Frente Cooperativista defende nova mentalidade econômica
"A Globalidade econômica e o liberalismo comercial geraram dois frutos que são a concentração empresarial e o liberal...
04/04/2000 - 23:49Frente Cooperativista defende nova mentalidade econômica
"A Globalidade econômica e o liberalismo comercial geraram dois frutos que são a concentração empresarial e o liberalismo comercial; ambos acarretam mudanças de níveis sociais tanto na esfera do desenvolvimento social como na exclusão social". Com essa explanação sobre a atual situação econômica, o presidente da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), Roberto Rodrigues, introduziu o tema "O Cooperativismo no Mundo", no II Encontro Nacional das Frentes Parlamentares do Cooperativismo, iniciado nesta segunda-feira (03/04/2000) na Assembléia Legislativa.O deputado José Braga (PDT) fez a abertura falando da atual realidade socioeconômica, ressaltando a importância das cooperativas tanto as de crédito, agrícolas, de trabalho, saúde, educação e serviços. O deputado citou a Frente Nacional Parlamentar do Cooperativismo, que frutificou o trabalho das cooperativas, em organizações tanto estaduais como municipais. José Braga ressaltou que esse Encontro tem a finalidade de discutir a legislação pertinente e fomentar a criação de Frencoop´s nos Estados e municípios.
Maior organização não-governamental no mundo
"O movimento cooperativista pode ser considerado, atualmente, a maior organização não-governamental existente no mundo", salientou o deputado José Braga. Ele chamou a atenção para o processo de globalização, do qual, o Brasil não pode se omitir e deve ainda se preparar adequadamente. O presidente da ACI falou sobre o trabalho da instituição. A ACI existe desde 1895 e conta atualmente com cerca de 800 milhões de pessoas associadas no mundo todo.
A instituição tem como finalidade divulgar a doutrina cooperativista; estruturar, nos países, legislações acerca das cooperativas; e também realizar reuniões de intercâmbios entre os cooperados. De acordo com Roberto Rodrigues, a fusão de grandes empresas resulta na concentração de renda, e o modelo cooperativista visa o desenvolvimento social através da economia. "É importante conciliar democracia e agilidade acompanhando a evolução globalizada, no entanto, as cooperativas têm como desafio incorporar duas grandes invenções: a internet e a biotecnologia", salientou Rodrigues.
Cooperativas devem se fundir
O presidente da ACI defendeu a fusão das cooperativas, dizendo que os municípios não comportam um crescimento das cooperativas. "Novas alianças devem ser feitas, as comunidades de cada município devem se juntar criando um mercado único, isso é mais viável e eficiente", disse. Ele finalizou relatando que as cooperativas trabalham dando respostas aos governos, já que estimulam a criação de empregos, procuram distribuir a renda e exercem um papel democrático.
Mudança de mentalidade
Marcos Arruda, membro do Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul, defendeu o cooperativismo como um projeto não somente econômico, mas também político e social. Durante a sua exposição, ele explicou que os principais problemas do mundo moderno são originários da lógica competitiva em que o capitalismo surgiu. Desemprego, guerras, má distribuição de renda são frutos de uma economia mundial em termos de que, "se há alguém ganhando, alguém necessariamente tem que estar perdendo". Como exemplo, ele informou que, no ano passado, os bancos estrangeiros tiveram, no Brasil, um lucro de 852%, contra 55% dos bancos nacionais.
Marcos Arruda lembrou que o cooperativismo tem como pressuposto o respeito à diversidade, e que os indivíduos, por serem diferentes, não devem competir, mas sim cooperar uns com os outros. Ele defendeu as cooperativas como forma de vencer o desemprego criado pela globalização, na medida em que os indivíduos deixam de ser empregados para serem gestores do próprio negócio. Para ele, o cooperativismo coloca um novo paradigma para a economia mundial, pois demonstra que há espaço para o capitalismo solidário, não necessariamente competitivo.
Para tanto, ele destacou que é preciso uma mudança urgente de mentalidade econômica. A economia, segundo ele, é pensada a partir de um ser humano individual, sem responsabilidade para com o outro. O cooperativismo só pode funcionar dentro de um mundo onde os homens tenham consciência da sua interligação. Para ele, esse novo capitalismo proporciona o equilíbrio na distribuição da riqueza, diminui as desigualdades e impede a devastação ambiental.
Quanto ao apoio ao cooperativismo no Brasil, o palestrante destacou que é preciso que a legislação trabalhista do País estimule a associação entre trabalhadores e dê mais segurança para os empregadores.
Senador defende cooperativas
O senador José Alencar esteve presente ao encontro e congratulou a Assembléia Legislativa pela iniciativa de promover o debate. Ele defendeu o cooperativismo como forma de desenvolvimento econômico e social e destacou que a promoção do desenvolvimento econômico é indispensável para a implementação do cooperativismo no Brasil. Disse também que está disposto a cooperar na elaboração de uma lei que estimule as cooperativas.
Logo após, os palestrantes estiveram abertos a perguntas dos participantes. Dentro do debate, foram defendidos temas como a formação de jovens para a criação de cooperativas, a autonomia financeira das entidades e a formação de uma cultura cooperativa no Brasil.
Ao final, foi assinado convênio entre o Legislativo e a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (Ocemg) para a doação de 1.125 títulos sobre o cooperativismo, do acervo da biblioteca da Alemg para a biblioteca Camilo Prates. Assinaram o acordo o presidente da Ocemg, Alfeu Silva Mendes e os deputados Paulo Piau (PFL) e Ivo José (PT).
Responsável pela informação: Janaina da Cunha - ACS - 31-2907715