Pronunciamentos

VITTORIO MEDIOLI, Prefeito de Betim

Discurso

Comenta a proposta de traçado do rodoanel e seus impactos para a Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Reunião 20ª reunião ESPECIAL
Legislatura 19ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 01/12/2021
Página 6, Coluna 1
Assunto MUNICÍPIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL. REGIÃO METROPOLITANA. TRANSPORTE E TRÂNSITO.
Observação No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibição de slides.

20ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 26/11/2021

Palavras do Sr. Vittorio Medioli

O Sr. Vittorio Medioli - Bom dia a todos. Faço um agradecimento especial ao presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus, por permitir que, num ambiente confortável, amplo, imparcial, possa ser realizada uma audiência pública que visa, essencialmente, ao interesse público, ao interesse da população, que possa levar, afinal, essa obra do rodoanel a ser uma grande realização há muito tempo esperada pela população da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

Inicio dizendo que é lamentável chegar a uma audiência pública para tentar resolver problemas que se arrastam já há alguns meses com uma evidente e marcante atitude que contraria o interesse público e popular, isso mantido pela Secretaria de Infraestrutura – Seinfra. Digo isso lamentavelmente porque nós, como prefeitos, como cidadãos, como pessoas interessadas no desenvolvimento de Minas Gerais, com compromisso com a ética e com a moralidade, sempre ajudamos o governo. Até nos piores momentos pelos quais passou este governo e o atual governador, nós sempre estivemos alinhados para encontrar soluções, apontar algumas sugestões, para que na realidade Minas Gerais possa crescer, possa ter a garantia de um futuro melhor.

Em todo esse projeto aqui, nós começamos acreditando na boa fé, na vontade de participar informações, enquanto a cada dia aparecem mais interesses definidos em fazer um grande negócio para grupos econômicos; pior, para grupos econômicos que já destruíram o Brasil, que já destruíram a Cemig e outras estatais e que aparecem... Sempre que há um grande negócio, é deles. Nós não temos nada contra em termos de que empresas, de maneira honesta e clara, apresentem sugestões, mas o caso aqui é um rastro histórico de 50 anos de desgraças que Minas Gerais suporta em face à infiltração, à detenção do poder desses grupos.

Mas aqui é necessário dizer tudo isso, porque aparece inclusive a maldade com que são feitas as críticas à nossa boa vontade, à transparência, à vontade de colaborar para que haja uma solução definitiva, ética, proveitosa, para que Minas Gerais, que é subjugada a essa escravidão, a essa escravidão marcante por esses grupos econômicos, possa ser libertada. O atual governo, que se define novo e veio para quebrar os vícios do passado, para traçar novas linhas de condução, infelizmente, digamos ingenuamente, eu não quero colocar má-fé, entra numa situação que indica o contrário daquilo que alardeou no seu começo e na campanha eleitoral.

Veja só, eu recebo também, na hora de começar meu pronunciamento, uma análise feita pelo próprio governo. Veja como age este governo, esta secretaria. Um preâmbulo, aqui no cronograma geral do projeto, como estampado. Dezembro de 2019, termos de cooperação técnica com MBC – Movimento Brasil Competitivo. Bom, que o Movimento Brasil Competitivo possa vir a colaborar em melhoria de gestão e sugerir algumas soluções, mas privatiza-se, terceiriza-se tudo aquilo que o Estado deveria fazer. O Brasil Competitivo contratou duas empresas: a Century, maior empresa do mundo, em viabilização e em rentabilização de negócios. Ou seja, você quer melhorar os seus negócios, contrate a Century, que ela transforma água em vinho. Entenderam? Isso é suspeito, porque aqui nós temos uma obra, não é um negócio, não é uma concessão. Nós temos uma obra a se fazer no Estado. Não é fazer negócio de concessão.

Então, primeiro, teria que vir a obra, o interesse da população – interesse difuso – para balizar todo esse grande projeto, que terá um impacto fabuloso, se for bem conduzido, no desenvolvimento de Minas Gerais e na equalização de problemas de mobilidade urbana que estão transformando a região metropolitana num gueto e destruindo a capacidade de crescimento de acompanhar aquilo que é... Quando eu digo crescimento, significa geração de emprego e de oportunidade; melhoria de vida, melhoria de receitas públicas, de PIB, de salários e tudo mais. Esse projeto terá um impacto nisso. Em todos os estudos, não há nenhuma consideração naquilo que deveria ter um projeto público, que seria o bem-estar da população; só cálculos de pedágio. Outra: cálculos de pedágio que são mascarados sem finalizar a conta verdadeira.

