SÉRGIO GÖRGEM, Deputado Estadual - RS. Assessor da Via Campesina Nacional. Frei da Ordem dos Franciscanos.
Discurso
Comenta o tema "A reforma política de que o Brasil precisa".
Reunião
47ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/09/2005
Página 36, Coluna 3
Evento Fórum Técnico "Reforma Política e Eleitoral: como viabilizá-la?"
Assunto ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEGISLATIVO. ELEIÇÕES.
Legislatura 15ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/09/2005
Página 36, Coluna 3
Evento Fórum Técnico "Reforma Política e Eleitoral: como viabilizá-la?"
Assunto ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. LEGISLATIVO. ELEIÇÕES.
47ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 16/9/2005
Palavras do Deputado Frei Sérgio Görgen
Agradeço, de coração, ao Desembargador Armando Pinheiro Lago,
Coordenador dos nossos trabalhos, pela acolhida nesta Casa.
Também saúdo os parceiros de Mesa, Drs. Thales e Raimundo,
certamente teremos um debate muito rico nesta reunião. Agradeço,
de coração, ao Deputado Rogério Correia a lembrança, o convite, e
parabenizo-o pela realização e por ter tomado a iniciativa deste
evento. Tenho tratado da reforma política, ou da crise do sistema
representativo nacional em todas as suas instâncias, nos
movimentos sociais. Acho que este é o primeiro debate público
amplo no País sobre o tema. Vocês, de Minas, estão de parabéns.
Quero saudar a todos e a todas que estão aqui, de maneira muito
carinhosa, e também a todas as autoridades que foram
protocolarmente nominadas, que nenhum se sinta excluído nessa
saudação, já que, quando estamos nos ambientes formais, temos de
nos adaptar às formalidades. Tenho uma tradição de movimento
popular, de comunidade de base e de irreverência, então, sinto-me
meio mal nesses momentos, mas, aos poucos, vou pegando o jeito,
pelo menos não fazendo muito fiasco. Sintam-se todos saudados.
Quase nunca nos lembramos de saudar os que trabalham, os
operadores. Há sempre um monte de gente trabalhando por causa de
uma reunião destas. Saúdo a todos os trabalhadores e trabalhadoras
que estão aqui nos ajudando a ter o registro, o som e as imagens
deste debate.
Acho que fui convidado a participar deste debate para trazer um
outro foco do debate e quero ser fiel a isso, mesmo que alguns me
atirem pedras, ovos ou laranjas, porque trarei o debate para os
movimentos sociais, a crise política brasileira e seu foco
central, a crise do sistema representativo e as propostas para
mudar esse sistema.
Fiquei encarregado, nos movimentos, especialmente os movimentos
camponeses, mas não só, de sistematizar as várias idéias. Acho que
esse é o motivo do convite, sistematizamos 17 pontos que achamos
que resultariam em uma reforma política adequada. A que foi
proposta, que o Dr. Thales sistematizou, em nossa opinião, é
recauchutagem.
O sistema representativo está em crise. O que significa a crise
em um sistema representativo? Quando os representados não se
sentem mais representados pelos seus representantes. Quando a
crise é dos representantes, mesmo depois de várias trocas, nada
muda, começa a entrar em crise o sistema como um todo, não mais os
representantes. Achamos que este é o momento, pois o povo passou a
descrer no sistema.
Todo sistema tem uma possibilidade de alternância e uma reserva
moral. O sistema representativo formado no Brasil após a ditadura
militar, consagrado na Constituição de 1988, tinha uma reserva
moral e uma possibilidade de alternância, chamava-se PT.
Independentemente do que pensemos nesta sala, ou individualmente,
na cabeça do povo significa que a reserva moral caiu e a
alternativa não ocorreu. Passamos por Tancredo, por Sarney, por
Collor, por Itamar e por Fernando Henrique. O povo dizia na
eleição: último cartucho, PT; última possibilidade, Lula. Para o
povão, a expectativa que existia não ocorreu, e a crise ética
explodiu. Para mim, a corrupção não é o central da crise, pois
sempre existiu neste país. Uma parte do PT foi o ponto por onde o
furúnculo estourou.
Direi aqui, com o risco de ser contestado, mas se a lei eleitoral
fosse aplicada à risca, em que compra de voto é perda de mandato,
pergunto quantos permaneceriam em uma Prefeitura Municipal, em uma
Câmara de Vereadores, em uma Assembléia Legislativa, em um governo
de Estado, na Câmara dos Deputados, no Senado ou mesmo na direção
da república. Quantos?
