Moradores se revoltam contra novo empreendimento no Belvedere

A denúncia de construção de mais um megaempreendimento no bairro Belvedere, zona Sul de Belo Horizonte, com 600 apart...

26/11/2003 - 16:03
 

Moradores se revoltam contra novo empreendimento no Belvedere

A denúncia de construção de mais um megaempreendimento no bairro Belvedere, zona Sul de Belo Horizonte, com 600 apartamentos, levou a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia Legislativa a reunir, nesta quarta-feira (26/11/2003), representantes da Prefeitura, de moradores e de órgãos estaduais. O objetivo foi discutir os impactos ambientais e de trânsito na região. Enquanto a Prefeitura garantiu que tudo não passa de uma consulta preliminar, representantes de associações de moradores provaram, com cópias de documentos, que já existem dois projetos na Câmara Municipal, encaminhados pela Prefeitura, para doar uma área e mudar o zoneamento de outra, permitindo a construção de prédios de 15 metros.

O ponto da discórdia são duas áreas finais no Belvedere III, parte na quadra 84 e a 85. A primeira tem 79 mil m² e integra o loteamento do Belvedere III, alvo de muita polêmica nos últimos dois anos, com o adensamento imobiliário que resultou na construção de 900 apartamentos no local. O novo empreendimento previsto, motivo da denúncia da Associação dos Amigos do Belvedere e da União das Associações de Bairros da Zona Sul de Belo Horizonte, prevê a construção de 600 apartamentos em terreno que pertence à Construtora Lana Vale. A segunda área, com cerca de 20 mil m², pertencente à extinta empresa GGC, vai ser doada pela Prefeitura à Justiça Federal, para construção de sua sede.

Informações divergentes entre Prefeitura e moradores

Os presidentes das duas entidades, Ubirajara Pires Glória e Marcelo Marinho Franco, questionaram a liberação de novas construções pela Prefeitura, lembrando o problema do impacto ambiental, do comprometimento do manancial do córrego do Cercadinho, que abastece os bairros da zona Sul da Capital, bem como o impacto no trânsito e nos acessos ao Belvedere e a Nova Lima. Ibirajara Glória informou que o projeto de lei que permitirá a construção dos prédios é o 1.238/2003, do prefeito. Ele estabelece como zoneamento daquela área a ZP3, o que permite a construção de prédios de 15 metros. Já o PL 1.485/2003 doa a área para a Justiça Federal. O valor de mercado dessa área, segundo Ubirajara Glória, é de cerca de R$ 4,5 milhões.

Os dois projetos estão com tramitação interrompida: o primeiro pela alegação de inconstitucionalidade feita pelo vereador Totó Teixeira, que lembrou que a Lei de Uso e Ocupação do Solo não pode receber alterações antes de quatro anos. A lei foi aprovada em 2000; o segundo, pela pressão das associações de moradores, que querem participar das discussões.

Fala da Prefeitura - A gerente de Patrimônio Histórico e Urbano da Secretaria Municipal de Regulação Urbana, da Prefeitura de Belo Horizonte, Michelle Abreu Arroyo Borges, garantiu que não há empreendimento oficial ainda e que só foi feita uma consulta tanto pela Justiça Federal quanto pelos empreendedores - que ela não soube identificar quem são. Michelle Arroyo disse que as informações repassadas foram sobre diretrizes de construção nos terrenos: a cota altimétrica prevista para o local é de construção com, no máximo, 15 metros; reserva de terra para permeabilidade de 50% da área; e não-ocupação das cabeceiras do córrego Cercadinho.

Nos lotes 1, 2, 3 e 4, onde está prevista a construção dos novos apartamentos, havia um projeto de construção de uma estação do BHBus, que teria um plano viário de integração com a estrada de Nova Lima, com a construção de alças de trânsito e outras intervenções. A área foi tombada provisoriamente, mas os proprietários foram à Justiça, o que inviabilizou o processo. Com a desistência da BHTrans e mais o questionamento sobre o tombamento, o terreno precisou de novo zoneamento, segundo Michelle Arroyo, por isso a necessidade de um projeto para defini-lo. Para resolver tudo, a gerente do Patrimônio disse que o caminho seria a desapropriação, mas a Prefeitura não teria dinheiro. Ela foi, no entanto, contestada por Ubirajara Glória, que disse não entender como a PBH não teria recursos e, no entanto, doa um imóvel de R$ 4, 5 milhões para a Justiça Federal.

