CPI da Mina Capão Xavier ouvirá mineradoras e Copasa
A CPI da Mina Capão Xavier vai ouvir mais três
depoimentos na reunião desta quinta-feira (23/6/05), às 10 horas, no
Plenarinho IV. Os deputados vão receber o presidente da Associação
dos Municípios Mineradores de Minas Gerais (Amig), Waldir Salvador
de Oliveira; a ex-funcionária da Copasa Marília Bourchardet e a
servidora da companhia Valéria Caldas. Elas integraram grupo de
trabalho da companhia que supervisionou os empreendimentos da MBR na
APA-Sul. Os requerimentos são, respectivamente, dos deputados Fábio
Avelar (PTB) e Antônio Júlio (PMDB).
O objetivo de Avelar é saber mais sobre o trabalho
das mineradoras e sobre sua atuação na geração de emprego e renda
dos municípios. Segundo informações do gabinete, o parlamentar
pretende conhecer o outro lado dessa atividade. Na reunião do dia
16, o deputado lembrou que não se pode ser contra a atividade
mineradora simplesmente e que alguns depoimentos à CPI davam essa
impressão. Já o deputado Antônio Júlio quer ter mais informações
sobre o grupo de trabalho da Copasa. Também na última reunião, o
frei Gilvander Luís Moreira, do Movimento Capão Xavier Vivo, citou a
funcionária Valéria Caldas. Ele apresentou fotos da estação
ecológica de Fechos, com cortes de árvores e caminhos abertos na
terra após o que chamou de "invasão da MBR".
O frei informou aos deputados que conseguiu cópia
do Boletim de Ocorrência (BO) feito em Fechos, a pedido da geóloga
da Copasa Valéria Caldas Barbosa. No documento, a PM constatou,
segundo Gilvander, intervenção em uma área de 2 mil m², próxima a
curso d´água, sem autorização de órgão ambiental. No BO, consta que
a responsabilidade da intervenção foi assinada pelo engenheiro
ambiental da MBR, Carlos Eduardo Leite. "A MBR está atuando em uma
área restrita. Isso é crime ou não?", questionou ele, que está
envolvido na defesa de Capão Xavier desde 2004.
Histórico - A CPI foi
criada para apurar a regularidade dos processos de licenciamento
prévio, instalação e de operação das atividades da Minerações
Brasileiras Reunidas (MBR) no Estado, bem como do julgamento dos
recursos dos autos de infração atribuídos a essa mineradora, que é
subsidiária da Vale do Rio Doce. Até agora, os deputados ouviram 15
pessoas e fizeram uma visita técnica à Mina Capão Xavier. O
presidente da comissão é o deputado Márcio Kangussu (PPS); o vice, o
deputado Biel Rocha (PT); e o relator, o deputado Domingos Sávio
(PSDB).
Capão Xavier é um empreendimento da MBR em Nova
Lima que conta com uma reserva de 173 milhões de toneladas de
minério de alto teor de ferro, uma das últimas reservas de alto teor
do Quadrilátero Ferrífero, com previsão de exploração de 22 anos,
com 8 milhões de toneladas/ano, representando 20% da produção da
empresa. Ela entrou em operação no segundo semestre de 2004, depois
que o Tribunal de Justiça derrubou liminar de 1ª instância que
impedia o funcionamento e após várias reuniões da Comissão de Meio
Ambiente com técnicos, Ministério Público e moradores da região.
Tais discussões motivaram a formação da CPI, que iniciou os
trabalhos em 3 de março.
Saiba quem a CPI ouviu até agora
* 16/6/05: a comissão ouviu o frei Gilvander Luís Moreira, do
Movimento Capão Xavier Vivo; e o subsecretário de Estado de
Desenvolvimento Minerometalúrgico e de Política Energética, Fernando
Lage de Melo, um dos representantes do governo no Conselho Estadual de
Política Ambiental (Copam). O frei afirmou que o empreendimento da
MBR precisa ser paralisado para que os quatro mananciais de água -
Fechos, Catarina, Mutuca e Barreiro - sejam preservados. Ele
informou que a estação ecológica de Fechos apresenta caminhos
abertos na terra e cortes de árvores. Já Fernando Melo explicou que,
desde 2003, participa da Câmara de Atividades Minerárias, que
entendeu, por unanimidade, em três reuniões, que o empreendimento da
MBR cumpre a legislação ambiental. O subsecretário garantiu que não
houve qualquer pendência técnica nos três processos de licenciamento
da Mina de Capão Xavier.
