Pronunciamentos

SR. FREDERICO ABURACHID, Presidente da Fundação Libanesa

Discurso

Agradece a homenagem pelo transcurso do 76º aniversário de independência do Líbano e à imigração libanesa no Estado.
Reunião 47ª reunião ESPECIAL
Legislatura 19ª legislatura, 1ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 26/11/2019
Página 31, Coluna 1
Assunto HOMENAGEM.
Proposições citadas RQO 565 de 2019

47ª REUNIÃO ESPECIAL DA 1ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 19ª LEGISLATURA, EM 25/11/2019

Palavras do Sr. Frederico Aburachid

O Sr. Frederico Aburachid - Quanta honra e quanta emoção! Exmo. Sr. Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, deputado Agostinho Patrus; Exmo. Sr. 1º-Vice-Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, deputado Antonio Carlos Arantes, já quase um libanês; Exmo. Sr. Promotor de Justiça Luiz Felipe de Miranda Cheib, nosso patrício, representando o procurador-geral de justiça do Estado de Minas Gerais, Dr. Antônio Sérgio Tonet; Exmo. Sr. Presidente da Associação Nacional dos Magistrados Estaduais, Dr. Magid Nauef Láuar; Exmo. Sr. Deputado Roberto Andrade, autor do requerimento que deu origem a esta homenagem, nosso amigo; Exa. Sra. Presidente da Câmara de Comércio Líbano-Brasileira, Sra. Cristiana Kumaira; Exmo. Sr. Deputado Carlos Pimenta; Exmo. Sr. Deputado Gustavo Mitre; nosso querido líder espiritual Mons. Michel, que também fez o meu casamento e do meu irmão e que aqui, em Belo Horizonte, é responsável por levar a palavra de Cristo a todos nós libaneses, descendentes da sociedade mineira. Gostaria de saudar, em nome de todos os conselheiros da Fundação Libanesa de Minas Gerais, nosso querido amigo Dr. Elias Obeid, um dos principais responsáveis pelo meu ingresso como presidente na Fundação Libanesa. Saúdo também, em nome das gerações futuras, meu filho João Felipe. Que ele possa herdar também esse legado que herdei de meu pai, de meu avô: os valores libaneses. Quero saudar também minha querida mãe, representando todas as voluntárias da Fundação Libanesa de Minas Gerais, aquelas que são realmente a alavanca propulsora de todas as ações sociais da fundação.

Senhoras e senhores, boa noite! Nesta cerimônia, visivelmente emocionado, honrado pelo convite para ser um orador representante da colônia libanesa de Minas Gerais, falo como descendente de libaneses, especialmente por ter a honra de presidir a nossa querida Fundação Libanesa. Em um tempo em que o mundo atravessa tensões políticas, econômicas e sociais tão relevantes, resgatamos nesta solenidade a importância da imigração para o nosso País, em especial para o nosso estado. Valorizar a imigração, não apenas a libanesa, significa aceitar a pluralidade do povo brasileiro. Somos juntos um só povo, em um só Estado, que se defende como Nação, colhendo os frutos culturais dos cinco continentes. Apesar dessa verdade incontestável, a intolerância, a polarização ideológica radical têm se mostrado mais presentes do Oiapoque ao Chuí.

Assustam os casos de conflitos decorrentes de divergências partidárias ou ideológicas, divergências que assolam o seio da família brasileira. É preciso refletir, mirar os olhos para as páginas da história mundial. Por meio de nossos imigrantes libaneses, enxergamos exemplos claros do quanto é sofrível para um povo a intolerância. A guerra e a intolerância foram os principais motivos de sua vinda para o Brasil. Entre irmãos libaneses, senhoras e senhores, conflitos resultaram em uma guerra civil de 15 anos, com destruição e morte. É um passado que os libaneses não desejam reviver nem mesmo em seus piores pesadelos. Antes da guerra civil, o Líbano era considerado a Suíça do Oriente Médio e sua capital, Beirute, comparada à Paris em virtude de todo seu glamour e harmonia. Superado aquele nefasto período, o país reergueu-se. Agora, rogamos a Deus para que as recentes manifestações de outubro e novembro não comprometam o diálogo democrático que tem servido de exemplo para todo Oriente Médio e para o mundo, para que o equilíbrio continue a preservar os direitos fundamentais no país de nossos ancestrais.

O Líbano vive sob o manto de uma democracia, é uma república. Valoriza-se como uma nação extremamente acolhedora e que respeita a liberdade de crença e de manifestação. Dentre seus 6 milhões de habitantes, convivem pacificamente seguidores de, no mínimo, 17 religiões. Cerca de 30% da população é formada por refugiados de outros países, principalmente Síria e Palestina – o Líbano os acolhe e os respeita.