Nós teríamos que ter, caro presidente, algumas honras porque é uma coisa extremamente complexa, sofisticada; tem por trás a Century(?), empresa que alardeia um faturamento de US$39.600.000.000,00, maior empresa no mundo em rentabilização de negócio, que montou tudo isso; e o Estado recebe essa empresa para rentabilizar negócio – isso é de se estranhar: a Systra para montar o projeto. Quem que é a Systra? É a segunda maior empresa do mundo de engenharia e geração de projetos. É controlada por quem? Pela RATP, empresa francesa que é a maior concessionária de obras de infraestrutura pública do planeta. Portanto, nós estamos com dois gigantes: um para rentabilizar e outro para amoldar um negócio de concessões públicas quando, na realidade, nós tratamos de obras públicas. A obra pública tem que atender a população, resolver os problemas que ela tem e não transformar em um inferno as regiões metropolitanas. Então é descarado porque todo esse sistema... Entre os preceitos que supostamente, ou melhor, as preocupações que se colocam em relação a essas empresas, teria aquela de não impactar nas áreas mais densamente povoadas. Esse é o preceito número um porque nós estamos tratando de um rodoanel, e não de um infra-anel; não passando no meio de uma cidade, mas contornando-a.

Entretanto eu gostaria de mostrar aí, como vocês estão vendo, os traçados que foram propostos. São contra também vários tipos de lógicas.

Não sei se... Isso não gera, não marca, infelizmente, marca na parede, mas não chega aí. (– Intervenção fora do microfone.) Mas olhem: o traçado azul é aquele proposto pelo... Como vocês veem, há um traçado todo torto. Em vez de ter um sentido lógico, que é um anel, ele vai buscando vários pontos. Qual é a lógica? Depois vocês vão ver. Nós vamos mostrar algumas lâminas que mostram e comprovam exatamente essa lógica. Eu não sou um engenheiro de trânsito, não sou um engenheiro assim, mas tenho larga experiência de sustentabilidade e, como prefeito, aprendi também várias coisas que ainda a minha vida, a minha experiência não me davam.

Mas o trajeto proposto é aquele azul, que pega praticamente lá da Mutuca, desce Ibirité e segue. Vejam vocês, por que todo esse trajeto, que não tem uma lógica, digamos, de rodoanel? Esse é dito de infra-anel. O infra-anel atravessa a região metropolitana. Aí vocês podem ver que corta, também corta em Contagem a APA Vargem das Flores.

Na apresentação perversa, que agora distribui a Seinfra aqui dentro (– Risos.), fala o seguinte: que a nossa proposta, a proposta que nós apresentamos, que não toca nem um milímetro da APA Vargem das Flores, estaria interferido em 18km. Não tem um milímetro. Mas eles aqui, sempre de maneira obscura, porque todas as coisas chegam de maneira obscura e não transparente. E nós nunca fomos realmente chamados para uma conversa, provocados em situações constrangedoras em audiências públicas. Na última, imaginem, no 11º andar do DER, numa sala extremamente desconfortável, sem ventilação, com 200 pessoas. A Seinfra organizou uma audiência com um único microfone. Aí fala que eu o quebrei o microfone.

Primeiro, havia dois microfones; nós temos testemunhas. Isso vai para a delegacia de polícia. Havia dois microfones e um pedestal para o terceiro. Sobrou só um. Comecei a falar e, aos poucos, havia falhas, eu perdia meia palavra, depois aumentou e eu perdia a palavra inteira, depois perdia duas ou três palavras, porque provavelmente as pilhas estavam descarregadas. Já começa uma audiência pública séria, a última, e lhe dão um microfone desse. Pedi gentilmente que trocassem o microfone, e falaram que só tinham um microfone. Essa que é a organização. Nós damos nas mãos da Seinfra, de uma secretaria que tem por trás empresas bilionárias, com microfone velho e descarregado que impede, depois de 5 minutos de ter começado uma explanação de extrema importância, não funciona e nos impede de falar. Dizem que só tem um microfone, mas que já não funciona. É essa é a seriedade, é a moralidade, é a transparência, que são preceitos básicos que a Seinfra adota. Isso aí não podemos esconder debaixo da gaveta.

