Direitos Humanos debate emigração ilegal para EUA

O combate a práticas criminosas na emigração ilegal apresenta dados crescentes, segundo o procurador da República em ...

23/03/2005 - 00:00
 

Direitos Humanos debate emigração ilegal para EUA

O combate a práticas criminosas na emigração ilegal apresenta dados crescentes, segundo o procurador da República em Minas, Eduardo Morato Fonseca. Segundo ele, estão em andamento 600 inquéritos policiais sobre uso de documentos falsos, em especial passaportes e vistos; 400 inquéritos contra falsificação de documentos públicos; 690 ações contra uso de passaporte falso; e 642 inquéritos sobre conduta de falsificação. Segundo ele, há poucos casos em que são investigados concomitantemente o uso e o processo de falsificação de documentos. Ele foi um dos convidados da audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, realizada nesta quarta-feira (23/3/05), para discutir denúncias sobre a morte de brasileiros que tentaram entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

O procurador citou as dificuldades que a Polícia Federal e o Ministério Público Federal encontram para levantar provas da vinculação do patrimônio com a atividade criminosa, tendo em vista o sigilo bancário e fiscal. Eduardo Morato Fonseca também lembrou que a emigração tem estimulado a lavagem de dinheiro e que o sistema paralelo de remessa de dólares impede que o Banco Central controle a entrada e saída de divisas do País. O procurador ressaltou que dados não oficiais informam que 10% das tentativas de entrada nos Estados Unidos, via México, são fracassadas. Esse relato, porém, pode ser subestimado, segundo ele. A alternativa para desestimular a imigração ilegal, para Fonseca, seria divulgar que essas pessoas estão lidando com criminalidade organizada e as estatísticas sobre mortes e prisões.

Campanha publicitária mostra ação de coiotes

O jornalista Alan Rodrigues, da revista Isto É, falou sobre os 10 dias em que atravessou o deserto para produzir a reportagem que revelou a existência de um cemitério com cerca de 180 brasileiros sepultados e não identificados. A reportagem, publicada na edição de 2 de março de 2005, denuncia que há crianças e adolescentes presos nos Estados Unidos pela tentativa de emigração ilegal. Alan Rodrigues apresentou cartazes e vídeos de uma campanha publicitária divulgada no México mostrando as mortes e a ação dos coiotes; e disse que há interesse das autoridades norte-americanas em produzir campanha semelhante no Brasil. Coiotes são os agenciadores da emigração ilegal, custeando a viagem que fica em cerca de US$ 15 mil. Os emigrantes ficam presos aos contratos verbais por anos, até quitarem a dívida, entregando tudo que recebem nesse período ao agenciador. Alan Rodrigues disse que hoje existem cerca de 1.300 brasileiros presos nos Estados Unidos.

O deputado Padre João (PT), que pediu a reunião, disse esperar que o debate não só sensibilize os mineiros, mas provoque resultados concretos como a proteção de familiares de vítimas da emigração ilegal e a punição das agências. Ele propôs a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), para estudar a atuação das quadrilhas de falsários de passaportes, e disse já estar colhendo assinaturas. Já o deputado Jayro Lessa (PL) acredita que falta uma política diplomática do Brasil para facilitar a obtenção de vistos para os Estados Unidos. Ele lembrou que Governador Valadares recebe US$ 120 milhões por ano e que os emigrantes merecem respeito.

Outros deputados, como José Henrique (PMDB) e Elisa Costa (PT), falaram sobre o assunto, lembrando a necessidade de estabelecimento de políticas públicas para a região do Rio Doce, que coíbam a emigração em busca de melhores condições de vida. O deputado federal Ivo José (PT) lembrou as discussões que já vêm sendo feitas na Câmara dos Deputados, sobre os problemas de travessia e prisão de brasileiros ilegais nos Estados Unidos. Ele disse que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara vai realizar um debate sobre o assunto no próximo dia 31. No ano passado, a Câmara, por meio da Comissão de Assuntos Internacionais, participou do repatriamento de 200 brasileiros que estavam presos nos Estados Unidos. O parlamentar federal insistiu para que os órgãos diplomáticos brasileiros atuem mais na assistência e proteção de brasileiros, "onde quer que estejam".

Convidada também para falar a respeito da reportagem sobre o tema, a jornalista do jornal Estado de Minas Fernanda Odila destacou que as quadrilhas que atuam em Governador Valadares já ganharam status de máfia, "com os negócios passando de pai para filho". Para ela, tão problemático como a travessia do deserto do México, é o rastro de violências que estas quadrilhas deixam no País, "extorquindo as famílias dos que emigraram". Ela disse que as quadrilhas de Valadares estão exportando know-how para outros pontos do Estado, como Poços de Caldas.

Requerimentos aprovados

Durante a reunião, foram aprovados seis requerimentos do deputado Durval Ângelo (PT):

- solicitando a realização de uma audiência pública da comissão no dia 31 de março, destinada a debater o descumprimento da Lei 13.187/05, que determina o pagamento de indenização a vítima de tortura praticada por agente do Estado;

- para que seja agendada uma audiência pública no dia 7 de abril, às 14 horas, para obter esclarecimentos e debater a situação funcional dos jornalistas e radialistas contratados pela Fundação Cultural TV Minas. O requerimento foi motivado por denúncias de possíveis violações aos direitos e garantias fundamentais dos profissionais, apresentadas pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais e pelo Sindicato dos Radialistas de Minas Gerais, na relação contratual firmada com a empregadora;

- para que seja agendada uma audiência pública no dia 8 de abril, às 10 horas, no município de Uberlândia, para obter esclarecimentos sobre a condenação em primeira instância de dois policiais militares, denunciados pelo Ministério Público por envolvimento em roubo. Eles teriam sido acusados pelo autor confesso do delito, que teria sido vítima de tortura e obrigado a confessar a participação dos policiais;

- para que seja feita uma visita da comissão à cadeia pública de Cachoeira de Minas, para verificar a situação carcerária e obter esclarecimentos sobre denúncias de tortura contra os presos;

- solicitando a realização de uma audiência pública no dia 26 de abril, para debater a garantia dos direitos fundamentais dos fenilcetonúricos, portadores de uma moléstia que provoca a não produção de uma enzima, o que os impossibilita de consumir alimentos à base de proteínas, em quantidades existentes no mercado.

Presenças: Deputados Roberto Ramos (PL), Biel Rocha (PT), Jayro Lessa (PL), Elisa Costa (PT), José Henrique (PMDB) e Padre João (PT); diretora de Promoção dos Direitos Humanos e Inclusão Social da Subsecretaria de Direitos Humanos, Márcia Martini; e o conselheiro do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Élcio Pacheco.

 

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