Diversos foram os avanços para o mundo proporcionados pelos fenícios, povo do qual nós, libaneses, descendemos. Suas contribuições são reconhecidas por meio do alfabeto, da matemática, da navegação, dos credos religiosos, da poesia e da cultura em geral. E aqui eu faço um parêntese certo de que essa mensagem repercutirá também em nosso país, no Líbano. Aos nossos irmãos que habitam o Líbano e que o governam, clamamos para que ouçam também a voz dos emigrantes, ouçam a diáspora, preservem a paz e a liberdade, preservem o legado dos quais os cedros de Deus – é assim que são chamados os cedros do Líbano – são testemunhas. Que as árvores milenares, tantas vezes citadas na Bíblia, sejam testemunhas, mais uma vez, da paz e da liberdade. Seus atos repercutem em todo o mundo, estão a escrever novas páginas na história. Quem vos fala são os emigrantes e descendentes que habitam o Estado de Minas Gerais, um estado que eternizou em sua bandeira o valor da liberdade.

Em Minas Gerais, os libaneses sentiram-se verdadeiramente acolhidos, convidados a desbravar o seu interior, demonstrando a sua resiliência dia após dia, abriram novos caminhos de forma pacífica e pela simples arte do convencimento. Muitas vezes, sentados em carros de boi, trens de ferro ou veículos precários, tiveram como instrumento a sua experiência, o seu conhecimento científico e o trato com o comércio. Eram comerciantes, professores, médicos, advogados, artistas e outros obreiros. Mais que imigrar, os libaneses criaram vínculos e raízes profundas com o povo e a cultura mineira, constituíram famílias, criaram riquezas, influenciaram nas artes, lutaram por justiça e pela democracia. Enfim, participaram de suas políticas públicas.

Somos aproximadamente 12 milhões de libaneses e descendentes no Brasil; em Minas Gerais, são estimados 3 milhões. Apenas na economia, inúmeras empresas de libaneses e descendentes são motivos de orgulho para o Brasil, como as dos setores têxtil e vestuário, alimentício, mineração, construção civil, infraestrutura e diversos outros segmentos, empresas que são destaques na economia mineira, nacional e internacional.

Na política, mais de 10% do Parlamento nacional, nesta nova legislatura, é formado por descendentes do Oriente Médio. Nesta Assembleia Legislativa, os números são igualmente expressivos, pedindo licença para citar o atual presidente, deputado Agostinho Patrus Filho, e o deputado Roberto Andrade, que já fez referência a sua ascendência. Nesse mesmo sentido, não poderia deixar de citar o saudoso deputado federal professor José Elias Murad, um dos fundadores da nossa entidade, da Fundação Libanesa. Elias Murad foi responsável por dispositivo na Constituição da República que prevê a expropriação de bens imóveis utilizados para produção de drogas ilícitas. Ele é citado nos bancos universitários por essa contribuição e até hoje colhemos os frutos de sua importante contribuição. Cito também os saudosos deputados estaduais constituintes aqui de Minas: Dr. Lacyr Andrade, pai do nosso deputado Roberto Andrade; Dr. Kemil Kumaira, pai de nossa querida Cristiana Kumaira e que foi presidente da Assembleia Constituinte, resultando na primeira Constituição de um estado federativo após a Constituição da República de 1988. A Constituição de Minas foi a primeira, tendo como artífices esses dois expoentes da colônia libanesa.

Cito ainda – e não poderia de modo algum deixar de citá-lo – o ex-presidente desta Casa e ex-secretário de Estado deputado Agostinho Patrus, um grande apoiador das obras sociais da colônia libanesa em Minas. Foi ele quem primeiro homenageou a colônia libanesa aqui neste Plenário, e hoje temos a felicidade de ter o seu filho como presidente desta Casa novamente o fazendo.

Todos esses nomes, dentre outros, sempre estiveram ligados aos valores libaneses no Poder Legislativo. Destacam-se, em Belo Horizonte, entidades associativas que têm participação de libaneses desde a sua fundação como a Associação Comercial de Minas – ACMinas; a Associação Comercial do Hipercentro de Belo Horizonte, aqui representada por nossa querida Jaqueline Bacha; o Sindicato das Indústrias do Vestuário de Minas Gerais – Sindivest-MG – meu pai, Michel Aburachid foi seu presidente; o Sindicato da Construção Pesada – Sicepot; o Sindicato da Construção Civil – Sinduscon; o Sindicato da Indústria de Extração Mineral – Sindiextra; o Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais – Ciemg; a Federação das Indústrias – Fiemg; o Sebrae, dentre outras. Aqui abro parênteses, já que atualmente o Sebrae nacional é presidido pelo nosso querido Dr. Carlos Melles, também descendente de libaneses.

