RODRIGO DE ALMEIDA PONTES, Presidente da Sociedade Mineira dos Engenheiros Agrônomos - SMEA.
Discurso
Transcurso do 70º aniversário de fundação do Conselho Regional de
Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais - CREA-MG e da
Sociedade Mineira de Engenheiros Agrônomos - SMEA-MG.
Reunião
7ª reunião ESPECIAL
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 28/04/2004
Página 25, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO.
Legislatura 15ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 28/04/2004
Página 25, Coluna 1
Assunto CALENDÁRIO.
7ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 15ª
LEGISLATURA, EM 23/4/2004
Palavras do Sr. Rodrigo de Almeida Pontes
Exmo. Sr. 1º-Secretário da Assembléia Legislativa do Estado de
Minas Gerais, Deputado Antônio Andrade, representando o Exmo.
Presidente desta Casa, Deputado Mauri Torres; Deputados Paulo
Piau, Fábio Avelar, Ivair Nogueira e Luiz Fernando Faria, em nome
da classe agronômica do Estado, agradecemos as homenagens
prestadas pelos 70 anos da SMEA.
Caro Presidente do CREA-MG, Marcos Túlio de Melo, na pessoa do
qual saúdo o CREA pelos 70 anos de serviços prestados à sociedade
mineira; caro Prof. Aluísio Pimenta; Wilson Lamg, Presidente do
CONFEA; Alfredo Gomes, que me colocou na Diretoria da SMEA; grande
Presidente da FAEMG, Gilman Viana Rodrigues, meu espelho; meu
antecessor, Marcelo Martins; ex-Presidentes colegas engenheiros-
agrônomos, Deputados, senhoras e senhores, bom-dia.
Ao recebermos o convite para participar desta cerimônia de
homenagem aos 70 anos da SMEA, sentimo-nos honrados, pois
interpretamos que esse é o reconhecimento de todo o trabalho de
uma legião de profissionais, engenheiros-agrônomos, que dedicaram
o melhor de si para a construção de uma sociedade mais justa e
igualitária através de seu conhecimento aplicado ao
desenvolvimento do setor agropecuário mineiro.
Criada em 4/6/34 como entidade civil sem fins lucrativos,
partidários ou religiosos, hoje faz parte, junto com outras 26
associações de profissionais, da Confederação Brasileira de
Engenheiros-Agrônomos e participa com cinco representantes do
Conselho do CREA-MG.
Dos quase 103 mil engenheiros-agrônomos do País, representamos 7
mil profissionais com atuação destacada no Estado de Minas Gerais.
Desde sua criação, passaram aqui inúmeros colegas com o intuito de
contribuir para a solução dos problemas enfrentados pela
agropecuária mineira.
É relevante destacar que seus Presidentes sempre foram eleitos de
forma direta, pelo voto, mesmo antes das Diretas Já.
Além da defesa do profissional de agronomia, nossas idéias sempre
foram defendidas com vigor e, dessa forma, a SMEA participou
nestes 70 anos, efetivamente, da ocupação e do desenvolvimento do
campo mineiro. Falar dos 70 anos da SMEA é falar da formação e da
atuação desse profissional, é falar da inteligência agronômica
gerada nas nossas universidades, é, ao mesmo tempo, falar de uma
das principais tecnologias geradas no País. A história do
engenheiro-agrônomo confunde-se com o sucesso dos agronegócios
mineiro e brasileiro.
Por meio da Carta Régia, em 25/6/1812, o Príncipe Regente, Dom
João, instalava na Bahia o primeiro curso de agricultura do País e
já providenciava a instalação de hortos reais, aos quais se
atribuíam as funções de ensino, pesquisa e extensão, nos moldes do
iluminismo, do liberalismo e do enciclopedismo em que fora criado.
Em 1814, foi criada uma cadeira de Botânica e Agricultura no Rio
de Janeiro e, mais tarde, uma Escola de Agricultura Prática e
Teórica no Jardim Botânico da lagoa Rodrigo de Freitas,
configurando-se o primeiro instituto tecnológico do Brasil.
Em 1859, Sua Majestade Dom Pedro II comparece à inauguração do
Imperial Instituto Baiano de Agricultura, e, a partir dessa data
até 1910, vários outros institutos e escolas foram criados nas
diversas províncias.
Os primeiros registros dessas escolas em Minas Gerais relatam a
doação feita aos salesianos do antigo palácio e quartel dos tempos
coloniais em Cachoeira do Campo, próximo a Ouro Preto, pela Lei nº
43, de 22/5/1893, assinada pelo Presidente do Estado Affonso
Augusto Moreira Penna. Em Cachoeira do Campo, a Escola de
Agronomia Dom Bosco chegou a ter uma freqüência de 200 alunos, e
registram-se, nessa época, em Minas Gerais, as primeiras
titulações de engenheiro agrônomo.
Em 1908, é fundada em Lavras a Escola Agrícola, dirigida pelo
agrônomo norte-americano Benjamim Harris Hunicutt, que mais tarde
se transformaria na atual Universidade Federal de Lavras - UFLA.
Esse período da Carta Régia até 1910 é marcado por tentativas de
se instituir um sistema de ensino agrícola no País. Mas é após a
criação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, em
1906, que se inicia o processo de regulamentação do ensino
agrícola no Brasil, em todos os graus e modalidades. Por meio do
Decreto nº 8.319, de 1910, surge a primeira regulamentação do
ensino agrícola no Brasil.
