Comissão de Direitos Humanos apura morte de modelo

Mesmo depois de ouvir os depoimentos de pessoas envolvidas e responsáveis pelas investigações da morte de Cristiana A...

20/11/2002 - 22:49
 

Comissão de Direitos Humanos apura morte de modelo

Mesmo depois de ouvir os depoimentos de pessoas envolvidas e responsáveis pelas investigações da morte de Cristiana Aparecida Ferreira, os deputados não conseguiram esclarecer os motivos e as circunstâncias do crime. Afinal, Cristiana Ferreira realmente suicidou-se, como conclui o inquérito da Polícia Civil, ou foi assassinada, como suspeita o Ministério Público? Essa pergunta ficou no ar, após a reunião da Comissão de Direitos Humanos nesta quarta-feira (20/11/2002).

Em primeiro lugar, o pai da jovem, Antônio Viçoso Ferreira, afirmou que já estava perdendo as esperanças nas investigações sobre a morte de sua filha, uma vez que a Justiça queria arquivar o processo sobre o caso. Mas agora, com o apoio recebido da Comissão, ele esperava desvendar o crime, revelando os responsáveis pela morte de Cristiana. Antônio Ferreira achou estranho o fato de a Delegacia Seccional Sul da Polícia Civil não ter devolvido à família os pertences de sua filha, inclusive o celular e a agenda. Nesta, segundo ele, constariam nomes, não citados, de "figurões" da política mineira e nacional com os quais sua filha teria amizade. Indagado pelo deputado João Leite, se sua filha era deprimida a ponto de se suicidar, Antônio Ferreira afirmou que ela nunca teve vontade de cometer tal ato.

Segundo o advogado do pai da vítima, Rui Pimenta, Cristiana, por ser muito bonita e apesar de ser de origem humilde, era muito solicitada para desfiles. Segundo o advogado, a prova material do crime está nos autos, onde constam pedidos na noite de 3/8/2000 e na manhã seguinte ao bar do flat onde Cristiana pernoitou - dois filés à noite e dois de manhã e um café da manhã completo. Na avaliação de Rui Pimenta, como é sabido que modelos e manequins comem pouco, nunca Cristiana pediria todas essas porções para comer sozinha, e que estaria acompanhada por mais uma pessoa.

Envenenamento - Além disso, segundo depoimento de funcionário do flat, às 11h40 aproximadamente, ela desceu à portaria e pediu a conta parcial, pagou-a com cheque e chamou um táxi, tendo, pouco depois, passado mal e morrido. "Será que uma pessoa que fosse se suicidar pagaria antes a conta?", questiona o advogado, alegando que a jovem teria sido envenenada com carbamato por uma das pessoas que a acompanharam no quarto.

ADVOGADO E PAI DA MODELO NÃO RELATAM NOMES

Indagado pelos deputados sobre nomes das pessoas envolvidas no crime, o advogado disse que, em respeito ao Código de Ética e ao Estatuto dos Advogados, não poderia divulgá-los. Ele afirmou também que, se a Assembléia tem interesse em saber nomes de autoridades, deve solicitar os autos do processo ao Ministério Público, que agora é o órgão que tomou para si a responsabilidade de investigar o caso. Por considerar que se trata de crime hediondo, punível com 12 a 30 anos de prisão, Rui Pimenta quer que a verdade venha à tona, doa a quem doer, mesmo que incomode a sociedade, o meio político e até o Congresso Nacional.

Mala secreta - Os deputados João Leite (PSB) Irani Barbosa (PSD) e Edson Resende (PT) insistiram na tese de que o advogado e o pai da vítima deveriam dizer nomes de envolvidos. Barbosa afirmou que, pelo fato de o inquérito ser nebuloso, "todo mundo quer tirar a brasa com mão de gato, mas ninguém enfia a mão na brasa", referindo-se à postura do pai e do advogado de não citar nomes. O deputado aproveitou para inquirir o advogado se na conta do celular de Cristiana não constariam telefones usados freqüentemente pela modelo. Rui Pimenta respondeu afirmativamente, mas sem dizer nomes, novamente. Pimenta relatou ainda uma viagem da vítima ao Aeroporto de Cumbica, em São Paulo, levando uma mala, sem saber o seu conteúdo, e que deveria ser entregue a uma pessoa desconhecida. "O que estaria nessa mala? Drogas, armas? Esse não é um procedimento típico da legalidade. A morte dela pode ter sido uma queima de arquivo", concluiu o advogado.

