Dificuldades e avanços da educação inclusiva são debatidos

"O Brasil fez a opção pela construção de um Sistema Educacional Inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial de Ed...

27/06/2005 - 00:00
 

Dificuldades e avanços da educação inclusiva são debatidos

"O Brasil fez a opção pela construção de um Sistema Educacional Inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial de Educação parta todos, com ênfase para o acesso e a qualidade". A afirmação foi feita pela deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão de Participação Popular, que solicitou e presidiu a reunião conjunta com a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Informática da Assembléia, nesta segunda-feira (27/6/05). Durante o audiência pública, o Coral de Cegos do Instituto São Rafael cantou o Hino Nacional e outras três músicas.

A audiência pública teve como objetivos tratar da educação inclusiva, na perspectiva de pessoas com necessidades especiais; trocar experiências entre as entidades envolvidas e buscar a melhoria no atendimento a esse grupo, formado por superdotados, indígenas e pessoas com deficiências físicas ou mentais. Segundo Maria Tereza Lara, a educação inclusiva não se tornará realidade por decreto, sem que se avaliem as condições que propiciem a inclusão. Isso vai depender, na visão da parlamentar, de políticas públicas e de práticas institucionais e pedagógicas que garantam a qualidade do ensino, envolvendo alunos com ou sem necessidades educacionais especiais.

O apoio da Assembléia de Minas ao movimento por um sistema de áudio descrição na televisão e cinema brasileiros foi solicitado pela gerente do Centro de Apoio Pedagógico para o Atendimento das Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte, Elizabete Dias Sá. A áudio descrição é um sistema, já previsto inclusive na legislação brasileira, que consiste em um canal de áudio, o mesmo da tecla SAP, pelo qual um locutor explica o que acontece nas cenas. Quanto à educação inclusiva, a dirigente, avalia que, do ponto de vista legal, grandes conquistas foram obtidas, mas há uma grande distância entre a teoria e a prática. Ela acrescentou que qualquer mudança nesse sentido tem que vir de "dentro para fora", com o engajamento real de todos. "Mais desgastante do que ter uma deficiência é lidar com uma sociedade que não tem sensibilidade para solucionar problemas de acessibilidade e para criar alternativas para a pessoa deficiente", disse Elizabete, que é cega.

Escolas de BH priorizam o acolhimento à diferença

Margareth Diniz, do Núcleo de Relações Étnico-Raciais, de Gênero e de Sexualidade da Educação da Prefeitura de Belo Horizonte, informou que, nas 182 escolas municipais, a ênfase é dada ao acolhimento à diferença. De acordo com ela, as crianças negras ainda apresentam problemas maiores na aprendizagem, o que se explica pelo racismo velado presente nas escolas e na sociedade. A PBH tentaria combater isso com políticas públicas, através dos núcleos. Outra forma de atuação seria a luta pela implantação da Lei Municipal 10.639, que inclui nos currículos a cultura afro. O núcleo também lançou recentemente um kit de literatura afro-brasileira, para valorizar a imagem dos negros, livrando-os do estereótipo de que só atuariam em profissões menos qualificadas. Também a articulação com os movimentos sociais, para Margareth, propiciaria a valorização da cultura negra, viabilizando a apresentação de grupos de música, dança nas escolas.

Superdotados - Representando o Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais, a professora Vera Lúcia de Souza e Lima, falou do portador de altas habilidades ou superdotados. Segundo a Organização Mundial de Saúde, esse grupo compõe entre 1% e 3% da população mundial, e por possuir inteligência divergente, precisa de plano de ensino individualizado, considerou Vera Lúcia, que é mãe de um superdotado, o garoto Carlos. Mas, na avaliação dela, os superdotados têm sua trajetória ignorada, e o Brasil acaba desperdiçando o enorme potencial dessas pessoas "adequadas aos anseios por inovação dos vários setores produtivos".