Outra, constantes sabotagens em audiências. A prefeita de Contagem, Marília Campos, sofreu isso. Quando foi feita outra audiência pública – o presidente sabe –, fui o único que tinha o canal desligado para falar. Nós temos um equipamento em Betim de primeiro mundo, porque fazemos audiências e conferências constantes que mostra onde é que está o defeito. O defeito é que alguém aqui dentro, não sei quem – aqui é um amplo espaço – desliga o nosso canal para falar.

Quando foram a Betim, nós tínhamos todo o projeto alternativo para mostrar. Conversei com a subsecretária Mônica Sales e lhe disse: “Olha, muito bom. Depois de sua apresentação gostaria de mostrar o nosso”. “Não pode, porque o nosso sistema não aceita um pendrive.” Essa foi a questão. Ora, quem é que fez a apresentação do projeto? Essas coisas são muito importantes.

Desculpem-me delongar, mas se trata da maior obra de todos os tempos da região metropolitana, que vai impactar 5 milhões de pessoas e, ainda mais, vai ser o maior investimento já realizado em Minas Gerais. Investimento que poderia ser realizado através de todas as verbas de compensações da Vale do Rio Doce, portanto não falta dinheiro para se fazer obra. E, pelas análises que nós fizemos, a obra dá para ser feita com R$3.000.000.000,00 no nosso traçado. Agora, da maneira como são apresentadas, as conclusões do governo, que fala de R$5.000.000.000,00, são também sempre muito aleatórias, não são corretas; eles mudam o traçado, e o custo continua o mesmo; cortam 10km, e o custo permanece o mesmo, portanto não somos apenas nós que não temos uma base sólida, mas fizemos...

A Prefeitura de Betim fez todo o levantamento aerofotogramétrico, através de drones, do percurso, portanto há uma análise bem detalhada. A Seinfra não fez nada. A MBC contratou a Century(?) e a Systra para apresentar um projeto, empresas líderes mundiais nisso, mas a Systra é controlada pela RATP, maior empresa do mundo de concessões públicas, e a RATP é sócia da CCR, da Odebrecht e de inúmeras outras empreiteiras, em concessões que foram viabilizadas por estudos da Systra. Bom, se você terceiriza uma análise para empresas que têm o interesse, ou que têm laços de sociedade com concessionárias, isso é suspeito. Deveria haver um compromisso de absoluta transparência, coisa que não há.

Por favor, passe para outro. Volte ao das fotos dos viadutos. Aqui vocês têm duas propostas. O Estado propõe o rodoanel com duas faixas de rolamento e uma de acostamento; na nossa proposta são três pistas mais acostamento, porque é inacreditável imaginar que um rodoanel com duas pistas possa funcionar, ou seja, não vai servir a nada, vai servir para diminuir os custos da obra, mas não vai resolver o problema nosso, portanto isso aí é muito grave.

Esse mostra a proposta da Seinfra. Vejam como são projetados os viadutos. Essa é a maquete dos viadutos. Os viadutos não têm espaço para ampliação de pistas, portanto condenam ainda a região metropolitana a ficar como uma região de segunda categoria, porque imaginem um rodoanel com esse formato? Essa é uma foto publicada pelo Estado e está dentro das apresentações que eles fazem.

Vamos em frente. Essa aqui é, a meu ver, a coisa pior de todas, porque aí vemos uma comparação... Ah, não, essa é a calculada pela Systra e pela Century(?): tarifa média – R$0,35 por quilômetro-eixo, ou seja, um veículo que tiver... Para o veículo leve é considerado R$0,35 por quilômetro. Um veículo que tiver nove eixos – o chamado bitrem – pagaria R$3,15 por quilômetro rodado; atravessaria a região metropolitana, o rodoanel, com R$315,00. Na Fernão Dias, o custo quilômetro por eixo, que é o parâmetro adotado, é simplesmente 11 vezes menor. Olhem lá em cima São Paulo-Belo Horizonte ou Belo Horizonte-São Paulo tanto faz, paga-se R$0,033 por quilômetro. No rodoanel, R$0,35, quase 11 vezes a mais.

