Prefeitos lotam o Plenário para debater Lei Robin
Hood
O relatório final da Comissão Especial da Lei Robin
Hood poderá incluir nas suas conclusões a proposta de um projeto de
lei, de revisão da Lei 13.803, sancionada em dezembro de 2000, e que
consolida a legislação originária da chamada Lei Robin Hood. O
presidente da Comissão, deputado Alberto Bejani (PFL), confirmou
essa informação na reunião desta quarta-feira (3/10/2001), que teve
a participação de quase 400 prefeitos e representantes de municípios
mineiros e de 20 associações microrregionais, lotando o Plenário da
Assembléia. Vinte e cinco deputados também participaram da reunião,
manifestando apoio ao relatório, de autoria do deputado Dinis
Pinheiro (PL), que deverá ser apresentado nas próximas semanas.
A Constituição de 1988 determinou que dos 25% da
receita do ICMS que são destinados aos municípios, 75% serão
distribuídos na proporção do valor adicionado fiscal (VAF) e 25%
serão rateados segundo critérios legais, adotados pelos próprios
Estados federados. No final de 1995, depois de tramitar na
Assembléia Legislativa, o então governador Eduardo Azeredo sancionou
a Lei 12.040, que instituiu tais critérios para Minas Gerais, que
levam em conta a população dos municípios, seus gastos com saúde,
educação e meio ambiente, entre outros.
Essa lei foi depois alterada por outras quatros
proposições, também aprovadas pela Assembléia e sancionadas pelo
governador. Essas inovações foram consolidadas no final do ano
passado pela Lei 13.803/2000 que, agora, é objeto de estudo da
Comissão Especial. Entre os pontos que estão em análise pela
Comissão, está o que trata da incorporação de um resíduo de 4,7% aos
25% do montante destinado à distribuição por critérios sociais e que
ainda integram à proporção dos 75% do VAF.
Originalmente, 10% desses 25% seriam distribuídos
pelo critério do VAF, sendo depois gradualmente incorporados aos
percentuais destinados aos novos critérios e, hoje, restam ainda
4,7% dos 10% originais a serem transferidos, correspondendo a R$ 8
milhões mensais, conforme informou o deputado Arlen Santiago (PTB),
durante a reunião. "Esse é um valor pequeno para os municípios mais
ricos, mas que representa muito para aqueles que estão totalmente
carentes e é, portanto, um aperfeiçoamento da lei que poderá
beneficiar muitos municípios mineiros" - afirmou o deputado.
Relator pede mobilização dos prefeitos
O deputado Dinis Pinheiro (PL), relator da Comissão
Especial da Lei Robin Hood, foi o primeiro deputado a falar durante
a reunião e defendeu a necessidade de atualização da lei, com o
objetivo de ampliar o número de municípios a serem por ela
beneficiados. Ele citou a Carta de Ibirité, aprovada num encontro
liderado pelo prefeito daquele município, Antônio Pinheiro, reunindo
representantes de quase 200 municípios, para exemplificar as
inovações que poderão ser incorporadas à lei. "A Carta de Ibirité
traz a proposta da cota mínima, para os municípios que estão abaixo
da média, e de um rateio per capita para aqueles que, ainda
assim, ficam abaixo desse mínimo. São sugestões que vamos analisar
com atenção" - adiantou o deputado.
O relator comentou ainda que não é sua intenção
apresentar sugestões que venham a tirar novos percentuais dos
municípios mais ricos, mas redistribuir o que já está disponível,
para tentar diminuir as diferenças e injustiças existentes hoje na
distribuição dos recursos entre os municípios. Dinis Pinheiro
questionou diretamente o secretário municipal da Fazenda de Betim,
Raimundo Gonçalves, que teria feito críticas à Lei Robin Hood.
"É muito fácil criticar, quando se tem fartura. O
município de Betim recebe R$ 13 milhões por mês da cota do ICMS e
gasta até R$ 700 mil em publicidade, mas essa não é a realidade da
maioria dos municípios mineiros. As cidades de Ribeirão das Neves,
Sabará e Ibirité, que, juntas, têm uma população quatro vezes maior
do que a de Betim, recebem, juntas, apenas um décimo do montante
destinado àquele município, ou seja, pouco mais de R$ 1 milhão por
mês. Essa distorção é uma vergonha" - sentenciou o relator.
O secretário municipal da Fazenda de Betim,
Raimundo Gonçalves, fez um pronunciamento no final da reunião,
esclarecendo que não pretendia criticar a Lei Robin Hood nem os
critérios por ela instituídos, mas chamar a atenção dos prefeitos
para a importância de estarem unidos, reivindicando soluções para
outros problemas, como o da distribuição dos recursos da CPMF, hoje
centralizados nos cofres da União e o da redefinição de
responsabilidades entre os entes federados.
Na sua intervenção, o deputado Dinis Pinheiro (PL)
advertiu ainda os prefeitos que estavam nas galerias do Plenário
para a importância daquele momento. "A hora de mudar é agora" -
disse ele insistindo que a mobilização e a participação dos
prefeitos na discussão destas mudanças é fundamental para preservar
os direitos já alcançados e avançar na garantia de novos benefícios.
