Prefeito de Alfenas nega denúncia de corrupção
Em reunião feita a seu próprio pedido, o prefeito
de Alfenas, José Wurtemberg Manso, que exerce o terceiro mandato,
prestou depoimento à Comissão de Segurança Pública da Assembléia
Legislativa nesta quinta-feira (1º/4/2004). Muito questionado pelos
deputados, que estavam municiados com a denúncia contra o prefeito
feita pelo promotor da comarca de Alfenas e do segundo laudo -
revisado - da Polícia Civil com a transcrição das gravações que
podem comprometê-lo, José Manso negou veementemente que a
distribuição do dinheiro aos vereadores seja propina pela aprovação
de projetos de lei. Segundo José Manso, o pagamento se referia a
trabalho de campanha eleitoral.
Questionado diversas vezes pelos deputados sobre a
origem e os valores dos maços de dinheiro distribuídos, José Manso
afirmou que não sabe precisar as quantias exatas, mas que elas
variavam de R$ 200 a R$ 300, em função do trabalho eleitoral
realizado. "Alguns deputados prometeram mandar o dinheiro e não
mandaram, tive que honrar o compromisso e pagar com um cheque da
minha conta particular. Tenho como provar", afirmou José Manso,
mostrando o extrato bancário de uma pessoa ligada a comitê eleitoral
(que teria sacado em dinheiro R$ 4 mil originados de um cheque do
prefeito) e a cópia desse cheque. Segundo ele, essa quantia
complementaria os R$ 2.500 que já teriam sido enviados ao comitê. A
gravação mostra que o prefeito recebe o dinheiro de um assessor,
divide os maços e, em seguida, quando os vereadores entram na sala,
começa a distribuição. Com descontração, segundo o laudo do
Ministério Público, os presentes começam então a conversar sobre a
necessidade de apoio a projetos de lei.
Deputados apontam contradições
Os deputados questionaram os valores citados pelo
prefeito. "Quando contavam o dinheiro, um vereador disse que poderia
comprar bois e foi corrigido por outro, que disse que daria para
comprar uma boiada", afirmou o presidente da comissão, deputado
Sargento Rodrigues (PDT). Os valores contrastam também com as
quantias declaradas pelos vereadores em depoimento ao Ministério
Público e pela ex-secretária da prefeitura de Alfenas, Andrezza
Torres. Outro argumento dos deputados é que, ao final da
distribuição, um vereador reclama que ainda faltavam mil reais, "o
que leva a crer que faltou a menor parte", na opinião de Sargento
Rodrigues.
A época do pagamento também foi questionada. Após
José Manso afirmar por várias vezes que acreditava que o pagamento
aos vereadores tenha sido feito entre o 1º e o 2º turno das
eleições, o deputado Chico Simões (PT) apontou uma contradição
quanto à origem do dinheiro, tendo em vista que o cheque citado pelo
prefeito foi depositado no dia 27 de outubro, um domingo, isto é,
após a gravação da fita. "A lei eleitoral exige prestação de contas,
que não foi feita", disse Simões. De acordo com Sargento Rodrigues,
a conclusão do Ministério Público é que o pagamento aos vereadores
está relacionado à votação de dois projetos: o que aprova, em
2/9/2002, a concessão e o gerenciamento do terminal rodoviário da
cidade; e outro, de 4/9/2002, que tratou de um julgamento
político-administrativo contra o prefeito, postulando sua cassação.
Neste caso, os vereadores envolvidos teriam votado contrariamente.
José Manso não explica citações
Outro ponto em que José Manso foi bastante
questionado pelos deputados foi sobre a citação, transcrita pela
perícia, em que afirma que, no dia seguinte à aprovação do projeto
da Copasa, estariam liberados R$ 2 mil para cada um, "só para nós,
para a outra turma não". Assistindo ao trecho pela televisão por
várias vezes, José Manso disse não saber explicar ou contextualizar
esse diálogo, já que, segundo ele, o convênio com a companhia de
saneamento só foi assinado um ano depois, em outubro de 2003: "Não
entreguei dinheiro ou fiz promessas sobre a Copasa".
Em outras partes, há diálogos em que o empresário
José Augusto Godoy pressiona o prefeito a cobrar "a taxa da Copasa",
para que recebessem o que havia sido prometido, e a ligar para um
representante da empresa. Sobre a presença constante em seu gabinete
do empresário - que pela conclusão do Ministério Público atua como
lobista de empresas que entram em licitações - José Manso respondeu:
"Meu gabinete é aberto, converso com todos". O deputado Domingos
Sávio (PSDB) disse que em momento algum consta no laudo do
Ministério Público que o pagamento se refere à campanha política.
"Além de não trazer esclarecimentos consistentes, o prefeito traz
acusações sérias que envolvem pessoas sérias", afirmou o
deputado.
Perseguição seria política
"Não usei dinheiro da prefeitura para nada. Peço ao
Tribunal de Contas que faça uma auditoria nas contas da prefeitura e
coloco minha conta e de minha esposa à disposição. Podem fazer uma
devassa. Nada existe sem documento ou licitação", afirmou o prefeito
José Manso. Segundo ele, a situação é fruto de perseguição política,
o que também ocorre na tramitação de um projeto no Tribunal de
Justiça e de sete procedimentos do Ministério Público contra sua
administração. "Tudo ainda será julgado. O que não acho certo são os
atos de vandalismo que fizeram na minha casa, na minha auto-escola e
em vários bens públicos. Quem vai pagar esse prejuízo?", disse,
mostrando aos deputados fotos dos estragos feitos recentemente pela
população.
José Manso reafirmou que não vai se afastar da
prefeitura: "Se as autoridades acharem que devo sair, saio, mas vou
recorrer a todos os órgãos competentes para provar que estou certo".
Para ele, os vereadores envolvidos se afastaram da Câmara por terem
sido pressionados pela população. Como já havia admitido à imprensa,
José Manso afirmou que o sistema de monitoramento de vídeo em seu
gabinete foi montado por vontade própria e com recursos
particulares, por ter sido ameaçado uma vez. "As fitas eram gravadas
e desgravadas. Essas duas foram roubadas", disse.
Notas taquigráficas - "A
comissão ouviu o prefeito para garantir o direito de defesa. Seu
depoimento foi cheio de contradições e as notas taquigráficas desta
reunião serão enviadas para a Procuradoria Especializada em Crimes
de Prefeitos e para o presidente da Câmara Municipal de Alfenas",
afirmou, ao final da reunião, o deputado Sargento Rodrigues, autor
do requerimento com essa finalidade. A pedido do deputado Rogério
Correia, a comissão também vai pedir à Polícia Civil a agilização do
inquérito policial sobre o caso. A polícia já tem indícios
suficientes de corrupção ativa por parte do prefeito e passiva,
pelos vereadores, a partir das provas documentais, do laudo pericial
e do depoimento de testemunhas, segundo Sargento Rodrigues. As
punições podem ser nas áreas civil, criminal e administrativa,
incluindo a cassação do mandato.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), presidente,
Rogério Correia (PT), Zé Maia (PSDB), Chico Simões (PT), Domingos
Sávio (PSDB) e Célio Moreira (PL).
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