Deputados querem barrar licença a torres no Belvedere III

Os deputados João Leite (PSDB), Sávio Souza Cruz (PMDB) e Doutor Ronaldo (PDT) fizeram uma visita aos promotores do m...

03/11/2005 - 01:00
 

Deputados querem barrar licença a torres no Belvedere III

Os deputados João Leite (PSDB), Sávio Souza Cruz (PMDB) e Doutor Ronaldo (PDT) fizeram uma visita aos promotores do meio ambiente do Ministério Público, na tarde desta quinta-feira (3/11/05). Com essa visita urgente, os deputados tentam barrar a licença prévia - que pode ser emitida pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente na próxima quarta-feira - para um empreendimento imobiliário numa área de recarga de mananciais de abastecimento de Belo Horizonte e Nova Lima, com 80 mil m2, localizada entre o BH Shopping, o Hospital Biocor, a Faculdade Milton Campos e a BR-040. A área é conhecida como Belvedere III.

O deputado Sávio Souza Cruz fez uma exposição minuciosa das irregularidades que encontrou no processo de licenciamento, que já tem 912 páginas. Entre elas, denuncia que o empreendedor Fernando Valle não provou a propriedade do terreno, que outros pretensos proprietários aparecem nos documentos, como as construtoras Cobrasa, Canopus e Solução Comercial, além de uma empresa chamada Praxis que comparece como procuradora e porta-voz de Fernando Valle. Eles pretendem aterrar uma concavidade com 30 mil caminhões de entulho, e com isso destruir um manancial que fornece 180 litros por segundo de água ao abastecimento de 70 mil pessoas dos bairros Belvedere, Santa Lúcia e Olhos D'Água.

"Num passe de mágica, o empreendimento que era para 288 apartamentos saltou para 593 unidades e uma torre comercial de 27 andares. E os órgãos municipais estão ansiosos para aprová-lo, a ponto de não verificar se há assinatura nos pareceres técnicos e prescindir do indispensável parecer jurídico", acusou Souza Cruz. Ele reivindica também que o licenciamento caiba aos órgãos ambientais do Estado, e não à PBH, já que atinge área de proteção especial e afeta também o município de Nova Lima.

Sávio Souza Cruz acrescentou que repetidos laudos da Copasa e do antigo IBDF (hoje Ibama) consideraram indispensável o manancial e recomendaram a sua preservação, mas recentemente, por pressão da Prefeitura de Belo Horizonte, que seria sua acionista, a estatal de saneamento estaria modificando sua posição.

Projeto de lei cria Estação Ecológica

Está em tramitação na Assembléia um projeto de lei de autoria da deputada Lúcia Pacífico (PSDB), que cria a Estação Ecológica do Cercadinho, com 247 hectares, protegendo aqüiferos, flora, fauna, solo e paisagem, sob administração do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Se aprovado, o projeto inviabilizará o empreendimento. Ao deputado João Leite, relator do projeto, repugna particularmente o aterro da concavidade de recarga do manancial. "A área tem 30 mil metros quadrados e pretendem entupi-la com uma pilha de entulho de 18 metros de altura", condenou o deputado.

O procurador-geral de Justiça, Jarbas Soares Jr., ouviu atentamente os argumentos, juntamente com o procurador assistente Jairo Cruz Moreira, e com os três promotores do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, Rodrigo Cançado, Fernando Galvão e José Maria dos Santos Júnior. Várias estratégias de atuação foram sugeridas por eles, inclusive um ato informal conjunto entre o CAO-MA e a Comissão de Meio Ambiente da Assembléia.

Santos Jr. assegurou que o parcelamento tem que ser licenciado pelo Estado, mas que as edificações são de competência da Prefeitura. "Se mudaram o projeto, aumentando as edificações, estão obrigados a reiniciar o processo de licenciamento, sujeitando-se à nova legislação", disse o promotor.

Jarbas Soares Jr. propôs uma ação cautelar de tutela inibitória para remoção do ilícito, ou seja, conseguir uma ordem judicial para paralisar o processo de licenciamento até que todas as irregularidades sejam sanadas. Quer também chamar os técnicos da Prefeitura e alertá-los sobre as conseqüências da concessão do licenciamento nas condições em que o processo está. Ele considera prematuro entrar agora com ações criminais ou de improbidade administrativa.

Fernando Galvão, que já havia imposto um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) ao empreendedor, para que corrigisse um processo de erosão no terreno, disse que seu TAC está sendo mal usado. "O termo mandava só recuperar a área degradada. Eles estão entendendo que o licenciamento ambiental não é necessário porque assinaram um TAC. A nossa idéia é prosseguir com a ação de tombamento do terreno.

Histórico - Originalmente, a área onde se situa a reserva do Cercadinho pertencia ao Estado, que transferiu sua posse e uso ao município de Belo Horizonte, em 1894, já que competia a esse o serviço de abastecimento de água. Mas não teria transferido a propriedade. Em 1982, a Bacia Hidrográfica do Cercadinho passou a ser tratada como Área de Proteção Especial (APE). Em 1989, o município entregou o terreno para a Fratezzi Gonçalves Finelli Engenharia e Construção Ltda., como pagamento de uma dívida. Foi uma iniciativa do ex-prefeito Sérgio Ferrara, para quitar parte da dívida de construção da nova sede da Câmara Municipal, em Santa Efigênia. Essa transferência é questionada, porque o imóvel não era propriedade da Prefeitura.

Ainda em 1989, a Fratezzi Finelli, falida, vendeu a gleba para a atual proprietária, a Fernando Valle S.A. Em 1990, novo decreto redefiniu seu perímetro, com o contorno atual. Na condição de APE, cabe ao Estado decidir sobre qualquer projeto de parcelamento e desmembramento do solo em seus domínios, conforme determina a Lei Federal 6.766, de 1979, e o Decreto Estadual 39.585, de 1998. O decreto estipula, no parágrafo 1º do artigo 5º, que a anuência do Estado será precedida de licença de instalação a ser emitida pelo Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam).

 

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