Segurança Pública pede afastamento de diretor de
presídio
A Comissão de Segurança Pública da Assembléia pediu
o afastamento temporário do diretor da Penitenciária de Teófilo
Otoni, Élio da Motta Leal, para permitir a investigação de
irregularidades denunciadas por cinco agentes penitenciários. A
solicitação foi feita em requerimento aprovado durante audiência
pública na Câmara Municipal de Teófilo Otoni, nesta terça-feira
(23/11/04). O requerimento foi proposto pelo deputado Marcelo
Gonçalves (PDT), e recebeu assinatura também dos deputados Sargento
Rodrigues (PDT) e Rogério Correia (PT).
As denúncias mais sérias contra o diretor do
estabelecimento penal são a recusa de apurar crime de tráfico
ocorrido há seis anos dentro da penitenciária, durante sua primeira
gestão. Reconduzido ao cargo em julho de 2003, Motta Leal foi
novamente denunciado por negligência que teria resultado em resgate
de preso, durante atendimento hospitalar, em abril deste ano.
Embora o diretor tenha rebatido as versões dos
denunciantes, os deputados levaram em conta que cerca de 30 dos 60
agentes em serviço compareceram à audiência para se manifestar
contra ele. "Está claro para nós que não há clima de trabalho entre
o diretor e os agentes penitenciários. Portanto, estamos propondo ao
subsecretário de Administração Penitenciária, Agílio Monteiro, que o
afaste temporariamente - até para preservá-lo - e apure as
denúncias", disse Marcelo Gonçalves.
Dez fugas durante uma noite
O presidente da Comissão, deputado Sargento
Rodrigues, abriu a reunião com a seqüência de depoimentos contra
Élio Leal, a quem pediu que aguardasse em sala anexa, para não
constranger os depoentes. Wilson de Jesus que queixou de que o
diretor "humilha e discrimina pais de família" como ele, diante dos
presos, o que provocaria tumultos e ambiente ruim no presídio. Disse
também que a falta de critério para permitir o trabalho externo
estaria facilitando as fugas, já tendo ocorrido até dez numa única
noite.
Para Wilson de Jesus, o episódio ocorrido em 1998
foi o mais grave. Ele e outros agentes testemunharam que o preso
Leonardo Porto Corrêa foi flagrado junto ao Corpo da Guarda fumando
maconha. Ao ser interpelado pelo agente Rildo Medina, o preso teria
tentado livrar-se da droga jogando-a fora. Para impedi-lo, Medina
atracou-se com ele, sendo agredido até que dois outros agentes
conseguiram dominá-lo e algemá-lo. Corrêa teria se recusado a ser
revistado, a não ser pelo diretor. Leal foi chamado e procedeu
pessoalmente à revista, apreendendo uma quantidade de erva estimada
entre 50 e 400 gramas. A partir daí os depoimentos divergem. Leal
afirma que o preso foi encaminhado pela PM à 14ª Delegacia para
lavratura do flagrante, e que na volta foi recolhido ao castigo da
solitária, por falta disciplinar grave, por 30 dias. Já os agentes
sustentam que a droga foi apreendida e o preso liberado sem punição,
e que pouco tempo depois teria sido solto.
Fuga espetacular do hospital
O caso do preso Nabir da Silva foi relatado pelo
agente Antônio Carlos Pereira da Silva. Condenado a 37 anos em
vários processos de estelionato e roubo à mão armada, Nabir tinha
sido transferido da Penitenciária de Segurança Máxima de Contagem.
Em abril deste ano, teria simulado problema cardíaco para ser levado
a um hospital. Pereira da Silva revelou que ele e o agente Élcio
Evangelista Lemos tinham sido alertados com dez dias de antecedência
de que Nabir tentaria a fuga. Comunicaram o fato à Polícia Militar,
mas esta se recusou a agir preventivamente. O diretor designou dois
agentes desarmados para fazerem a escolta do preso ao Hospital Vera
Cruz, apesar de ser considerado de alta periculosidade. Os agentes
foram dominados por capangas armados de Nabir e este fugiu
caminhando pela porta da frente.
