Garimpeiros querem desembargo de mineração de feldspato

Linópolis, distrito de Divino das Laranjeiras, que fica a 383 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce, há quatro dé...

22/11/2005 - 01:00
 

Garimpeiros querem desembargo de mineração de feldspato

Linópolis, distrito de Divino das Laranjeiras, que fica a 383 km de Belo Horizonte, no Vale do Rio Doce, há quatro décadas vive da extração de feldspato, uma rocha decorativa que também entra na composição das louças. Cerca de 100 garimpeiros extraíam 1.500 toneladas mensais dessa rocha, vendendo-a a R$ 25 a tonelada para comerciantes de Governador Valadares. Outras 2 mil toneladas mensais constituíam os rejeitos, amontoados perto do Ribeirão São Geraldo, afluente do Rio Doce.

Em agosto último, uma operação de rotina da Polícia Ambiental embargou as minas, lavrando as multas em impressos do Ibama. Desde então, a prefeita de Divino das Laranjeiras, Maria Helena Bernardino dos Santos, e os representantes dos garimpeiros vêm procurando meios de liberar a atividade, nos gabinetes do Ministério Público, do Ibama, da Feam, do Copam e da Codemig, em companhia do representante da cidade, deputado José Henrique (PMDB).

O desemprego trazido pelo embargo vem causando um problema social gravíssimo que veio desembocar na Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembléia Legislativa. Uma audiência pública, requerida pela deputada Elisa Costa (PT), reuniu mais de 30 desses garimpeiros e representantes dos órgãos envolvidos na tarde desta terça-feira (22/11/05). A intenção da deputada foi levantar as responsabilidades de cada órgão e promover um acordo que permita a retomada da extração de feldspato.

Codemig, DNPM, Copam e Ibama querem ajudar o desembargo

Pelos depoimentos apresentados, a Codemig é detentora de três direitos minerários na região, herdados de suas antecessoras Metamig e Comig. Das 23 frentes de trabalho, nove ou dez estariam sob domínio de outros titulares. As autorizações de lavra são expedidas pelo DNPM, para serem exploradas de forma sustentável. Luiz Eduardo Machado de Castro, chefe do 3º Distrito do DNPM, encontrou uma área de 917 hectares e outra de 990 hectares concedidas à Codemig.

"Podemos propor uma cessão de direitos para uma cooperativa de garimpeiros. No entanto, se a Codemig desistir das áreas, essas têm que ser postas em licitação", alertou Machado. Jólcio de Carvalho Pereira, assessor jurídico da Codemig, disse que a empresa é de economia mista com 98% pertencentes ao Estado, e que o assunto está "amarrado por várias peias jurídicas. Estamos sujeitos à Lei 8.666 e não podemos fugir da licitação". Sua proposta é reunir o corpo jurídico da empresa em busca de amparo legal para um atalho paliativo que atenda os garimpeiros, mas alertou que esta solução não virá tão rápido.

João Alves Filho, gerente regional Leste do Ibama, advertiu que se a Codemig renunciar ao título, as áreas ficam disponíveis. Mas que, se forem a licitação, haverá um enorme risco de expulsão dos garimpeiros. "Os garimpeiros são a parte fraca nessa história. As empresas do Espírito Santo entram em Minas, explodem, destroem e não acontece nada com elas. Grandes empresas são capazes até de derrubar pareceres no Supremo e fazem o que querem. Acho que está ao alcance da Codemig fazer cessão de direito ou arrendamento. O Ibama tem a maior disposição em desembargar esse empreendimento, sem abrir mão da preservação ambiental, mas levando em conta que nada degrada mais do que a miséria".

A prefeita de Divino das Laranjeiras disse que está disposta a assumir o passivo ambiental e retirar das margens do Ribeirão São Geraldo os milhares de toneladas de detritos, que podem ser utilizados no cascalhamento de estradas municipais. Alexandre Magrineli, do Copam Leste, disse que é necessária uma ofensiva dos órgãos ambientais para fazer capacitação dos garimpeiros para a preservação ambiental. Anunciou também o interesse de uma empresa européia de cerâmica em criar um pólo naquela região.

Termo de Ajuste de Conduta x formação de uma Oscip

A solução que pareceu mais viável aos deputados é provocar o Ministério Público estadual a elaborar um termo de ajuste de conduta (TAC), documento que permitiria ao Ibama retirar o embargo. O deputado José Henrique disse que essa alternativa já foi tentada com o promotor de Justiça de Galiléia, Lélio Braga Calhau, mas que não prosperou porque a Codemig não compareceu. Nassif comprometeu-se a participar do TAC, confiando que o presidente da empresa o apoiará nessa decisão. "Se somos um pedaço do problema, também devemos fazer parte da solução", afirmou.

A deputada Jô Moraes (PCdoB) apresentou outra alternativa, que seria a transformação da Associação dos Garimpeiros em uma Oscip, que poderia receber da Codemig a cessão dos direitos minerários. Marcelo Nassif acha que uma parceria público-privada com uma Oscip poderia ser um caminho para a solução, mas não seria tão rápida quando um TAC, que teria efeito imediato.

Vários garimpeiros deram relato de suas dificuldades aos deputados. "Tenho quatro filhos. Deus os iluminem para que voltem o nosso serviço, porque, quando a gente vê os filhos com fome, a cabeça fica doida", disse Herson. "A barriga não pode esperar", ajuntou Edilson. O secretário do meio ambiente de Divino das Laranjeiras, José Ir de Oliveira, considerou "uma vergonha uma empresa ter o direito de lavra e nunca trabalhar, e empresas de granito se registrarem e nunca abrirem frentes de serviço". Criticou também a falta de uma legislação que permita aos garimpeiros idosos a aposentadoria.

Os deputados Fahim Sawan e Luiz Humberto Carneiro, ambos do PSDB, declararam aos garimpeiros seus sentimentos de solidariedade e a angústia por não haver uma solução imediata para o problema. Luiz Eduardo Castro, do DNPM, disse que 40% de toda a mineração e 50% de todos os impostos gerados pela atividade mineral no Brasil estão em território mineiro. No entanto, tem apenas quatro técnicos para cobrir todo o Estado. A solução será a admissão de mais 12 funcionários num concurso que está sendo realizado.

"Esta gestão do DNPM tem uma visão social maior que as anteriores. Estamos também implantando um sistema de outorga on-line. O país inteiro será georreferenciado em quadrículos de 150 x 150 metros. Se a área estiver livre, o candidato já retira seu alvará de pesquisa. O formato de cooperativa de garimpeiros também será valorizado. Inclusive o garimpo de Serra Pelada será reativado através de cooperativa", informou Castro.

Presenças - Deputada Elisa Costa (PT), presidente; deputada Jô Moraes (PCdoB); deputados Paulo Cesar (PDT), José Henrique (PMDB), Luiz Humberto Carneiro (PSDB) e Fahim Sawan (PSDB). Além dos mencionados, esteve presente também Luiz Antônio Pacheco, presidente da Associação dos Garimpeiros.

 

 

 

 

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