* 9/6/05: O ex-procurador da PBH Marco
Antônio de Resende Teixeira declarou que o município não tem competência para
legislar ou fiscalizar ações da MBR e que não cabia à PBH o
licenciamento da mina. Segundo ele, a prefeitura limitou-se a
autorizar a servidão de passagem para construção da estrada que leva
à mina, o que teria ficado condicionado à concessão do licenciamento
ambiental pelos órgãos estaduais. Ele informou que, devido a uma
relação contratual de desapropriação de 1956, o município tem
direito de uso e gozo de parte da área, visando sua preservação,
respeitado o direito do proprietário (a MBR) de empreender
atividades como mineração. Inicialmente a pretensão da MBR era a
desconstituição do direito de uso e gozo, mas a PBH considerou que
não seria conveniente abrir mão dele e impôs condicionamentos ao
empreendimento. Para tanto, contratou estudos próprios sobre o
impacto ambiental e, em confronto com os da MBR, chegou-se ao termo
de compromisso que assegura monitoramento da água e exige seguro
ambiental.
* 2/6/05: a comissão ouviu o advogado
Otávio Gonçalves Freitas, um dos autores de ação popular contra
a MBR, e a diretora de Indústria e Mineiração da Fundação
Estadual de Meio Ambiente (Feam), Zuleika Chiacchio Torqueti.
Freitas disse que a operação da mina foi liberada, apesar de estar
na Área de Preservação Ambiental (APA) Sul, criada para preservar
principalmente os mananciais para abastecimento de água da RMBH. O
advogado disse também que a MBR, em seus estudos, teria citado
várias leis, mas ignorado a Lei 10.793, de 1992, que trata da
proteção de mananciais para abastecimento público. Nesse caso, o
órgão ambiental teria a obrigação de cobrar explicações do
empreendedor. A diretora da Feam afirmou que a lei não proíbe
empreendimentos em mananciais, desde que se cumpram os
condicionantes - nesse caso, são 33, grande parte voltados para o
monitoramento. Mensalmente, é monitorada a qualidade das águas
superficiais em vários córregos e também das águas subterrâneas. As
detonações e vibrações são medidas todo semestre, com o primeiro
relatório tendo sido elaborado no segundo semestre de 2004,
apresentando valores dentro do permitido, quanto ao nível de ruído e
outros aspectos. O monitoramento do ar, iniciado antes da operação
da mina, revelou a redução de partículas na atmosfera.
* 24/5/05: a comissão visitou a Mina de
Capão Xavier,
mas a inspeção foi prejudicada por causa da forte neblina. O gerente
de meio ambiente da MBR, Leandro Quadros Amorim, e o engenheiro
responsável pela mina, Marco Aurélio Amaral, informaram que o nível
de ruído e a emissão de poeira estão dentro do permitido. Amaral
disse que, para secar o minério e permitir a sua exploração, a MBR
perfurou um poço com 200 metros e dele bombeia 230 m³ de água
límpida por hora. Essa água vai por tubulação até o sistema da
Copasa no viaduto da Mutuca, sendo suficiente para abastecer três
bairros da região. Quanto à recarga dos aqüíferos, a comissão
demonstrou preocupação com o rebaixamento de Capão Xavier, que é
divisor de águas entre afluentes do Ribeirão Arrudas e do Rio das
Velhas. Os engenheiros informaram que a mina, de 20 a 25 anos, ao
final da exploração, será um grande lago, maior que a Pampulha, e
que servirá ao abastecimento da Capital. No entanto, técnicos que
acompanharam a visita alertaram que o empreendimento não tem licença
do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) para rebaixar o
lençol freático até onde pretende.
* 19/5/05: a comissão ouviu o
ex-superintendente Jurídico da Copasa Pedro Scapolatempore. Na opinião dele, a Lei 10.793, de
1992, que trata da proteção de mananciais para abastecimento
público, não foi descumprida no licenciamento da mina. A lei veda,
no artigo 4º, a instalação, nas bacias de mananciais, de
empreendimentos que comprometam os padrões mínimos de qualidade das
águas. É a expressão "padrões mínimos" que, segundo Scapolatempore,
mostra que a lei não está sendo desrespeitada. Ele foi chefe do
setor jurídico de 1983 a 2003.
* 12/5/05: a comissão ouviu a diretora
de Instrumentalização e Controle do Instituto de Gestão das Águas
(Igam), Célia Maria Fróes, e o assessor da Diretoria de Operação
Metropolitana da Copasa Rômulo Perili. Este assegurou que não há possibilidade de
desabastecimento de água na RMBH em função da exploração da mina. A
Copasa deu sua anuência à lavra após estudos que começaram em 1989.
