Polêmica envolve instalação de cemitério em Guaxupé
Possíveis riscos ambientais causados pela
construção do novo cemitério em área de captação d'água, na cidade
de Guaxupé, foram debatidos pela Comissão de Meio Ambiente da
Assembléia Legislativa, nesta quarta-feira (7/5/2003). As obras já
estão concluídas, mas o cemitério ainda não está em uso. A
instalação começou em 1998 e foi paralisada no ano seguinte devido a
uma investigação do Ministério Público sobre a possibilidade de
contaminação do manancial. Na época, o promotor responsável decidiu
pelo arquivamento da denúncia, que foi novamente protocolada neste
ano.
Para o biólogo e consultor da ONG Sítio Tia
Marianinha, Sérgio Santos, é incorreto falar que o cemitério foi
construído próximo ao manancial, pois ele se encontra na própria
área ambiental, como demonstraria carta topográfica entregue aos
deputados na reunião. A obra seria ilegal, por contrariar o artigo
4º da Lei 10.793, de 1992, que veda esse tipo de instalação e é a
única norma estadual que trata da instalação de cemitério. Sérgio
Santos cobrou da prefeitura da cidade um estudo aprofundado sobre os
impactos do uso do cemitério e de uma possível captação das águas do
manancial. "Há riscos do volume d'água diminuir, daqui a 70 anos,
onerando as gerações futuras?", questionou.
Segurança - A geóloga
contratada pela prefeitura, Leila Nunes Menegasse Velásquez,
garantiu que, do ponto de vista geológico, o cemitério é bem
localizado. "O material da rocha é argiloso e a profundidade do
nível da água é favorável. Entre a cova e o lençol freático, são
pelo menos 15 metros", disse a geóloga. A distância em relação ao
riacho mais próximo seria de 270 metros, medida que ela também
considera suficiente para garantir a segurança. A análise da geóloga
tem base, segundo ela, em orientações da Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental de São Paulo. A norma federal sobre o assunto
está para ser publicada.
Segundo o representante do prefeito, Abel
Celestino, a demora na utilização da obra está superlotando ainda
mais o antigo cemitério da cidade, que já não teria mais condições
de uso. Ele afirmou que, em 1999, documento emitido pela Copasa
apontou inexistência de risco de contaminação hídrica. Sérgio Santos
afirmou não ser contra a construção do cemitério, que seria
realmente necessária. Ele sugeriu que a obra fosse feita em um
terreno do governo municipal, ao lado do antigo cemitério. "A área é
pequena, irregular e já abriga várias atividades da prefeitura",
afirmou o diretor do Departamento de Obras da Prefeitura de Guaxupé,
Emmanuel do Vale. "O próprio Ministério Público constatou: a cidade
é cercada de água por todos os lados", analisou Abel Celestino, ao
explicar as dificuldades de se encontrar outra área.
Copasa pode mudar local de captação d'água
Questionada pelo biólogo Sérgio Santos quanto às
condições técnicas do aqüífero onde a Copasa faz a captação de água
para a cidade, Leila Velásquez afirmou que a prefeitura já solicitou
análise hidrogeológica sobre o assunto. "Esse estudo já deveria ter
sido feito, antes que tivesse sido colocado o primeiro tijolo no
local. O volume de água em Guaxupé vem diminuindo nos últimos dez
anos", disse o biólogo. Segundo o representante da prefeitura da
cidade, Abel Celestino, a Copasa já desenvolveu um projeto para
alterar o local de captação.
Mas, como lembrou o consultor Sérgio Santos, já
teria esgotado o prazo proposto pela companhia para abertura de
licitação nesse sentido. Ele também cobrou da Copasa divulgação de
estudo sobre o assunto. Segundo o presidente do Codema, Antônio
Jales Rodrigues, que é também engenheiro agrônomo da Emater, o órgão
está convencido de que a prefeitura tomou todos os cuidados
necessários para evitar riscos ambientais.
Acompanhamento - A Comissão
de Meio Ambiente vai acompanhar não só a investigação do Ministério
Público quanto a possibilidade de mudança no local de captação
d'água, conforme afirmou o vice-presidente da comissão, deputado
Doutor Ronaldo (PDT). O deputado José Milton (PL) ressaltou que a
construção de cemitério sempre origina polêmicas na comunidade
local, por ser um obra que é potencialmente arriscada.
Requerimentos aprovados -
Na reunião, foram aprovados cinco requerimentos, dois deles da
presidente da comissão, deputada Maria José Haueisen (PT). Um
convida o superintendente estadual do Ibama para falar sobre planos
do órgão em Minas Gerais; o outro solicita audiência pública para
debater a mortandade de peixes na Usina Hidrelétrica do Funil, em
Lavras. Também foi aprovado requerimento do deputado José Milton
para realização de audiência pública sobre o mesmo assunto, com
convidados diferentes.
Do deputado Weliton Prado (PT), foi aprovada
solicitação de audiência pública em Uberlândia para discutir, com
convidados, a construção das usinas hidrelétricas de Capim Branco I
e II, no rio Araguari. Já a deputada Ana Maria (PSDB) solicitou
audiência pública em Jequitibá sobre o Projeto Jequitaí, que
objetiva gerar energia e irrigação na região, com diversas
entidades.
Presenças - Participaram da
reunião os deputados Maria José Haueisen (PT), presidente, Doutor
Ronaldo (PDT), vice, Fábio Avelar (PTB), José Milton (PL) e Márcio
Passos (PL).
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