Voltando à primeira lâmina, há números que não permitem dizer. Bom, quanto é que se vai faturar em um ano? Você tem lá as contas. Vamos ver. Traçado baseado em concessões e pedágio. A tarifa colocada na apresentação da Seinfra, que depois é da Systra, é R$0,35 por eixo. O número de eixos-médio, ou seja, a média de todos os veículos que transitam é 4,3. Volume diário de tráfego: 32 mil. Seriam 16 mil num sentido e 16 mil no outro. Extensão do rodoanel: 100,65km. Recursos da Vale: R$3.000.000.000,00 e o concessionário colocaria mais R$2.000.000.000,00 para um custo previsto de R$5.097.000.000,00. Nas contas deles, que não apresentam, porque deixam truncados só com números jogados aí, na fórmula, dá R$1.769.000.000,00 anuais, R$4.847.000,00 por dia. O investimento da concessão são R$2.000.000.000,00, ou seja, em 14 meses paga-se todo o investimento de uma concessão de 30 anos.

Outra questão, os 32 mil veículos parecem subestimados. Há quem diga, e há estudos, que pode ser no primeiro ano, mas há um crescimento constante e também há vários engenheiros de trânsito que não são da Systra, mas que são de Minas Gerais, que calculam número bem maior de veículos do que esse, chegam alguns a dizer que poderia ser o dobro já no começo. Se for o dobro, esse R$1.769.000.000,00 vai para R$3.500.000.000,00. Agora, pagar um investimento que tem um aporte de R$3.000.000.000,00 do Estado, via Vale, e apenas R$2.000.000.000,00 da concessionária... E olhe lá porque esses R$2.000.000.000,00 da concessionária, a nosso ver, são inúteis, porque com R$3.000.000.000,00 se faz todo o projeto. Não há transparência na montagem dos custos. Destrinchando-o, chegamos a valores unitários que chegam a ser 80% superiores àqueles que a própria Seinfra adota.

Agora, em todo esse processo, também lamentamos, temos aqui o estimado subsecretário Fajardo, que é advogado; Marcato, que é advogado; Barcelos, que é advogado; Mônica Sales é advogada. Eles não sabem nada de infraestrutura ou não se importam com ela.

Agora, a rentabilização é via pedágio. E por que, naquela conta aqui também, não estão devidamente estimados, ou estão mascarados, os números da captura do trânsito local, chamada tecnicamente de exploração do tráfego local? Um infra-anel ou uma travessia de área densamente povoada, sem ligações, é um muro de Berlim. Ou você mora de um lado, ou mora do outro. Se você quiser passar para o outro, vai ter de pagar pedágio. Isso não está devidamente calculado. Isso capta só o trânsito interestadual ou pelo menos sinaliza isso, porque os números não têm transparência, tendem a mostrar a necessidade do rodoanel. Temos de fazer rodoanel. Nós queremos saber... Não interessa por onde passa. Essa é a expressão do Estado.

Agora, no afogadilho, é entregar um presente à concessionária, que pagou o projeto, pagou todos os estudos, a modelagem. Depois todos os cargos de confiança marcados pelo Estado, colocados pelo Estado têm ligações anteriores e posteriores ao cargo público. A gente aqui não quer dizer que são desonestos, mas se viveram já 10 anos contratados por concessionária, ou saem no afogadilho para irem trabalhar na ABCR, que é a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovia... Tudo tem esse foco. Agora nós, como gestores públicos, votados pela população, prefeitos, vereadores que estão aqui presentes, e parabenizo também a preocupação deles, temos contato com a população. Aqui se trata de uma obra pública, não de uma concessão privada.

Por que não colocam as fórmulas corretas de quanto vai dar? Hoje há também críticas feitas por vários engenheiros de R$0,35 por quilômetro. É um absurdo. É três vezes maior que a de maior valor hoje. Isso é muito alarmante, porque todo projeto foi feito para inviabilizar o trânsito ou dificultar, e o trânsito local chegar aí e parar. Esses absurdos vão encher os cofres das empreiteiras. Quem são essas empreiteiras interessadas? Peguem a lista da Lava Jato, de cima para baixo, no ranking. São só elas.

O Brasil já não pagou tão caro por essa desgraça? Nós perdemos anos e anos. Vejam a Cemig. Tendo a passagem de uma grande empreiteira, líder de falcatrua na Lava Jato, está amargando aí uma dívida de R$26.000.000.000,00. Todos os negócios apresentados como esse... Inclusive a Assembleia deveria investigar a compra da Cemig, da participação da Andrade Gutierrez na Usina Santo Antônio. Aí você vai ver a sofisticação de, no afogadilho, fazer esse tipo de compra, uma empresa que hoje tem um patrimônio negativo de R$18.000.000.000,00. E já caminharam para isso. Foram pagos os R$860.000.000,00. Cito isso porque nós temos de prestar atenção.