Sejamos honestos: o difícil é pegar o corrupto, e, mesmo quando
se pega, é difícil cassá-lo. E quem fez a lei seguiu a norma, a
regra Tancredo. Montou seus esqueminhas para manter sua
sobrevivência.
Apresentaremos várias propostas, algumas concretas, outras
provisórias e provocativas. Achamos que o grande déficit da
democracia brasileira é a participação do povo. O povo nunca
participou autonomamente da democracia brasileira. Quando o fez,
foi de forma secundária e periférica. Há dois grandes impasses na
democracia brasileira, sendo o primeiro a profunda distância entre
os anseios populares e a capacidade de resposta do Estado. O povo
tem uma expectativa, e a capacidade de resposta cada vez mais
diminuída. O outro impasse é a possibilidade de participação dos
cidadãos e os meios reais de efetivar essa cidadania. Temos hoje
uma das maiores participações eleitorais do mundo: são 106 ou 108
milhões de eleitores. Mas o voto é praticamente uma delegação
absoluta. O que o cidadão consegue após ter votado? Consegue
influir no meu mandato, após ter votado em mim? Não, a não ser que
eu, por um ato deliberado, construa essa possibilidade. De outra
forma, não. Monto um belo esquema eleitoral, com salários, com
diárias, com assessores, etc., e o mandato parlamentar se torna
uma poderosa máquina eleitoral. Como digo no Sul: pra não se
reeleger, só se for muito bocó, muito besta. O eleito tem uma
máquina nas mãos, e o povo já não influi. Tem-se um esquema de
rádio para dar entrevistas todos os dias, e o povo diz: “Puxa, o
meu Deputado está trabalhando `pra burro´”. Nossa proposta é
alterar esse elemento fazendo com que o povo participe.
Vamos às provocações e, depois, ao debate. Primeiro elemento:
democracia direta. Reforçar os instrumentos de participação direta
da população por meio de plebiscitos, referendos, consultas
populares, audiências públicas, assembléias populares, conselhos
populares, orçamento participativo, ampla liberdade de organização
social, política e sindical, ampla e irrestrita liberdade de
organização partidária.
O segundo ponto: controle social da ação do Estado. Se o cidadão
não conseguir controlar a ação do Estado, não consegue efetivar a
sua cidadania. Como fazer isso? Por meio de comitês populares de
acompanhamento e fiscalização das execuções orçamentárias. Uma
obra será construída na vila tal. Haverá um comitê popular
acompanhando sua execução, com todas as informações disponíveis.
Hoje é simples e perfeitamente possível fazer isso. O Estado não o
faz porque é elitista, oligárquico, nem sequer nutre essa
preocupação.
Participação popular, direta e organizada na gestão e na
fiscalização da ação do Estado, com punição dura e implacável a
todas as formas de corrupção em todos os Poderes.
Há corrupção em todos os Poderes, Executivo, Legislativo e
Judiciário. Não quer dizer que todos os Poderes sejam corruptos,
mas que há corrupção em todos eles. Devem-se punir corrompidos e
corruptores. O engraçado é que todas as propostas para combater a
corrupção não alcançam quem corrompe. Gostaria de saber de onde
saíram os R$4.000.000,00 que o Roberto Jéfferson disse que ganhou.
Não me adianta saber do cano por onde a água passou. Quero saber
do rio de onde saiu a água. Parece que o cano está perto de vocês,
chama-se Valério, mas do rio ninguém sabe. Gostaria de ver esse
cidadão na cadeia.
Constituição de promotorias populares mandatárias para fiscalizar
a corrupção no meio do povo, como num sistema para escolher
jurados populares. Promotores populares mandatários para agravar e
ajuntar provas aceitas judicialmente. Esses estão anônimos no meio
da população. Se isso ocorresse, poderíamos dar um salto na
fiscalização.
Impedimento a que empresas e empresários corruptos ou
financiadores de campanha política participem de qualquer
licitação.
Fim do sigilo bancário, patrimonial e social de qualquer cidadão
que exerça função pública, dois anos antes e dois anos depois do
mandato. Não deveríamos ter sigilo bancário, fiscal e patrimonial.
