Direitos Humanos quer agilidade na Reforma Agrária

"O problema da Reforma Agrária é um só: todos os compromissos assinados pelo Governo Federal não foram cumpridos." A ...

11/04/2002 - 13:03
 

Direitos Humanos quer agilidade na Reforma Agrária

"O problema da Reforma Agrária é um só: todos os compromissos assinados pelo Governo Federal não foram cumpridos." A afirmação é do diretor-geral do Instituto de Terras do Estado de Minas Gerais (Iter), Marcelo Rezende, que participou, nesta quarta-feira (10/4/2002), de audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos para debater a situação dos assentamentos de trabalhadores rurais na região de Buritis, no Noroeste mineiro. O diretor também disse que só haverá Reforma Agrária no Brasil se o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) continuar a promover manifestações. É da mesma opinião o assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Gilvander Luís Moreira, que informou que a única escola estadual do Município de Arinos só foi construída porque o MST se manifestou, reivindicando os direitos básicos à educação.

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) também foi apontado pelo deputado Geraldo Rezende (PMDB) como responsável pela situação crítica em que vivem os assentados da Região Noroeste de Minas Gerais e pelas ocupações de terras promovidas pelos integrantes do MST. "O Incra desrespeita os direitos humanos, é um grande infrator", disse. De acordo com o deputado Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à audiência, os assentados que habitam fazendas no Município de Buritis vivem em condições precárias, sem água potável e assistência eficiente nas áreas de saúde e educação. O deputado informou que o fato foi verificado pela Comissão de Direitos Humanos, durante visita dos deputados aos assentamentos no último dia 1º de abril.

Descaso do Governo Federal - O diretor-geral do Iter, Marcelo Rezende, criticou a postura do Governo Federal frente à Reforma Agrária, declarando que o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, articulou o desvirtuamento do processo, com a criação de portarias e programas. Para o coordenador do Centro de Apoio Operacional das Procuradorias de Justiça, de Defesa dos Direitos Humanos, de Apoio Comunitário e de Conflitos Agrários (CAO-DH), Afonso Henrique de Miranda Teixeira, a sociedade está sendo ludibriada pelo Governo Federal. "Não existe vontade nenhuma de se fazer uma Reforma Agrária", declarou. A opinião também foi defendida pelo coordenador estadual do MST, Ênio Bonenberg, que afirmou que "a República usa a política nazista para enganar a população brasileira".

O prefeito de Buritis, padre José Vicente Damasceno (PPS), mostrou posição contrária à dos demais convidados presentes à reunião. Para ele, a Reforma Agrária está sendo feita no País, só que de maneira lenta. José Vicente Damasceno afirmou que a Prefeitura de Buritis tem feito o que é possível, de acordo com a condição financeira do município, para dar assistência aos assentamentos. Segundo ele, o número de ônibus para transporte escolar usados pelas crianças pertencentes aos assentamentos aumentou de quatro para 40, nos últimos anos.

Depoimentos - Três integrantes do MST prestaram depoimento à Comissão a respeito da situação em que vivem e da forma como foram tratados pela Polícia Federal ao serem presos depois de ocuparem a fazenda do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, localizada em Buritis, no final de março. Segundo a menor Alessandra, a polícia queria ocultar a sua apreensão dos demais integrantes detidos e, inclusive, algemá-la. Ela também disse que não teve assistência de nenhum procurador ou juiz, o que, segundo o coordenador do CAO-DH, Afonso Henrique de Miranda Teixeira, é previsto na lei. Os outros dois integrantes do MST que depuseram afirmaram que foram pressionados psicologicamente pelos policiais e proibidos de irem ao banheiro do ônibus que os levou até Brasília, onde ficaram detidos.

Alessandra ainda denunciou a falta de estrutura física das escolas da Região Noroeste do Estado. De acordo com a menor, as crianças estudam em um "curral" e não em uma escola. "Naquele lugar só aprende quem realmente tem vontade de aprender, pois nem conseguimos ouvir a voz do professor ", declarou.

Medidas - Como solução para o problema da Reforma Agrária, o prefeito de Buritis, José Vicente Damasceno, sugeriu que os poderes se unissem para resolver a questão da Reforma Agrária no País. Já os demais convidados acreditam que os governos Federal e Estadual e o Incra devem ser procurados pela Comissão de Direitos Humanos, para que o processo seja agilizado. Neste sentido, a Comissão aprovou requerimento do deputado Márcio Kangussu (PPS), com emenda do deputado Rogério Correia (PT), que solicita a realização de audiência, em Brasília, com o superintendente nacional do Desenvolvimento Agrário do Incra, Marcelo Afonso Silva, para discutir a situação das famílias assentadas no Município de Buritis, acompanhados pelo procurador Afonso Henrique de Miranda Teixeira, do diretor-geral do Iter, Marcelo Rezende e de um representante do MST. O superintende nacional do Incra foi convidado a participar da audiência, mas não compareceu e justificou sua ausência.

O deputado Rogério Correia considerou a reunião proveitosa, pois os integrantes do MST tiveram a oportunidade de mostrar o seu "verdadeiro perfil", retificando informações veiculadas pela mídia nacional. O deputado também afirmou que a Comissão poderá aproveitar a viagem a Brasília para apresentar os depoimentos dos integrantes do MST à Procuradoria Geral da República , a fim de que medidas sejam tomadas em relação à ação da Polícia Federal.

Presenças - Compareceram à audiência pública os deputados Márcio Kangussu (PPS), presidente da Comissão; Marcelo Gonçalves (PDT), vice-presidente; Rogério Correia (PT), autor do requerimento que deu origem à Comissão; Edson Rezende (PT); João Leite (PSB) e Maria José Haueisen (PT); além do coordenador do Centro de Apoio Operacional das Procuradorias de Justiça, de Defesa dos Direitos Humanos, de Apoio Comunitário e de Conflitos Agrários, Afonso Henrique de Miranda Teixeira; do prefeito de Buritis, José Vicente Damasceno; do coordenador estadual do MST, Ênio Bonenberg; do diretor-geral do Iter, Marcelo Rezende e do assessor da Comissão Pastoral da Terra, Gilvander Luís Moreira.

 

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