Não estamos tratando com uma associação filantrópica ou com alguém que passou pelas urnas, tendo um compromisso de representatividade.

Bom, são inúmeras as coisas alarmantes. Você falar assim... Agora eu acho... Vou levar isso para casa porque isso vai ser prova que distribuíram aqui de como é que se adultera. Depois, na última hora, se joga assim, não é? Eu estava abrindo para o microfone e ainda abri... Só que gravei também na cabeça isso. Um grave problema também... Nós apresentamos tempestivamente, lá em fevereiro, um traçado, que, depois, foi modificado na parte de Contagem. Por quê? Vejam aí: o projeto da azul corta 13km de Contagem – todos dentro da APA Vargem das Flores. Nós tínhamos feito um projeto alternativo que diminuía o impacto para 8km; e aqui, no estudo, que é literalmente um absurdo – não veem que estão perdidos –, colocam que jogamos uma interferência de 18km – eram 8, e juntaram 10. Vá para aquelas lâminas – inclusive, do nosso projeto, porque isso já está aqui na delegacia de polícia para ser investigado – comparando o projeto que nós apresentamos e o desvio que foi feito no projeto. Vá lá! Não, não. Mas para aquelas lâminas que têm na... Volte um pouquinho. Olhe, alegaram que o nosso projeto tem 11 ou 13 pontos de interferência. Vá para a lâmina das interferências. O projeto do Estado tem 65 pontos de interferências, ou seja, impacta em estruturas já existentes. Isso eles não falam; não falam que há 13km de Vargem das Flores. Quer dizer, tudo o que tem de problemático não falam, é a rentabilização do pedágio. Vá ao nosso projeto naquela comparação. Olhe, aqui está um exemplo de como também foram criadas ou fraudadas interferências no projeto que nós apresentamos. Isso aí é trabalho da equipe da Seinfra; está terceirizado; a Systra e a Century(?): uma rentabiliza o negócio, e outra abre as portas para as concessionárias.

Volte para aquele lá. Retorne. Isso aí. Aqui é Citrolândia. O nosso traçado, que corta a 381, em Citrolândia, é aquele em amarelo. Agora eles colocam esse roxo, que passa em cima da bacia de detenção de Citrolândia; enquanto não passa acima, é afastado cerca de 100m, que é mais do que suficiente, e não interfere. Também lá há um grande depósito de entulhos; e, do outro lado, uma outra bacia de contenção. O nosso deixamos de fora; eles jogam dentro. Esse aqui foi feito por alguém mal-intencionado. Se você apresenta um projeto, ele desvia lá em cima.

Vá para a próxima lâmina. Aquela amarela fica bem distante do Ceresp – cadeia pública que está em Betim. Aí, eles criam uma linha que tangencia praticamente – entra no barranco do Ceresp, o que significa que vai desmontar o Ceresp. Isso é grave interferência, anotada no estudo deles. Nós apresentamos um projeto que não tem interferência; se adultera, tem interferência. Veja aqui, na travessia mais complexa de Betim, aquela, que poderia impactar com áreas habitacionais, amarela. Jogam para fazer passar em cima de uma escola. Esse aí não é... Quer dizer, é uma mudança de traçado. O nosso traçado está correto; eles colocam o errado.

Esse estudo aqui foi divulgado agora, faz um pouco mais de uma semana. Havia uma crítica de que o nosso trajeto não funciona, porque tem não se sabia o quê. A análise já existia e foi jogada dentro da internet. Não sei como, mas na última hora. Como essa aqui também, na última hora. Você não está preparado. Depois tem que fazer ações de última hora para poder contestar o que eles fazem. Essa transparência. Depois de seis meses que estava pronto, porque nós entregamos em fevereiro, em 15 de novembro é que foi publicado esse relatório na internet. Nós fizemos uma análise em 3 dias e captamos tudo isso.

