Segurança Pública discute Sistema de Defesa Social

Com um minuto de silêncio pela morte do juiz Antônio José Machado Dias, assassinado pelo crime organizado em Presiden...

18/03/2003 - 19:16
 

Segurança Pública discute Sistema de Defesa Social

Com um minuto de silêncio pela morte do juiz Antônio José Machado Dias, assassinado pelo crime organizado em Presidente Prudente (SP), foi aberta nesta terça-feira (18/3/2003) a reunião da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, da qual participou todo o primeiro escalão das autoridades mineiras no combate à criminalidade. Dezenove deputados marcaram presença na reunião. Em sua saudação, o vice-presidente da Comissão, deputado Alberto Bejani (PFL), assinalou que "a presença de toda a cúpula da Defesa Social do Governo Aécio Neves demonstra que o jovem governador tem pela frente um brilhante futuro".

O presidente da Comissão, deputado Sargento Rodrigues (PDT), abriu a reunião manifestando sua preocupação com a execução de seis policiais militares e bombeiros nos últimos 45 dias, e de pelo menos três tentativas de assassinato contra PMs e policiais civis. O deputado Rogério Correia (PT) reconheceu que várias das autoridades ali presentes tinham colaborado com a Assembléia na época da CPI do Narcotráfico. Correia elogiou a unificação das forças na Secretaria de Defesa Social e pediu ao titular, desembargador Lúcio Urbano, que adiantasse alguns pontos da política de segurança pública que o governador Aécio Neves deve anunciar nesta quarta-feira.

Medidas - Urbano revelou que o grupo constituído por Aécio em 3 de janeiro trabalhou arduamente e apresentou 45 medidas de combate à criminalidade. Traçou em linhas gerais o papel da Secretaria, de coordenar as aplicação das medidas que o governador vai anunciar. "O governo Aécio Neves vai dedicar o melhor do seu esforço no combate ao crime organizado, que amedronta a sociedade e afronta o Estado", afirmou. "A integração entre a Polícia Militar e a Civil está em curso acelerado, uma vez que as corporações compreenderam sua missão institucional", assegurou. Anunciou que será criada uma guarda penitenciária para liberar a Polícia Civil de guardar sentenciados e fazer escolta. Anunciou também a idéia de fazer uma classificação dos presídios pelo grau de segurança e dos criminosos pelo grau de periculosidade, para que cada um seja encaminhado à unidade prisional adequada. A construção de novas unidades, segundo ele, acabará com a superlotação de cadeias como a da Furtos e Roubos e Tóxicos, e com o cumprimento de penas em delegacias. Outra medida será a criação de um serviço de informação de Defesa Social, no qual a PM já está muito adiantada, com o seu modelo de geoprocessamento.

Para secretário, falta articulação no combate ao crime

O secretário adjunto de Defesa Social, Luís Flávio Sapori, que é especialista da Fundação João Pinheiro em questões de segurança pública, traçou as principais diretrizes do que chama de "política de segurança pública": falta articulação entre as diversas iniciativas de controle da criminalidade; prevenção e repressão ao crime são atividades complementares, e não excludentes; as atividades de prevenção devem ser focalizadas em populações de risco para atos criminosos; o nível de impunidade é agravante da criminalidade; o aparato do Estado para combate ao crime foi enfraquecido na década de 90, e precisa ser fortalecido. "Isso não significa abusar dos direitos humanos. O policial precisa ter clareza dos limites legais da sua ação", assegurou Sapori.

PM - Por sua vez, o comandante-geral da PM, cel. Álvaro Nicolau, falou de parcerias entre todos os organismos a serviço da ordem pública e considerou que é "miopia tratar as coisas distintamente". Abordou também o sentimento do policial que trabalha nas ruas a respeito da inutilidade do seu esforço: "O policial precisa sentir o resultado da sua ação na comunidade". Pelos seus cálculos, com a criação de uma guarda penitenciária, nada menos que 2.100 homens que hoje vigiam presos no interior podem voltar para o serviço operacional".

Civil - O chefe de Polícia, Otto Teixeira Filho, avalia que o projeto da Defesa Social é bem desenhado e vai dar melhores resultados que o modelo anterior. No âmbito da corporação, disse que está aproveitando a experiência dos mais novos e dando oportunidade aos novos talentos. "Temos que melhorar nossas estruturas para ter maior agilidade e prezar uma polícia técnica e científica. Hoje estamos com boa parte do nosso efetivo fazendo a guarda de 16 mil presos, o que nos impede de exercer o nosso papel constitucional, que é o de Polícia Judiciária, revelou Teixeira.