Deveria haver um “site” disponível; e saberíamos tudo sobre esse
freizinho que saiu do Rio Grande do Sul e veio aqui cantar de galo
em Minas Gerais. Vocês poderiam entrar no “site” e saber o quanto
ele ganha. Ele ganha salário de Deputado, tem décimo terceiro,
décimo quarto e décimo quinto? Ganha R$7.215,00 líquidos e
R$3.888,00 de verba por mês. Sua verba parlamentar é de
R$14.090,00, e tem R$5.000,00 para transporte, além de poder
contratar seis assessores e dois estagiários. Isso deveria ser
límpido e claro para qualquer cidadão que quisesse ter a
informação. Se assim fosse feito, eu começaria a acreditar em uma
reforma política.
Romper as malhas do clientelismo, do fisiologismo, do
assistencialismo e do paternalismo, que são formas clássicas de
manter o povo pobre, devendo favores às elites políticas e as
pagando com votos.
Fim da emenda parlamentar e proibição de que o parlamentar tenha
vínculo com entidades assistenciais e empresas que prestem
serviços públicos. Proibição de qualquer tipo de doação ou favor.
Isso não pode ser feito pessoalmente por candidato ou detentor de
cargo público.
Proibição de qualquer tipo de nepotismo direto ou cruzado. Na
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, foi aprovada uma lei
que proíbe o nepotismo em qualquer instância do Estado. Não posso
contratar meu parente, então, contrato o parente do meu amigo, que
também tem cargo público. Tenho aqui o nepotismo cruzado.
Fim do carreirismo político, quatro pontos: impossibilidade de
exercer mais de dois mandatos consecutivos em qualquer instância
do Estado. Depois de dois mandatos, quarentena, ficando um fora.
Existem famílias no Brasil em que política é profissão. O Brizola
disse que existiam os filhotes da ditadura, mas estamos vendo os
netinhos da ditadura: desde que me conheço por gente, o ACM está
lá; agora o neto dele, também. O filho só não está porque morreu.
Então, há dinastias na política brasileira tanto no Rio Grande do
Sul quanto em Minas e em qualquer outro canto, porque a política
virou profissão. É o carreirismo.
E, para acabar com o carreirismo, há a possibilidade de revogação
dos mandatos, possibilidade de referendo revogatório,
possibilidade de processo judicial instaurado pelo Ministério
Público. E estamos propondo a possibilidade de revogação do
mandato pelo próprio partido. Propomos que o partido, com votação
qualificada em convenção partidária, possa cassar o mandato.
Assim, o povo pode pressionar o partido. Se alguém fizer
malandragem e ferir a imagem do partido, este, convocado legal e
regularmente, com voto qualificado em convenção, poderá cassar o
mandato do seu membro e passá-lo para o suplente.
Estamos muito loucos, gente? O enfoque é um pouco diferente.
Estamos partindo de uma perspectiva diferente daquelas possíveis
com o atual Congresso instalado.
Imunidade parlamentar: achamos importante. Mas tem que ser
qualificada, tem que ser no estrito exercício do mandato. E também
o fórum privilegiado, mas somente para acusações no estrito
exercício do mandato.
É, mas ainda existem muitas amarras. Já é um passo, já é força da
pressão do povo.
Quanto a financiamento de campanhas eleitorais, quero discordar
dos meus dois antecessores por uma razão simples: na nossa
avaliação, financiamento de campanha deve ser sempre público,
apenas o controle deve ser privado. Ou vocês acham que uma empresa
que financia alguma candidatura transfere exclusivamente dinheiro
próprio? É um investimento, então é melhor que seja público.
Por exemplo, um candidato que estiver numa vila e disser que paga
R$200,00 pelo voto de um cidadão será um desgraçado, porque estará
comprando voto com dinheiro do próprio cidadão. Aí o
constrangimento é total. Por isso, Promotor, os políticos têm
pavor de financiamento público para campanha, porque criará outra
moral na sociedade. Os candidatos ficarão totalmente constrangidos
na hora de fazer o que fazem hoje. Essa é a principal razão por
que defendo financiamento público em campanhas.
A proposta que o nosso povo levantou relativamente à remuneração
dos eleitos é mais ou menos a seguinte: um eleito para qualquer
função deveria receber a média do que recebem os funcionários
públicos da instância onde atua. Por exemplo, eu, Deputado
Estadual do Rio Grande do Sul, recebo R$9.540,00 e 15 salários por
ano, mas qual deveria ser o valor da minha remuneração? Deveria
receber a média ponderada do que recebem os funcionários públicos
do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul. Aí sentiria um
pouco quem ganha menos e quem ganha mais e teria outro
comportamento. Não iria passar fome, com certeza, e teria uma
estrutura mais modesta.