Captação da Copasa está comprometida; empresa diz que não foi procurada

A representante da Diretoria Metropolitana da Copasa, Valéria Caldas Barbosa, enfatizou a importância do córrego Cercadinho para a captação de águas da Copasa. O córrego é responsável pelo abastecimento de 2% da cidade, para bairros da zona Sul. Ela defendeu um plano diretor para a Bacia do Cercadinho, que estaria sendo preparado pela Prefeitura, mas que não foi concluído. Valéria Barbosa disse que qualquer loteamento no local, antes de passar pela aprovação dos órgãos municipais, precisa passar pelo crivo da Copasa, segundo decreto estadual de 1990.

Valéria Barbosa garantiu que, apesar disso, a Copasa não foi procurada pelo novo empreendimento. Ela também demonstrou preocupação com as águas residuais dos empreendimentos já existentes no bairro - como o BH Shopping - que estão assoreando o Cercadinho, e também com a utilização dos lençóis aqüíferos subterrâneos pelos condomínios do Belvedere.

Outras autoridades presentes à reunião, como o engenheiro do Crea/MG Túlio Magno, questionou a representante da Prefeitura sobre o esgotamento das instâncias judiciais no caso do Belvedere III. Michelle Arroyo informou que foram esgotadas todas as ações. O diretor da empresa Águas Engenharia, Manoel Alves dos Santos Filho, mostrou fotos de erosão na Mata da Copasa, por causa da drenagem incorreta no Belvedere III, com conseqüências desastrosas, em sua avaliação, para a captação de águas da companhia. Ele sugeriu a presença de um representante da Copasa nas discussões sobre o novo empreendimento.

Consulta à população - Os deputados Fábio Avelar (PTB), autor do requerimento da reunião, e Leonardo Quintão (PMDB), querem que a Prefeitura somente autorize qualquer novo empreendimento após realizar audiências públicas com a comunidade da região.

Parecer aprovado

A Comissão de Meio Ambiente aprovou parecer de 1º turno sobre o Projeto de Lei (PL) 1.082/2003, do governador. O PL institui o Cadastro Técnico Estadual de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais. Pela proposição, o Estado passa a ter direito a 60% das multas arrecadas pelo Ibama, que serão passadas para a Feam e IEF, o que está previsto na legislação federal. O relator, deputado Fábio Avelar, acatou as emendas nºs 1 a 5, da Comissão de Constituição e Justiça, e nºs 6 a 10, da Comissão de Administração Pública. As emendas fazem alterações técnicas no texto original.

Os deputados aprovaram, ainda, os seguintes requerimentos:

* Da deputada Maria José Haueisen (PT), que pede informações ao Ibama sobre as medidas tomadas pelo órgão quanto ao desvio do Rio São Francisco, em Lagoa da Prata;

* Da deputada Maria José Haueisen, pedindo audiência pública da comissão, para discutir a implantação da Mata Escura no Jequitinhonha, pelo Ibama;

* Do deputado Dinis Pinheiro (PL), que solicita ao Ministério Público a apuração da qualidade da água da Lagoa da Petrobrás e a recusa do Corpo de Bombeiros em procurar corpo de pessoa afogada naquele local;

* Do deputado Dinis Pinheiro, pedindo ao Igam que faça a análise da água da lagoa, diante do laudo técnico do Corpo de Bombeiros sobre a contaminação local;

* Do deputado Arlen Santiago (PTB), convidando o Idene para audiência pública sobre estudos de impacto ambiental da construção da represa de Berizal, no Norte de Minas.

Presenças - Participaram da reunião a deputada Maria José Haueisen (PT), presidente; e os deputados Fábio Avelar (PTB), Leonardo Quintão (PMDB) e José Milton (PL).

 

 

 

 

 

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