A deputada federal Maria do Carmo Lara (PT-MG), que representou o Conselho Regional de Psicologia (CRP), avaliou que, mesmo com as dificuldades enfrentadas pelos que lutam pela educação inclusiva, muitos avanços têm sido obtidos. Ela divulgou que o CRP promoveu, no dia 14 de abril, uma comemoração pelo Dia Nacional da Educação Inclusiva. Essa campanha, segundo a deputada, foi tão importante que o conselho a está realizando pelo segundo ano consecutivo.

Segregação reduz capacidade de recuperação

A psicóloga da Coordenação Municipal de Saúde Mental de Belo Horizonte, Rosalina Martins Teixeira, considera que a exclusão escolar é uma face da exclusão social. Para ela, a maior parte das dificuldades dos excluídos poderia ser minimizada se eles fossem acolhidos pelas escolas. "A escola exclui a diferença: os que têm ritmo diferente de aprendizado, os que são muito levados e até os que têm talentos especiais", comentou. Rosalina Teixeira ponderou, no entanto, que é preciso dar conta da dificuldade da inclusão política e socialmente. "Não dá para dizer que a educação precisa abarcar todas essas demandas", defendeu a psicóloga que considera que a luta pela inclusão escolar vem desde a época da luta anti-manicomial.

Opinião semelhante tem o representante do Fórum Mineiro de Saúde Mental, Paulo José Azevedo de Oliveira. "A segregação diminui as condições de recuperação, porque mina a auto-estima da pessoa excluída", afirmou. Para ele, é necessário reforçar o papel do Estado como legislador e fiscalizador, além de desenvolver estratégias didáticas e terapêuticas que ajudem o paciente com sofrimento mental a conviver com seu delírio. "O importante é humanizar os tratamentos. Questiono o efeito da medicação no tratamento das doenças mentais", defendeu.

Preconceito - O preconceito enfrentado pelos homossexuais foi tratado pelo Luiz Fernando Ferreira Schalcher, do Centro de Referência da Diversidade Sexual, que iniciou sua fala dizendo que a sexualidade diz respeito a todas as minorias, a todas as pessoas. Ele desabafou: "Se um negro é agredido na rua, a família o apóia quando ele chega em casa. No caso dos homossexuais, quando são agredidos ficam em silêncio, correndo o risco de serem agredidos em casa também."

Schalcher acredita que a escola é uma das instituições fundamentais no processo de superação do preconceito e da inclusão das minorias. As outras seriam a família, a religião e a mídia. "Os homossexuais que são afeminados sofrem o preconceito mais violentamente. Aqueles que não se enquadram no estereótipo acabam reprimindo a homossexualidade para serem aceitos", explicou. Ele defendeu a inserção da disciplina sobre sexualidade no currículo escolar desde os 7 anos, pelo menos, e a estadualização e municipalização do Programa "Brasil sem Hemofobia" do governo federal.

Outra categoria que apresentou suas reivindicações de inclusão foram os "Sem Universidade". O representante do movimento, criado em 2001, Gildázio Alves dos Santos, afirmou que a sigla MSU é nova, mas a luta pelo acesso à universidade é antiga. Segundo ele, a reforma universitária já teve alguns avanços, no entanto, ele considera o adiamento das cotas para 2015 um retrocesso. Gildázio também informou que está sendo criado pelo Movimento dos Sem Universidade o índice de mercantilização do ensino em Minas Gerais. "O latifúndio da educação é maior que o latifúndio agrário", comparou.

Na fase de debates, representantes de várias entidades que trabalham pela inclusão social apresentaram dados de suas entidades e ressaltaram a importância da realização de outros encontros para troca de experiências. A pedagoga de Betim Maria Lúcia Amaral deu um depoimento dizendo que a escola se prepara para receber crianças com algum tipo de deficiência quando a primeira bate à porta, se referindo ao episódio de um pai que foi matricular um filho cego na escola em que ela trabalhava. "Não dá para aprender para depois inserir, mas aprender a inserir, inserindo", concluiu.

Presença - Deputada Maria Tereza Lara (PT), presidente da Comissão de Participação Popular.

 

 

 

 

 

 

 

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