Segundo Motta Leal, o preso teve uma emergência
cardíaca testemunhada em laudo pelo cardiologista, que recomendou
sua remoção para o hospital. O diretor disse que ignorava os alertas
e o histórico de periculosidade do detento, e que despachou Nabir
com dois agentes de guarda, os quais não observaram o procedimento
regulamentar de algemá-lo à cama. Informou aos deputados que o
assunto estava em investigação pela Corregedoria de Presídios. Os
deputados decidiram pedir os resultados da investigação.
Os demais agentes fizeram reclamações do
comportamento inamistoso do diretor. Antônio Nunes Jardim disse que
ele é "muito grosso com a gente". Wesley Amaury Schultz disse que
foi chamado de "folgado" por ele, durante procedimento de revista de
visita íntima. "Nunca sofri tanta humilhação em minha vida",
afirmou. Schultz denunciou ainda que o diretor escalava agentes para
vigiar uma lagoa, para evitar saque de peixes.
Índice de recaptura é de 80%
O diretor Élio Motta Leal teve em seu favor apenas
o depoimento da defensora pública Zenalda Andrade, que relatou
situações mais graves de rebelião ocorridas durante o governo Itamar
Franco. Motta Leal disse, em sua defesa, que a situação da
penitenciária se agravou muito durante os quatro anos em que ficou
fora da direção, e que encontrou a cadeia dominada pelos presos, com
a conivência de muitos agentes. Implantou um sistema mais severo de
disciplina e inclusive exigiu os plantões regulamentares de 12 horas
por 48 de descanso. Isso teria provocado revolta nos agentes, que
estavam acostumados a expedientes mais flexíveis.
Motta Leal informou que a Penitenciária de Teófilo
Otoni tinha 200 presos, não está superlotada, e que 70% dos detentos
estão no regime fechado. "É uma penitenciária em zona rural, sem
muros. Os presos ficam confinados por telas de arame, e que fugas
acontecem. Ele estima que, durante sua gestão, já houve cerca de 30
fugas, mas que o índice de recaptura era de 80%.
Os interrogatórios foram conduzidos principalmente
pelos deputados Sargento Rodrigues e Rogério Correia, aproveitando
sua experiência em mais de um ano de trabalhos da CPI do
Narcotráfico. Rodrigues chegou a questionar se Motta Leal se sentia
mesmo diretor de um presídio sobre cujos presos não tinha sequer
informações básicas, e nem lembrança sobre fatos graves ocorridos lá
dentro. Correia lembrou um episódio em que o subsecretário Agílio
Monteiro promoveu uma devassa naquele presídio, com 80 PMs
revistando tudo e encontrando certa quantidade de drogas e 140
chuços.
Marcelo Gonçalves, que presidiu a CPI do
Narcotráfico, assegurou aos agentes que ficassem tranqüilos, porque
"a corda não vai arrebentar do lado do mais fraco", e que tudo seria
"exemplarmente apurado, doa a quem doer". Maria José Haueisen (PT),
representante de Teófilo Otoni na Assembléia e prefeita eleita da
cidade, lamentou a gravidade das denúncias. "A que ponto chegamos em
nossa cidade, onde se matam às vezes dois ou três jovens que
consomem ou traficam drogas, num único final de semana. Vemos tantos
casos em que adultos se aproveitam da impunidade dos menores para
mandá-los ao crime. Mas ainda pior que o tráfico de drogas é o
tráfico de influência, essa política nefasta que esconde fatos que
deveriam ser apurados", disse Haueisen.
Cinco requerimentos foram aprovados na audiência.
Do deputado Rogério Correia, um pedido à Superintendência de
Organização Penitenciária para enviar informações sobre as
circunstâncias da transferência de Nabir Silva da Segurança Máxima
para Teófilo Otoni. Três pedidos do Sargento Rodrigues para apurar o
caso de Leonardo Corrêa, o resgate de Nabir Silva e o andamento dos
12 processos abertos pelo Ministério Público contra o ex-delegado
Geraldo Magela. E por último o requerimento do deputado Marcelo
Gonçalves de afastamento do diretor, assinado também pelos outros
deputados.
Presenças - Deputados
Sargento Rodrigues (PDT), presidente; Rogério Correia (PT), Marcelo
Gonçalves (PDT), e a deputada Maria José Haueisen (PT).
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