Estamos propondo também fidelidade partidária, com
impossibilidade de troca de partido por três anos após eleito.
Somente no último ano, por ideologia talvez, se concluir que o
partido não mais lhe serve, é que poderia sair. Aliás, no nosso
entendimento, os mandatos seriam sempre partidários. Saiu, o
mandato fica com o partido, que o repassará. E o que já disse
antes: pode-se perder o mandato por decisão qualificada, com o
voto de dois terços em convenção partidária.
Propomos também assembléias legislativas especiais, tanto nos
Municípios quanto nos Estados e na União. O que seriam essas
assembléias legislativas especiais? Assembléias por tempo
determinado, por duas ou três semanas, para votar as leis que
realmente mexem com a vida do cidadão: lei orçamentária, Lei de
Diretrizes Orçamentárias e Plano Plurianual. Aí, haveria Deputados
e Deputadas especiais. E seriam muitos, não os 50, 60 ou 70 que
temos hoje. Seriam muitos, eleitos onde o povo mora, com discussão
antecipada sobre o que querem que se inclua no orçamento, o que
tem de constar do Plano Plurianual. E extingue-se o mandato quando
terminar a decisão.
Iniciativas populares: que a iniciativa popular tenha precedência
na tramitação em qualquer assembléia e que o processo para as
iniciativas populares não seja tão restritivo. E que a iniciativa
popular seja possível com relação a qualquer tema de interesse
público. Como bem disse o Presidente da OAB, hoje nós,
parlamentares, somos despachantes de luxo; não podemos legislar
sobre nada. Sobre matéria econômica, não podemos legislar; sobre
estrutura do Estado, não podemos legislar. Podemos legislar sobre
o que, então? Nome de rua? Dia do Cliente? No meu Estado, uma lei
estabelece o Dia do Porco. Um dia destes, um Deputado colega meu
falou que ia propor uma lei para trocar o nome para Dia do Suíno.
Sobre isso legislamos. Então, que seja sobre qualquer assunto de
interesse público.
Ah, o Deputado está fazendo um projeto de lei aqui para mexer com
matéria orçamentária. Ah, não pode, tem de ser iniciativa do
Executivo. Por quê? Porque não tem dinheiro. A verdade é que o
Estado está falido. No Rio do Grande do Sul, por exemplo, fomos
votar o orçamento do Estado: 60%, funcionalismo; 20%, custeio;
18%, dívida. São 98%. Decidimos sobre o quê? Sobre 2%, que são
para ponte caída, estrada arrebentada, colégio caído. Os 2% não
chegam. Quero tirar o dinheirodaqui para colocar lá. Mas se eu
fizer isso, sabe o que significa? A ponte não será reconstruída.
Vai cair e matar gente. Decidimos sobre o quê? Sobre nada. É a
colonização do sistema econômico sobre a política. Precisamos
recuperar a preponderância da política sobre o econômico.
Assembléias populares municipais: agora vou dar mais uma estocada
aqui, para vocês ficarem um pouco mais bravos comigo. Propomos o
fim das Câmaras de Vereadores como existem hoje. Achamos que pode
haver no máximo assembléias populares municipais, sem salário
fixo, com ajuda de custo por reunião e, ao contrário do que
propuseram, mais amplas, com mais participação, porque é no
Município que o povo aprende a participar, aprende a ser cidadão,
aprende a decidir. É o que está perto dele.
Desprofissionalizar as Câmaras de Vereadores: em nossa proposta
deixamos em aberto a questão de Municípios com mais de 100 mil
habitantes, porque geram uma complexidade maior. Mas poderia haver
conselhos populares de bairros.
Representação de gêneros e etnias historicamente excluídas: se
não se criarem mecanismos para que negros, índios e mulheres
tenham representação, quando vão participar? Quando é que na
Assembléia Legislativa de Minas Gerais haverá um índio eleito? No
Rio Grande do Sul, da mesma forma, são 18 mil índios, e não terão
nem voto suficiente. É necessário criar o que chamamos de
discriminação positiva.
Fim da reeleição em mandatos executivos: a proposta que fizemos é
que os mandatos executivos sejam de seis anos, sem reeleição, mas
com possibilidade de se revogar o mandato nos primeiros três anos.