Movimento deve incluir novas reivindicações
O deputado Ermano Batista (PSDB), membro da
Comissão Especial, destacou a função social da Lei Robin Hood, que
tem permitido a municípios mais pobres encontrarem alternativas de
desenvolvimento. Ele defendeu a lei, argumentando que a produção não
é o único fator gerador de riqueza numa economia. O comércio e o
consumo são também fatores importantes e, portanto, o fato de um
município não abrigar uma unidade industrial não quer dizer que ele
não participe do processo de produção de riqueza de uma região,
devendo, assim, ser também beneficiado na distribuição dos recursos
arrecadados.
Ele advertiu os prefeitos e representantes dos
municípios de que este movimento não pode se dispersar, sem antes
incorporar novas reivindicações. "Temos de garantir a maior
descentralização e desconcentração de recursos, e não apenas do
ICMS, para viabilizar um modelo de desenvolvimento mais justo" -
afirmou o deputado Ermano Batista (PSDB), citando o exemplo da CPMF.
"Cem por cento do que é arrecadado com a CPMF ficam com a União. Por
que não destinarmos 50% aos Estados e 25% deste percentual aos
municípios?" - indagou o deputado.
Apoio - Em quase três
horas de reunião, vários outros deputados se manifestaram,
expressando apoio a propostas que venham confirmar e ampliar os
critérios da Lei Robin Hood para beneficiar os pequenos municípios.
O deputado Arlen Santiago (PTB) lembrou que 90% dos recursos do VAF
vão para 25 municípios mineiros e os 10% restantes são distribuídos
entre mais de 800 municípios, desenhando um quadro injusto de
distribuição de recursos no Estado.
Também falaram os deputados Marcelo Gonçalves
(PDT), Irani Barbosa (PSD), Durval Ângelo (PT), Márcio Kangussu
(PPS), Antônio Carlos Andrada (PSDB), Sebastião Costa (PFL),
Cristiano Canêdo (PTB), Carlos Pimenta (PDT), Dalmo Ribeiro (sem
partido), Elaine Matozinhos (PSB), Fábio Avelar (PTB) e Gil Pereira
(PPB).
Prefeitos relatam as dificuldades dos
municípios
Representantes de mais de 20 municípios mineiros
aproveitaram a reunião da Comissão Especial da Lei Robin Hood para
relatar aos deputados as dificuldades que enfrentam nas suas
regiões. O prefeito de Sabará, Wander Borges, falou em nome dos
prefeitos dos municípios da Região Metropolitana de Belo
Horizonte.
Ele observou que, além de abocanhar a maior parte
dos recursos tributários redistribuídos entre os entes federados, os
grandes municípios estão mais estruturados e dispõem de caixa para
contratar consultores e assessores e, assim, se candidatarem, com
maior chance de sucesso, a recursos de programas e projetos
estaduais e federais.
Ele criticou também as distorções existentes entre
os municípios mineiros, citando o exemplo das cidades de Ibirité e
Ribeirão das Neves que, juntas, têm um orçamento de R$ 32 milhões
para custear todos os gastos dos dois municípios, enquanto só a
Câmara Municipal de Belo Horizonte recebe R$ 57 milhões para bancar
seus custos. "Onde está a justiça social deste País?" - indagou
ele.
O prefeito do município de Florestal, Derci Alves
Ribeiro, afirmou que para melhorar a renda da população da sua
cidade precisa melhorar primeiro a renda do seu município e, para
isso, a Lei Robin Hood é fundamental. "Hoje somos administradores de
miséria, gestores de percentuais impostos por lei e não temos nem
como administrar o município" - desabafou o prefeito.
Durante a reunião, vários outros prefeitos falaram,
como o de São Domingos do Prata, Araçuaí e Ibirité. O prazo para
conclusão dos trabalhos da Comissão Especial da Lei Robin Hood é o
próximo dia 5, sexta-feira, mas já está tramitando o pedido de
prorrogação deste prazo, para até o dia 10, próxima quarta-feira,
quando a Comissão Especial voltará a se reunir, podendo já apreciar
o seu relatório final, se nova prorrogação não for pedida.
Presenças - Participaram
da reunião os deputados Alberto Bejani (PFL), presidente da
Comissão, Dinis Pinheiro (PL), Arlen Santiago (PTB), Ermano Batista
(PSDB), Bilac Pinto (PFL), Cristiano Canêdo (PTB), Antônio Carlos
Andrada (PSDB), todos membros da Comissão, e ainda os deputados
Olinto Godinho (PTB), Carlos Pimenta (PDT), Elaine Matozinhos (PSB),
Bené Guedes (PDT), Sebastião Costa (PFL), Márcio Kangussu (PPS),
Agostinho Silveira (PL), Ambrósio Pinto (PTB), Marcelo Gonçalves
(PDT), Durval Ângelo (PT), Irani Barbosa (PSD), José Henrique
(PMDB), Dimas Rodrigues (PMDB), Fábio Avelar (PTB), Dalmo Ribeiro
Silva (sem partido), Luiz Tadeu Leite (PMDB), Gil Pereira (PPB) e
Adelino de Carvalho (sem partido).
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