Delegado de Montes Claros depõem à CPI do Narcotráfico

Os delegados aposentados José Luiz Ribeiro e Otacílio Teotônio de Lima, e os delegados de Polícia de Montes Claros, S...

06/04/2000 - 23:49

Delegado de Montes Claros depõem à CPI do Narcotráfico

Os delegados aposentados José Luiz Ribeiro e Otacílio Teotônio de Lima, e os delegados de Polícia de Montes Claros, Saulo Gomes e Castelar de Carvalho Leite, prestaram depoimento, nesta terça-feira (04/04/2000), à CPI do Narcotráfico. Todos os depoentes alegaram ter conhecimento de comentários sobre o envolvimento do empresário Paulo César Santiago com o tráfico de drogas na região. Os deputados ressaltaram a importância da participação dos delegados para os trabalhos da Comissão.

Os delegados aposentados trabalharam em Montes Claros na época em que foi instaurado o inquérito para apurar o tráfico de drogas na região, quando foram transferidos de seus postos. De acordo com José Luiz Ribeiro, primeiro depoente, a investigação começou depois de um caso de overdose em uma boate da cidade, em 1987. Segundo ele, a delegacia era sub-dividida e ele não atuou diretamente neste caso. O delegado informou que, depois da conclusão da investigação, foi transferido, assim como seus companheiros de delegacia, aposentando-se logo depois. O delegado Helber Cordeiro, de acordo com José Luiz Ribeiro, passou a ser o novo delegado regional de Montes Claros.

Para José Luiz Ribeiro, o motivo das transferências ainda é uma incógnita. Ele lembrou que o governo do Estado estava em transição, tomava posse Newton Cardoso, quando pessoas da família Santiago se encontraram, acompanhadas de deputados, com o então secretário de Segurança Pública, Sidney Safe. Depois desta visita, Ribeiro lembra que foi publicado no jornal da família a notícia de que o novo secretário faria uma limpeza nas delegacias. Na sua avaliação, a transferência foi uma perseguição da família Santiago.

O segundo a depor foi o delegado aposentado Otacílio Teotônio de Lima. Otacílio também acredita que a família Santiago interferiu na sua transferência de setor. Ele era responsável pelo inquérito que começou a apurar o tráfico em Montes Claros em 1987 e foi transferido para a delegacia de Trânsito. Segundo Lima, foram ouvidas mais de 20 pessoas no decorrer das investigações, inclusive indivíduos da alta sociedade, como o empresário Paulo César Santiago, que procurou dificultar o andamento dos trabalhos.

Nos depoimentos, de acordo com Lima, as boates do empresário foram apontadas como pontos de distribuição de drogas, mas nenhuma mercadoria foi apreendida pelos policiais. O delegado relatou, ainda, que certa vez ordenou uma equipe que checasse denúncias de descarregamento de drogas no município e, ao fazer isso, foi repreendido pelo então delegado Helber Cordeiro. Lima também se referiu ao encontro da família Santiago com o secretário de Segurança Sidney Safe, antes das transferências.

De acordo com o relator da CPI, deputado Rogério Correia (PT), que tinha em mãos uma cópia do inquérito de Montes Claros, várias pessoas foram apontadas como responsáveis pelo tráfico no município, entre eles, o empresário e seu irmão, Pedro Santiago. Correia informou, ainda, que a documentação foi encaminhada à Justiça no dia 25 de maio de 1987 e, no dia 30 de junho do mesmo ano, o Ministério Público arquivou o processo alegando falta de materialidade do crime.

O terceiro depoente foi o delegado de Polícia de Montes Claros, Saulo Gomes, que atuou como detetive na época da instauração do inquérito para apurar os envolvidos com o tráfico de drogas na região. Segundo ele, a iniciativa da campana armada para surpreender o empresário Paulo César Santiago exercendo o tráfico de drogas foi repreendida pelo então delegado regional Helber Machado Cordeiro, acusado de transferir os policiais que trabalharam durante o inquérito para outras cidades, visando abafar o caso.

O delegado afirmou que há muitos indícios do envolvimento de Paulo César Santiago com o narcotráfico, incluindo a participação de sócios que intermediariam a droga, porém nada foi provado contra ele ou seu irmão Pedro Santiago, tido como usuário e pequeno traficante. Gomes atentou para o fato de que "o tráfico feito dentro do País não precisa de avião, as rodovias são muito menos fiscalizadas", por isso suspeita do envolvimento de Paulo César em atividades de grande escala, como o tráfico internacional.

Perguntado sobre Stênio Rodrigues dos Santos e Maria Aparecida Queiroz, a "Cidinha Coca-Cola", traficantes de Montes Claros, Saulo alegou não acreditar no envolvimento deles com o empresário, e que o sistema conhecido como "tele- pó" distribui cocaína em larga escala, utilizando para isso telefones celulares e motocicletas.

Finalizando, o delegado declarou não acreditar na ligação do deputado Arlen Santiago (PTB) com o tráfico e que, para apuração dos fatos, seria importante a quebra do sigilo bancário do delegado Helber Cordeiro, justificando que "quem faz algo errado, o faz por dinheiro".

REQUERIMENTOS APROVADOS
Durante a reunião foram aprovados os seguintes requerimentos:
· quatro, do deputado Sargento Rodrigues (PL), que pede a quebra de sigilo telefônico, bancário, fiscal e a evolução patrimonial do delegado regional Elber Cordeiro; solicita que seja oficiado ao juiz da Vara de Execuções Criminais de Montes Claros, o encaminhamento do preso Estênio Rodrigues, para prestar esclarecimentos à CPI; pede que seja encaminhado ao comandante Geral da Polícia Militar, Mauro Lúcio Gontijo, os depoimentos de Sebastião Luiz Sobrinho, Juliana da Silveira, e do capitão Marcelo Pio; solicita ao Departamento de Aviação de Montes Claros, as informações sobre a chegada do delegado Helber Cordeiro, o avião e seu proprietário;

· um, do deputado Marco Régis (PPS), que convoca Pedro Santiago para prestar esclarecimentos à CPI;

Presenças
Participaram da reunião os deputados Marcelo Gonçalves (PDT) - presidente; Rogério Correia (PT); Sargento Rodrigues (PL); Paulo Piau (PFL); José Henrique (PMDB); Carlos Pimenta (PSDB); Agostinho da Silveira (PL); e Marco Régis (PPS).


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