INQUÉRITO DA POLÍCIA CIVIL APONTA SUICÍDIO

Defendendo a tese de suicídio da jovem, o chefe da Divisão de Crimes contra a Vida do Departamento de Investigações da Secretaria da Segurança Pública de Minas, Alexandre Alves Liberal, alegou que a análise da Polícia Civil era técnica e científica. Ele discordou do advogado Rui Pimenta, afirmando que "a ética não é do advogado, nem da Polícia; a ética é social". "Quem está alegando que se trata de homicídio, terá que prová-lo", declarou.

O representante da SSP-MG passou então a explanar aspectos do inquérito policial, de mais de 200 folhas, para defender a tese de suicídio de Cristiana Ferreira. De acordo com os autos, a morte da moça, ocorrida no flat São Francisco, à Avenida Álvares Cabral, 697, apartamento 1601, foi "lenta e dolorosa", como provam os exames periciais. Sendo assim, continua Alexandre Liberal, a vítima teria tido meios de procurar ajuda através dos telefones que tinha a sua disposição - o seu celular e o fixo do hotel. Segundo depoimentos de um irmão dela, Cristiana era "garota de programa" e mentia para seus pais, não revelando essa atividade. Outro depoimento de uma amiga da moça contradiz as afirmações de seu pai. A vítima, seria muito retraída e deprimida, e teria "vontade de sumir".

Veneno - Alexandre Liberal, baseado nos autos, disse que, pelos vestígios no cadáver da vítima, não se verificaram sinais de violência, o que levou a perícia a concluir que a morte não foi violenta. De acordo com os legistas, foram encontradas amostras do pesticida chamado vulgarmente de "chumbinho", parecido com balas de espingardas de ar comprimido. Esse veneno, pertencente ao grupo dos carbamatos, apresenta odor e sabor e, segundo o laudo, não poderia ser ingerido sem ser notado pela vítima.

Não satisfeitos com os esclarecimentos do representante da SSP-MG, os deputados João Leite, Irani Barbosa e Marcelo Gonçalves questionaram vários aspectos do inquérito policial que, na opinião deles, continuariam obscuros. João Leite fez perguntas sobre a análise do lixo encontrado no apartamento - frascos, preservativos -, dos pratos e utensílios usados e sobre a coleta de impressões digitais. Corroborando a tese do advogado Rui Pimenta, João Leite demonstrou acreditar também na possibilidade de o cadáver ter sido recomposto, uma vez que não estava retorcido, nem contraído, o que seria incondizente para uma vítima de envenenamento.

Liberal respondeu que o lixo fora observado, mas o quarto já havia sido arrumado antes do crime. Nos pratos não foram encontrados vestígios do crime, e os vasilhames estavam vazios. Sobre a coleta de impressões digitais, ele afirmou que só uma foi encontrada numa taça e pertencia à própria vítima.

Violação do local do crime - O deputado Irani Barbosa aventou a possibilidade de violação do local do crime. Segundo ele, a perícia prevê a preservação do local onde uma pessoa tenha permanecido por mais de 48 horas morta. Ele questionou a omissão da Polícia Civil ao não ter analisado no inquérito as fitas de vídeo do circuito interno de TV do flat no momento em que a vítima estava lá. Já o deputado Marcelo Gonçalves perguntou a Alexandre Liberal se o inquérito trazia todas as ligações efetuadas pela vítima e para quem teria sido feito o último telefonema. Liberal, negando-se a responder, disse que o laudo deveria ser solicitado pela comissão à Justiça e não à Secretaria de Segurança Pública.

