demarcação das terras.

Em outro requerimento, o deputado pede o envio de cópia da filmagem da região para o Colégio Marista Dom Silvério, de Belo Horizonte, uma vez que os alunos do 2º ano do ensino médio da escola acompanharam a reunião. Durval Ângelo também solicitou, por requerimento, que seja remetida à Diretoria de Rádio e Televisão da ALMG e à TV Minas cópia do vídeo institucional dos serviços prestados pela Aura para divulgação sistemática.

Presenças - Deputados Duval Ângelo (PT), presidente; João Leite (PSDB), Antônio Carlos Arantes (PSC) e Domingos Sávio (PSDB). Também participaram da reunião o presidente do Conselho Deliberativo da Aura, Maurílio Augusto Fleury Amaral; o assessor jurídico da Aura, Rômulo Ferreira; a advogada Ana Flávia Patrus de Souza; e o diretor da Fundação Lucas Machado (Feluma), Leonardo Tadeu Camporé Précia.

 

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