Lagoa da Petrobrás pode estar contaminada com toxinas letais

A contaminação da Lagoa da Petrobrás, em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que é utilizada pela Ref...

13/11/2003 - 15:45
 

Lagoa da Petrobrás pode estar contaminada com toxinas letais

A contaminação da Lagoa da Petrobrás, em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que é utilizada pela Refinaria Gabriel Passos (Regap), foi o assunto tratado pela Comissão de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Assembléia nesta quarta-feira (13/11/2003). Ao criticar a ausência de uma conclusão sobre o grau de contaminação da lagoa, o deputado Dinis Pinheiro (PL), que solicitou a reunião, acusou a Regap de dispensar material tóxico letal na lagoa. Segundo o deputado, ofício emitido pelo Corpo de Bombeiros em 2002, em resposta à prefeitura de Ibirité, justifica o não-atendimento a vítimas fatais na lagoa em função do risco de "contaminação letal".

Dinis Pinheiro afirmou que encaminhará esse ofício ao Ministério Público, pedindo providências. "É preciso combater essa falta de sensibilidade da Petrobrás, que traz conseqüências perversas para a população", disse. O prefeito de Ibirité, Antônio Pinheiro Júnior, também criticou o descaso da Regap para com a cidade e citou os esforços feitos "em vão" pela administração municipal para firmar convênios e obter recursos junto à empresa. "A Petrobrás precisa da nossa água, mas não dá prioridade à população de Ibirité", afirmou. Segundo ele, a prefeitura tenta firmar com a empresa convênios da ordem de R$ 60 milhões, para melhorias do saneamento, saúde e pavimentação de ruas.

O descaso seria ainda maior, para o prefeito, ao se comparar que a empresa liberou milhões de reais para a construção do Piscinão de Ramos, no Rio de Janeiro, e para patrocinar a Fórmula 1. "Ibirité só recebe R$ 500 mil de ICMS, sem qualquer benefício da legislação tributária, apesar de ser muito importante para o desenvolvimento do País", lamentou, cobrando que a empresa passe a pagar IPTU pelo uso da lagoa. "A Usiminas tem área bem menor e paga a Ipatinga R$ 5 milhões por ano". O volume da Lagoa da Petrobrás é de 14,5 milhões de m3.

Mergulho exige roupa especial

O subcomandante operacional do Corpo de Bombeiros, Hélvio Cristo Moreira, confirmou que os membros da corporação não realizam mergulhos para resgate de corpos na Lagoa da Petrobrás porque a água é insalubre e faltam equipamentos adequados para imersão. "Podemos usar outros meios, como barco e vara, sem expor os bombeiros", confirmou, acrescentando que, para mergulhar ali, é preciso um equipamento especial chamado "roupa seca".

Hélvio Moreira afirmou que não tem embasamento para atestar a existência de toxinas letais, pois não cabe à corporação examinar a água, e argumentou que o documento indicando o receio por parte dos bombeiros foi assinado pelo comandante do batalhão à época. "Sugiro que ele seja convidado pela comissão para prestar esclarecimentos", disse. Segundo ele, vistoria recente indica presença de pescadores e banhistas em margens da lagoa, mesmo com placas de proibição de nado e pesca. O relatório também registra trechos com água barrenta e com "fortes odores desagradáveis" e a presença de barcos de pulverização da Petrobrás.

Licença e recursos já estão liberados

O chefe de gabinete do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), Geraldo de Assis, afirmou que o órgão já concedeu à Petrobrás licença ambiental para construção da estação de tratamento de esgoto, após análise do estudo de impacto ambiental da obra. Segundo ele, o convênio para o projeto foi assinado em março e envolve recursos de mais de R$ 6 milhões. O projeto só dependeria, agora, de definições jurídicas da própria Petrobrás.

O gerente de segurança, meio ambiente e saúde da Regap, Hegel José Bernardes, informou que os ajustes finais sobre o aditamento do convênio já estão sendo acertados, após "seis anos de luta da empresa para concretizá-lo". A previsão da obra é de oito meses. Ele informou ainda que a Petrobrás envia à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) relatórios mensais e trimestrais sobre essa área. "A Regap é uma refinaria diferente das outras que captam em rios, pois reutiliza a água. O esgoto não-tratado dá mais custo", disse.

Poluição - "Quem entende um pouco de mergulho sabe que o mergulho a seco só é usado em regiões extremamente frias ou poluídas", opinou o deputado Leonardo Moreira (PL). Ele criticou a ausência, na reunião, do superintendente da Petrobrás e de representante da Procuradoria do Meio Ambiente. Leonardo Moreira apoiou o deputado Dinis Pinheiro quanto à necessidade de levar o caso ao Ministério Público.

O deputado Fábio Avelar (PTB) também concorda com a necessidade de providências emergenciais para a lagoa. Ele lembrou que uma solução definitiva para o problema é altamente complexa e vai demandar muito mais recursos do que a prefeitura pode arcar. "Considero que os R$ 6 milhões não são suficientes para resolver o problema", afirmou, sugerindo incorporar a Copasa no encaminhamento de alternativas para a questão.

Crítica - Moradores e vereadores de Ibirité usaram a palavra para expor a preocupação com a gravidade da contaminação da Lagoa da Petrobrás. "Não tem sentido limpar a lagoa e deixar as centenas de nascentes da cidade sujas, liberando esgoto. Tem gente vivendo em condições subumanas, já perdeu até olfato e paladar", afirmou Celso Azevedo, morador da região. Para o vereador Anderson Mourão, buscar a parceria com a Petrobrás é importante, desde que acompanhada de ações por parte da administração municipal, como a recuperação dos córregos.

Requerimentos - Dois requerimentos foram aprovados durante a reunião. O primeiro, do deputado Laudelino Augusto (PT), pede realização de audiência pública em Itajubá, no Sul de Minas. O objetivo é conhecer projetos e alternativas para a eliminação das enchentes que atingem os municípios da Bacia do Rio Sapucaí. Serão convidados representantes da Copasa, do Comitê da Bacia do Sapucaí, da Associação dos Municípios do Alto Sapucaí, da Universidade Federal de Itajubá e da Fundação João Pinheiro, além do deputado federal Marcelo Siqueira. Segundo o deputado, a audiência será realizada no dia 24 de novembro.

O outro requerimento, do deputado Chico Simões (PT), pede ao secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, José Carlos Carvalho, cópia do convênio celebrado entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e a Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra). O deputado também quer informações sobre a doação de quatro veículos, por parte da empresa, ao IEF. "É importante conhecer a fundo o programa de parceria para ter a clareza de que os acordos estão sendo cumpridos", afirma, no requerimento.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Doutor Ronaldo (PDT), vice-presidente; Fábio Avelar (PTB); Laudelino Augusto (PT); Domingos Sávio (PSDB); Célio Moreira (PL); Leonardo Moreira (PL); e Dinis Pinheiro (PL).

 

 

 

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