Agora, depois de todo esse estudo também, vejam o que acontece – isso aí também é muito preocupante –, porque não há um paralelo entre os dois traçados. Há só uma crítica ao nosso traçado. É claro que num traçado como esse há alguma coisa que tem que ser compensada, mas, em termos, não há uma crítica. Depurada a análise do nosso traçado, teremos cerca de meia dúzia de interferências; no do Estado tem 65, ou seja, 10 vezes mais – mas isso não importa. Atravessam a APA Vargem das Flores. Falaram que fizeram reuniões com ambientalistas, gastaram 30% do tempo em reuniões com ambientalista, 32% com interessados na licitação e 28% com os municípios. Aí publicam uma foto que foram lá, na época. O.K., nós recebemos, nós abrimos a possibilidade de um diálogo, mas como é que foi conduzido? Foi dessa forma: não tinha palavra, o estonteiam com essas... Enquanto você vai de boa-fé, de coração aberto, para encontrar o que é melhor para o Estado e para a população, eles colocam por trás pessoas criando confusão. É muito lamentável tudo isso.

Eu teria várias outras coisas para falar, mas não é em uma audiência pública que se resolve alguma coisa. Seria com diálogo, mas não um diálogo em que se coloca gente de terceiro ou quarto escalão do governo para fazer você perder tempo, dár um tapinha nas costas e diz: “Ah, não, não. Fale com eles”. Isso aqui é a maior obra de todos os tempos na região metropolitana, isso aqui é o primeiro escalão que tem que tratar. É o primeiro escalão, mas não tem que sair no afogadilho para defender os seus representantes, mas para pedir uma ação administrativa de fiscalização daquilo que os seus representantes do governo fazem. E eu boto a mão no fogo. Espere lá. O negócio não é rentabilização de um projeto. Nós temos que resolver os problemas da população com inteligência, amenizar todos os impactos e garantir o futuro de Minas.

Aqui há críticas que não foram respondidas até hoje de pessoas que entendem muito de rodoviarismo. Há 13 questões que nunca foram respondidas. Há superficialidade em toda a apresentação do governo. Superficialidade porque, como vimos, não finaliza as contas, omite uma série de outras questões e entrega no último segundo, na bacia das almas, os estudos feitos. Depois temos conflito de tráfego. O anel tem que capturar – não se chama de rodoanel, esse é o infra-anel – a BR-262, a BR-381 e a BR-040 e desviá-las do trânsito urbano. No caso de Betim, no mapa você vê que a BR-381 e a BR-262, que o nosso trajeto capta, evitando-se que entrem dentro... “Ah, não, tem que atravessar Betim para buscar o rodoanel no meio da cidade.”

Uma outra questão gravíssima: nós estamos aqui para rentabilizar o negócio, não é para resolver problema como o de Brumadinho, de Ibirité, que não têm hoje uma ligação. Todo esse dinheiro, R$37.000.000.000,00, deveria ser investido integralmente na Bacia do Paraopeba, não é? Porque a devastada foi a Bacia do Paraopeba. Entretanto, foi uma indenização vultosa que podia atender também a muitos outros municípios, mas sequer se prevê o estudo para resolver a mobilidade da região metropolitana. Em qualquer capital que você vá, verá que houve grandes obras, investimentos vultosos. Agora, Brumadinho, que teve 272 vítimas fatais...

Betim, dentro do Vale do Paraopeba representa quase 50% da população; nós temos 450 milhões de habitantes, e o Vale do Paraopeba tem 1 milhão e pouquinho. Não há nenhuma consideração para essa cidade, nenhuma. Nós, com o dinheiro bem gasto, poderíamos fazer obra também de ligação da BR-381 até Brumadinho, orçada em R$320.000.000,00; a ligação da Mutuca até Ibirité, orçada em R$180.000.000,00. Nós temos pré-projetos já orçados. Quanto a isso aí, não há nenhuma preocupação, nenhuma. A obra sugerida pelo Estado vem precarizar a qualidade de vida: um muro de Berlim; distâncias que eram de 200m vão nos obrigar a dar voltas de até 10km, 15km. Como é que nós vamos reequilibrar o transporte urbano, interrompendo e criando apenas duas transposições em 17km? Por que duas transposições? Para obrigar você a entrar dentro do rodoanel e pagar pedágio, um pedágio que é 11 vezes mais caro que o da Fernão Dias. Toda lógica é essa.