Como resultado da reunião, a comissão aprovou, entre outros, os seguintes requerimentos:

* Do deputado Marcelo Gonçalves (PDT), solicitando que seja oficiado ao comandante-geral da Polícia Militar de Minas Gerais para que autorize o cabo Mauro Almeida a prestar esclarecimentos à comissão sobre a morte da jovem Cristiane Aparecida Ferreira;

* Do deputado Marcelo Gonçalves (PDT), com emenda do deputado João Leite (PSB), para que sejam encaminhados ofícios ao procurador-geral de Justiça, solicitando informações e cópia do inquérito que apura a morte de Cristiane Aparecida Ferreira, e ao presidente do Tribunal de Justiça para que determine ao juiz-presidente do 1º Tribunal do Júri da Comarca de Belo Horizonte o envio de cópia do referido inquérito.

Esclarecimento - O deputado Marcelo Gonçalves tinha se queixado, na reunião, de que seu requerimento anterior, solicitando as mesmas informações, não foi atendido pela Mesa da Assembléia. Após a reunião, o presidente Antônio Júlio (PMDB) deu entrevista esclarecendo que a Mesa apenas emitiu um parecer contrário ao requerimento do deputado, o que tem sido praxe nos casos de solicitação de inquéritos policiais.

PARECER E REQUERIMENTOS APROVADOS

Na reunião, foi aprovado o parecer de 2º turno sobre o Projeto de Lei (PL) 2.063/2002, de autoria do deputado Arlen Santiago (PTB), tendo como relatora a deputada Elbe Brandão (PSDB), que dispõe sobre o uso, pela polícia civil e militar, de armas de fogo apreendidas à disposição da justiça.

Outros requerimentos aprovados

* Dos deputados Rogério Correia (PT) e Carlos Pimenta (PDT), em que solicitam audiência pública da comissão, em Montes Claros, com convidados para analisar e debater os fatos e as circunstâncias dos assassinatos do jornalista Rosalvo Bastos, sua namorada Daniela Costa e do artista virtuose Igor Xavier;

* Do deputado João Leite (PSB), Irani Barbosa (PSD), Márcio Kangussu (PPS) e Fábio Avelar (PTB), solicitando à Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos a realização de convênio com o Município de Vespasiano para o atendimento da população por defensor público naquela comarca;

* do deputado Fábio Avelar (PTB), solicitando à Infraero informações sobre a existência de proibição legal de ordem nacional ou internacional com relação à construção de unidade prisional no Município de Vespasiano, no bairro Fagundes, uma vez que a área fica situada próxima ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves; e solicitando ao Ibama informações sobre a existência de autorização deste órgão para a construção de unidade prisional no bairro Fagundes, Município de Vespasiano, por se tratar de área de Preservação Ambiental Carste de Lagoa Santa;

* Do deputado Fábio Avelar (PTB), com emenda do deputado João Leite (PSB), solicitando à Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e ao Instituto Estadual de Florestas informações da existência de estudos de impacto ambiental para a implantação de uma unidade prisional no Município de Vespasiano, no bairro Fagundes;

* Do deputado João Leite (PSB), solicitando a realização de reunião da comissão, convidando autoridades, para debater, em audiência pública, a implantação de uma casa de albergado em edificação anteriormente destinada à Escola Estadual "José Oswaldo de Araújo", localizada no bairro Engenho Nogueira, na Capital.

Presenças - Estiveram presentes à reunião os deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente da Comissão, Marcelo Gonçalves (PDT), vice-presidente, os membros da comissão João Leite (PSB), Elbe Brandão (PSDB) e Edson Rezende (PT) e, ainda, Irani Barbosa (PSD), Fábio Avelar (PTB), Rogério Correia (PT), Carlos Pimenta (PDT), Ermano Batista (PSDB), Paulo Pettersen (PL), Maria José Haueisen (PT) e Wanderley Ávila (PPS). Além deles, participaram Alexandre Alves Liberal, chefe da Divisão de Crimes contra a Vida do Departamento de Investigações da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais; Antônio Viçoso Ferreira, pai de Cristiana Aparecida Ferreira; e Rui Caldas Pimenta, advogado.

 

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