Segundo Perili, os mananciais que poderiam ser afetados com a
mineração - o sistema de Morro Redondo - representam 3,5% da
capacidade de produção de água na RMBH; e a Copasa opera com um
sistema integrado de transferência de água de diferentes mananciais.
Célia Fróes negou qualquer irregularidade no parecer do órgão, que
subsidiou o licenciamento de operação da mina. Explicou que foram
concedidas três outorgas de utilização das águas. Uma para
perfuração de poço para pesquisa hidrológica; outra para construção
de barragem para contenção de sedimentos e para captação de água do
Córrego Seco (afluente do Ribeirão dos Fechos); e a terceira para
que a empresa desviasse pequeno trecho do córrego. Os dois cursos
compõem a bacia que abastece a região Sul, com 400 mil habitantes.
Antes dessas licenças, o Igam emitiu parecer que subsidiou a decisão
da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) na concessão da licença
prévia do empreendimento, que impunha condicionantes à empresa, como
a necessidade de monitorar a água da mina.
* 4/5/05: a comissão ouviu Inácio
Pereira Garcia Júnior, ex-gerente regional do Instituto Estadual de
Florestas (IEF) em Barbacena. Ele negou que tenha desconsiderado a exigência de
reserva legal de no mínimo 20% da área florestal, quando autorizou o
desmatamento para construção da estrada que liga a mina à BR-040.
Ele disse que, até quando participou do processo, a questão das
medidas compensatórias estava prevista, mas seriam negociadas quando
fosse tratada a licença para a cava da mina. Garcia Júnior trabalhou
no IEF até 12/12/03.
* 28/4/05: a comissão ouviu o
procurador-chefe da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam),
Joaquim Martins da Silva Filho, que refutou irregularidades e
interferências políticas e econômicas para aprovar a licença.
Garantiu que seu parecer foi baseado em relatórios avalizados pela
Feam. Em sua opinião, a Lei 10.793 não foi interpretada
"gramaticalmente" porque isso inviabilizaria qualquer empreendimento
no Quadrilátero Ferrífero. Frisou que a liberação para o
funcionamento da mina é de responsabilidade da sociedade,
representada no Comitê Estadual de Política Ambiental (Copam), que
reúne setor produtivo, ongs e governo (inclusive da ALMG e MP). A
comissão também ouviu o procurador do Estado César Raimundo da
Cunha.
* 26/4/05: a comissão ouviu o promotor
Fernando Galvão, da Curadoria de Proteção ao Meio Ambiente, que apontou falhas e
omissões no parecer da Feam e no Estudo de Impacto Ambiental (EIA)
que balizaram o licenciamento para operação da mina. Ele é um dos
autores da ação que tramita na Justiça contra a exploração. Entre os
problemas, está a falta de um plano de gestão hídrica que demonstre
a garantia de abastecimento de água para moradores de Nova Lima.
Além disso, hoje classificada como "especial", a água vai passar
para "classe dois", o que implica decréscimo de pureza. A cava da
mina terá 60 milhões de m³, 1 km² de superfície e profundidade de
140 metros. O parecer da Feam teria várias contradições. Entre elas,
a informação de que, em determinado ponto, a exploração vai atingir
o lençol freático, que terá de ser rebaixado. Contudo, os impactos
não estão detalhados pela empresa MDGel, contratada pela MBR para
fazer o EIA.
* 14/4/05: a comissão ouviu o
funcionário público Gustavo Gazzinelli e o corretor Ricardo
Santiago, que ajuizaram, em dezembro de 2003, ação popular
questionando o licenciamento. Eles temem o impacto negativo da
mineração sobre a qualidade das águas e criticaram a atuação do
Copam. Segundo eles, a câmara de atividades minerárias do Copam, que
autorizou a exploração da mina, estaria comprometida com os
interesses das mineradoras. De acordo com Santiago, a mina fica
dentro da APA da Mutuca, em Nova Lima, e o EIA elaborado pela
própria MBR aponta a possibilidade de redução de 40% na vazão da
água dos mananciais. Quando a mina estiver esgotada, em 2025, a cava
dará lugar a um lago cujas águas não têm previsão para utilização
para consumo humano. Outra irregularidade seria a contratação da
empresa espanhola Frasa Ingenieros pela MBR para a elaboração da
análise preliminar que serviu de base para o EIA. De acordo com
Santiago, a empresa não tem registro no Crea-MG e, portanto, não
estaria autorizada a fazer esse tipo de trabalho. O estudo prévio
foi entregue em espanhol, o que não é permitido pela legislação
brasileira, segundo o engenheiro. Foi ouvida também Delze
Laureano.
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