Agora, infelizmente, o corpo técnico da secretaria e os engenheiros de tráfico não são consultados. Desmancharam isso e fizeram uma privatização da Seinfra para atender os bons negócios dessas empresas. É muito difícil para mim, sabem, dar um testemunho pessoal e enfrentar essa máquina de nos deixar loucos, essa máquina perversa que hoje é a secretaria de Estado. O que eu afirmo também me disponho a comprovar, ou seja, quanto ao que estou dizendo, me chamem, que vou mostrar por A mais B. Nós estamos bem documentados. Há todas essas conexões ditas aleatórias; entrevistam o governador, e ele diz que são conexões aleatórias. Fique atento, governador: de aleatório, não há nada. Há muita coisa sofisticada, complexa que precisa ser colocada em uma mesa onde as pessoas olhem o interesse público e não o dessas empresas. Nunca se viu e custa-nos acreditar que possa se ver um processo de rodoanel conduzido pelos interesses apenas do pedágio. E você vê que, nas explanações, tudo é pedágio, pedágio, rentabilização, pedágio, rentabilização, porque hoje os profissionais que estão à frente são exatamente gente que trabalhou antes dando suporte a operações de concessões públicas. Esse contrato é para quê? Para fazer o melhor negócio do mundo. Agora, há um grave desequilíbrio em tudo isso, e está na hora de colocar em ordem essa questão.

Sugiro, para finalizar, presidente, que haja um prazo para auditar o projeto. Como demonstrei, não são apenas indícios.

Falam: “Ah, não, porque os ambientalistas reclamam”. Temos 13km no projeto deles que cortam uma APA. Os ambientalistas concordaram que a segurança hídrica de Betim e Belo Horizonte, que está na Vargem das Flores, seja tratada dessa maneira? Hoje já convivemos com problemas hídricos na região. Muitos bairros estão sem água. A água depende da Vargem das Flores, especialmente da Vargem das Flores.

Portanto, que se faça uma perícia primeiro desse projeto, porque não se podem admitir, dentro do setor público, manipulações, falseamento de informações e também informações que não são colocadas de forma transparente. É só pegar alguns técnicos e periciar todo o estudo para ver como os números se encaixam. Se eu falo, dizem que sou político, que estou interessado em ganhar dinheiro com isso. Mandam nas redes sociais. Olhe, dinheiro já ganhei suficiente para viver mais 10 vidas. (– Manifestação nas galerias.) Estou numa missão, talvez a última na minha vida, de fazer o bem. Pegamos uma cidade com R$2.000.000.000,00, e hoje a dívida de Betim praticamente está zerada. Temos 280 obras sem recursos públicos. Entramos com uma ação contra a Andrade Gutierrez, que, numa fraude deslavada, pretendia R$500.000.000,00 do município, o que arrebentaria com o município. Não recebo salário. Abdiquei dele. Estou numa missão, a última. Podem fazer o que quiserem comigo. Acho que vou deixar um legado de decência, de honestidade, de como pode se recuperar, dar as costas a esse sistema. Implantaram no Brasil uma corrupção que hoje é considerado o maior caso de corrupção de todos os tempos. É alimentada exatamente por quem? Agora, são conexões aleatórias tudo isso? Acho que é o governo. Lembro-me de Itamar Franco. Quando havia uma suspeita, afastava o seu secretário, colocava um processo administrativo para dissecar todas as denúncias. Depois, se as denúncias eram vazias, voltava. Agora, não falo de quaisquer denúncias, de fake news, falo de questões extremamente importantes, questões que tocam o interesse da população. Construir esse Muro de Berlim? Quem construiu uma casa perto da família, perto de familiares vai ser jogado fora. Aqui os pressupostos disso são evitar regiões densamente populosas. O projeto que eles aceitam é devastar. Em Betim são 20 bairros. Querem desestruturar toda a cidade, querem refazer todas as drenagens, rede de esgoto, distribuição de água, de energia elétrica. Deixar também, como disse numa conversa que tivemos antes de entrar, regiões, como é a Favela do Alemão, no Rio, ilhadas do resto do mundo. Há só uma entrada. Isso aí vai gerar em Betim, em Contagem isso. Vão jogar regiões totalmente desamparadas.

Mas, olhem, agradeço muito. Desculpem-me por ter me alongado, mas essa é realmente a primeira oportunidade. Agradeço demais à Assembleia, a todos os deputados aqui presentes; aos prefeitos, que esqueci de citar no começo, como o Alexandre Kalil, da capital, a Marília Campos, e todos os demais aqui presentes. Lembro-me de Igarapé, de Brumadinho e de outras cidades que estão aí. Nós não estamos aqui para explorar politicamente nenhuma dessas oportunidades, mas para defender o interesse público. Ele tem de prevalecer. Muito obrigado. Fiquem com Deus.

– No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibição de slides.