Há a possibilidade de o povo fazer o “recall”. Se a pessoa estiver
arrebentando com tudo, o povo o manda para casa e elege outro. Mas
é preciso um prazo mínimo para execução de um plano, por isso os
seis anos.
Assembléia nacional unicameral: o nosso povo está discutindo que
não precisamos de Senado. Não há razão profunda que justifique a
existência de duas câmaras federais. Não vale a justificação de
que é preciso haver o voto qualificado por Estado. É só votar por
bancada. Cada bancada tem um voto quando se trata de questões que
digam respeito ao equilíbrio da Federação. Não é preciso para isso
um Senado, que só serve para gastar mais dinheiro.
Vamos mexer um pouco com o Poder Judiciário. O nosso povo tem
levantado a necessidade de transparência absoluta do Poder
Judiciário porque ele é vitalício, paga bem e tem irredutibilidade
de vencimento. Os Juízes nem ganham tão bem, mas, para os padrões
brasileiros, ganham. Sou daqueles que defendem que o Juiz tem que
ganhar bem porque ele não pode ter nenhuma outra profissão. E o
“desgramado”, desculpem a expressão, não pode ter nenhuma desculpa
para se corromper, porque é a última esperança do cidadão. O
Judiciário tem que ser totalmente independente para julgar, e a
independência do julgar deve ser preservada a ferro e fogo em
qualquer sistema. São critérios de segurança do Poder. O acesso a
funções do Poder Judiciário deve ser exclusivamente por concurso
em todas as instâncias e funções. Propomos o fim do STF e a
criação de um tribunal constitucional, não escolhido pelo
Presidente da República, mas por voto, pelos operadores do
direito, em seqüência. Quando terminar o mandato de um, a OAB
escolherá o substituto, por voto, aberto em todo o País; o
seguinte, os Juízes escolhem; o seguinte, os Promotores; o
seguinte, a Advocacia-Geral da União e as Procuradorias de
Estados. Acesso público a todas as informações bancárias, fiscais,
patrimoniais de todos os membros do Judiciário e do Ministério
Público, de seus cônjuges e filhos. Também propomos a criação de
corregedorias populares para avaliar e fiscalizar a ação do Poder
Judiciário, não no seu ato de julgar, mas nos seus procedimentos
éticos e administrativos. Também achamos que deve haver mecanismos
de deposição sumária de Juízes e Promotores quando comprovado caso
de corrupção, venda de sentença ou vínculos com grupos criminosos.
Achamos que deve ser proibido a membros do Poder Judiciário
participar de sociedades secretas. O Poder Judiciário tem que ter
uma transparência total, coisa que não acontece hoje.
Por último, o livre acesso à informação e plena liberdade de
manifestação pública de opiniões. São os meios de comunicação
social. São os grandes responsáveis pela falta de informação da
população, pela manipulação de informações, pela deformação e
desequilíbrio das opiniões da sociedade. E, aí, o controle público
sobre os meios de comunicação, rigidez contra os monopólios,
fortalecimento dos sistemas públicos de comunicação, criação de
conselhos curadores para os meios de comunicação escolhidos em
eleições livres e diretas. Estamos propondo que cada Estado tenha
um conselho curador para os meios de comunicação.
São ainda propostas nossas: a garantia automática do direito de
arena e do direito de antena. Direito de arena hoje só se aplica
“stricto sensu” a jogador de futebol e modelos. Se um meio de
comunicação ofende minha imagem, tenho o direito automático de, em
48 horas, no mesmo espaço e no mesmo meio de comunicação,
apresentar minha versão. E a criação de ouvidorias públicas
vinculadas ao Ministério Público para garantir o livre direito de
opinião e informação e a liberdade de operação de rádios e TVs
comunitárias.
Tudo o que disse aqui é, de certa forma, previsto em nossa
Constituição, numa partezinha que não está sendo cumprida. Disse
muito bem o Dr. Raimundo que “todo poder emana do povo e em seu
nome será exercido.” Eu ampliaria: “em seu nome ou diretamente
será exercido”.
Meu objetivo era provocá-los. Em terras mineiras, sempre se fez a
síntese do País, mas nós, os gaúchos, sempre fomos os que chutaram
o pau da barraca. Confio na capacidade de vocês para produzir uma
boa síntese das propostas provocativas que sintetizamos, ouvindo o
importante setor do movimento social brasileiro. Muito obrigado.