Ministério Público - Já o coordenador do Centro de Apoio Operacional de Combate ao Crime Organizado e de Investigação Criminal (Cao Crime), o procurador André Estêvão Ubaldino Pereira, assinalou que as medidas tomadas até hoje para combater o crime foram fragmentárias e, por isso, não surtiram efeito. O procurador lembrou que o fracasso das políticas públicas de combate à violência pode levar ao descrédito das autoridades. "Temos que dar uma resposta à escalada da violência ou, caso contrário, a sociedade pode se voltar contra nós", alertou. André Ubaldino defendeu a integração entre os órgãos de segurança pública e a elaboração de leis mais rígidas para punir os criminosos.

Bombeiros - O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, cel. BM Osmar Duarte Marcelino, apontou os avanços da corporação desde que se desmembrou da Polícia Militar em 1999, como o crescimento de 40% da frota de viaturas. "Mas as melhorias são poucas, levando-se em conta a demanda reprimida no Estado", afirmou. O coronel lembrou que apenas 32 municípios mineiros têm corpo de bombeiros, e o efetivo da corporação, de 4 mil homens, está abaixo do ideal, que seria 4,6 mil. Ele tem como meta instalar cinco frações do corpo de bombeiros ainda neste ano, mas lembrou que, para isso, serão necessários pesados investimentos. Segundo ele, uma viatura custa cerca de R$ 350 mil.

Administração Penitenciária - O subsecretário de Administração Penitenciária, Agílio Monteiro, disse que a subsecretaria deve assumir a guarda de todos os presos sentenciados do Estado. Com isso, segundo ele, a Polícia Civil fica liberada de fazer a custódia de 9 mil presos que já foram condenados. Agílio Monteiro defendeu ainda a construção de Apacs (Associações de Proteção e Assistência aos Condenados), como forma de aumentar a eficácia do sistema prisional mineiro.

Recursos - Já o titular da Delegacia de Prevenção e Repressão a Entorpecentes, delegado Cláudio Roberto Pessoa Dornelas, fez duras críticas às políticas de segurança pública. "Política pública sem verba é o mesmo que política nenhuma. Não se combate o crime sem dinheiro", afirmou. O delegado relatou as principais dificuldades enfrentadas pela Polícia Federal no combate ao crime organizado, como a falta de presídios federais, a pequena integração entre as polícias e a ausência de convênios que permitam a utilização, pela polícia, de carros apreendidos.

A necessidade de integração entre as polícias também foi lembrada pelo superintendente regional da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Amilton Amâncio da Silva. Ele disse que a PRF já trabalha em parceria com a PM, mas cobrou a disponibilização do banco de dados das polícias estaduais para facilitar o patrulhamento das estradas. "Temos um sistema integrado de comunicação em todas as nossas unidades. Esse sistema custa caro e não pode ser subutilizado", afirmou.

Requerimentos aprovados - A Comissão aprovou requerimentos do deputado Durval Ângelo (PT), pedindo para agendar visitas à Apac de Itaúna e ao presídio Nelson Hungria, em Contagem. Outro requerimento aprovado foi do deputado Carlos Pimenta (PDT), pedindo uma audiência pública da Comissão em Montes Claros, com a presença do secretário de Defesa Social, desembargador Lúcio Urbano, do comandante-geral da PM, cel. Álvaro Antônio Nicolau, e do chefe da Polícia Civil, Otto Teixeira Filho, para discutir com lideranças locais o aumento da criminalidade na região. Foi aprovado ainda requerimento do deputado Rogério Correia (PT), pedindo a realização de audiência pública para discutir a execução penal com representantes do Tribunal de Justiça, juízes de execução penal e promotores.

Presenças - Participaram da reunião os deputados Sargento Rodrigues (PDT), Alberto Bejani (PFL), Rogério Correia (PT), Leonardo Moreira (PL), Célio Moreira (PL), Biel Rocha (PT), Doutor Ronaldo (PDT), Maria Olívia (PSDB), Bonifácio Mourão (PMDB), Adelmo Carneiro Leão (PT), Fábio Avelar (PTB), Maria Tereza Lara (PT), Elmiro Nascimento (PFL), Ana Maria (PSDB), Bispo Gilberto (PMDB), Jô Moraes (PCdoB), Marília Campos (PT), Sidinho do Ferrotaco (PL) e Weliton Prado (PT). Os seis primeiros são membros efetivos e suplentes da Comissão.

 

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