Além dessas instituições, há aquelas de origem eminentemente libanesas, e peço vênia para citar, apenas como exemplo, as que têm sede em Belo Horizonte: o Clube Libanês de Belo Horizonte, fundado aproximadamente há 70 anos; a Câmara de Comércio Líbano-Brasileira de Minas Gerais, que teve como presidente Jamil Habib Cury e meu irmão, Leonardo Felipe Gervasio Aburachid, e, agora, a senhora Cristiana Kumaira. Cito o Lar Druzo e a Fundação Libanesa de Minas Gerais – Fuliban, que tenho a honra de presidir.

Os libaneses sempre foram inspirados pela gratidão que sentem ao povo mineiro, por sua acolhida, pela forma como foram recebidos. Hoje veio às mãos um documento histórico, assinado por Magid Kassim Lauar, avó da Cristiana Kumaira e de Magid Lauar. É um documento, senhoras e senhores, que foi dirigido ao então presidente Getúlio Vargas, e, através dele, a sociedade libanesa de Minas Gerais endossa o apoio ao governo brasileiro para que cerre fileiras junto às tropas para a defesa da democracia.

A Fuliban, fundação que presido, foi criada em 1970 pelo cônsul honorário do Líbano em Minas Gerais, à época, Chafic Kassis, e por lideranças empresariais como Antônio Assef El Bacha, aqui representado por Jaquelina Bacha, Tânia Bacha, cujas presenças nos dão muito honra. Antônio Assef El Bacha foi nosso presidente, foi quem plantou a semente para essa obra social de 50 anos.

Também tivemos outras lideranças empresariais como Nacif Elias Karrat, Jorge Saba, Charles Lotfi, dentre outros.

A Fundação Libanesa tem sido braço social da colônia e de seus amigos em Minas, atuando na área da saúde, educação e cultura. É uma casa criada por libaneses, mas que pertence a toda sociedade. A fundação oferece à sociedade mineira consultas gratuitas em diversas especialidades médicas, especialmente à população carente de Belo Horizonte e região metropolitana. Está aqui o meu vice-presidente, Dr. Elimar Penido Chagas, que vem desenvolvendo esse trabalho à frente da área da saúde junto com o Dr. Jamil Saliba, a Dra. Luciana Milagres e outros profissionais.

Além da área de saúde, a Fundação Libanesa oferece à sociedade diversas terapias na área da psicologia, psicopedagogia, cursos e palestras para capacitação profissional, empreendedorismo, saúde e bem-estar.

Destaco, finalmente, dois projetos que a Fundação Libanesa vem realizando neste ano. O primeiro deles tem o apoio desta Casa, da Assembleia Legislativa, liderada pelo presidente Agostinho Patrus, e de nosso querido deputado Antonio Carlos Arantes; é o projeto Conexão Minas-Líbano. Esse projeto visa levar ao Líbano e aos países do Oriente Médio produtos de nosso estado, atrair investimentos privados para Minas Gerais e promover o intercâmbio cultural e científico entre Minas e o Oriente Médio – e esse intercâmbio cultural e científico há de ser contínuo.

Outro projeto, também já iniciado, visa à valorização e à defesa da mulher brasileira, da imigrante libanesa e das refugiadas. Pretendemos fazer com que a Casa do Líbano, que é como se denomina a sede da Fundação Libanesa, seja também um asilo ou um local de acolhimento para essas mulheres, para que tenham a sua plena inserção social, a sua capacitação profissional, um atendimento médico e psicológico, bem como orientação jurídica, o que é extremamente importante para aquelas que vivem em situação de risco, para aquelas que são refugiadas e que precisam de amparo.

Já realmente finalizando, honrado, extremamente honrado por esta oportunidade, digo, em nome dos libaneses imigrantes e descendentes, que tudo que aqui plantamos é reflexo da bondade e da tolerância que o povo brasileiro teve ao acolher os imigrantes. Uma árvore só é frondosa se a terra for fértil. As ações dos imigrantes e seus descendentes em Minas só têm sido possível porque aqui encontramos terra fértil preparada com amor e respeito.

Os libaneses sentem-se extremamente felizes por fazerem parte da história de Minas, por retribuírem todo esse acolhimento, através de ações concretas em favor de toda a sociedade, seja na economia, na assistência social, na ciência, na justiça, na política e em outros campos do saber. Formamos juntos, brasileiros, libaneses e demais imigrantes dos cinco continentes, uma aliança do bem e para o bem, que respeita as diferentes culturas e enriquece o seu saber em favor do desenvolvimento sustentável do país.

Shukran, Minas Gerais. Obrigado, Minas Gerais. Viva o Brasil! Viva o Líbano! Deus nos abençoe!