Em 1914, é criada em Belo Horizonte a Escola Mineira de Agronomia
e Medicina Veterinária, que funcionou no Ginásio Mineiro e que
usava, inicialmente, os terrenos do antigo Jardim Zoológico, ao
lado do Parque Municipal, para aulas práticas. Apenas em 1923 é
inaugurado, no Bairro Santo Antônio, o edifício próprio da escola,
hoje Faculdade de Filosofia. Em 1940, suas atividades são
encerradas, tendo formado 132 engenheiros agrônomos.
Em Passa-Quatro, no ano de 1917, é fundada a Escola de
Agricultura e Pecuária, que funcionou até 1938 e chegou a formar
engenheiros agrônomos vindos de cinco Estados brasileiros.
Em 1920, na cidade de Viçosa, é fundada a Escola Superior de
Agricultura e Veterinária de Viçosa, hoje UFV. Desde essa época,
Minas Gerais destaca-se no cenário nacional e possui duas das dez
mais antigas escolas do País, as quais figuram até hoje entre as
três melhores escolas de agronomia do Brasil.
No ano de 1933, o Governo Getúlio Vargas reorientaria o ensino
agrícola, com a criação da Diretoria do Ensino Agronômico no
Ministério da Agricultura. Por meio do Decreto nº 23.196, de
12/10/33, é regulamentado o exercício da profissão agronômica, que
se torna, dessa forma, a primeira engenharia regulamentada do
País.
Em 11/12/33, é criado o CREA e o sistema CONFEA, onde deveriam se
registrar os profissionais de engenharia, arquitetura e agronomia.
Em abril de 1934, iniciam-se as atividades do CREA-MG, e, em
junho do mesmo ano, surge a organização dos engenheiros agrônomos
em Minas Gerais, que inicialmente tinha forma sindical e depois
veio a se firmar como ONG.
Em vista da regulamentação da engenharia agronômica e da
amplitude de suas áreas de concentração e especialidades,
surgiram, a partir da formação básica do engenheiro agrônomo, as
engenharias florestal, agrícola, zootecnista e de alimentos e,
atualmente, novas especialidades, como gestão do agronegócio e
engenharias ambiental e de recursos hídricos.
Cabe aqui uma reflexão sobre o modelo adotado pela engenharia
brasileira, que, ao contrário da medicina e da advocacia, que
geraram especialidades dentro de sua formação básica, criou novas
especialidades com o título de engenheiro, o que prejudica o
entendimento, a prestação de serviço à sociedade, a inserção e a
geração de oportunidades para esses profissionais.
Minas Gerais sempre figurou como um dos mais qualificados
formadores de engenheiros agrônomos para o Estado e para o País. A
agronomia mineira foi responsável por diversos êxitos econômicos
no Estado e no Brasil, e hoje é uma importante parceira do
agronegócio brasileiro. Foi da formação consistente desses
profissionais em Minas Gerais e da articulação da SMEA que
surgiram, no Governo Bias Fortes, as companhias de economia mista,
que resultaram na criação da CAMIG, em 1958, e da Companhia de
Armazéns e Silos do Estado de Minas Gerais - CASEMG. A CAMIG foi
criada para dar apoio ao produtor rural, atuando na
comercialização, na industrialização de insumos agrícolas e na
prestação de serviço.
A primeira unidade de estudos sobre conservação do solo e da água
no Brasil foi instalada em 1940, na Universidade Federal de
Viçosa, que foi a primeira universidade a instalar um curso de
mestrado em ciências agrárias, sendo pioneira também na criação do
Departamento de Economia Agrícola.
Nasce em 1948, em Minas Gerais, a ACAR, a primeira empresa de
extensão rural, hoje EMATER, servindo de modelo para todo o País,
e, posteriormente, cria-se a EMBRATER.
Desde essa época, a agronomia pública vem sendo praticada no
País, levando tecnologia e conhecimentos agronômicos aos pequenos
empreendedores rurais. Na década de 50, a SMEA destacou-se no
apoio às iniciativas dos produtores rurais de se organizarem em
associações e acompanhou a implantação definitiva da sua
organização maior, a FAREM, hoje FAEMG.
Atrás de um grande homem existe sempre uma grande mulher - esse
ditado parece ser regra geral na agronomia mineira. Em todos os
cantos do Estado, elas acompanhavam seus maridos, e, em 1952,
época em que as mulheres sequer podiam optar por seu destino, foi
criada em Minas Gerais a Associação das Esposas dos Engenheiros
Agrônomos, sempre atuante e uma das primeiras associações de
mulheres de Minas Gerais.
O sistema da agricultura, criado em Minas Gerais com o apoio da
SMEA, no final da década de 60 e durante os anos 70, deu origem ao
Instituto Estadual de Florestas - IEF -; à Frigoríficos de Minas
Gerais - FRIMISA -; ao Instituto Estadual de Saúde Animal - IESA -
à RURALMINAS e à EPAMIG. Nessa época, o Projeto Integrado de
Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais - PIPAEMG - foi o
embrião da EPAMIG e seria, mais tarde, o modelo que iria dar
origem à EMBRAPA.
Foi em Minas Gerais, na Universidade Federal de Viçosa, que se
iniciou o melhoramento da soja para sua adaptação às
características do cerrado. A tecnologia de uso e ocupação dos
cerrados gerada em Minas Gerais possibilitou a sua exploração,
iniciada em 1970, com o POLOCENTRO. Nasceram em Minas Gerais, das
mãos de nossos engenheiros agrônomos, as bases que possibilitaram
a ocupação do cerrado e a criação da EMBRAPA.
Grandes problemas discutidos atualmente na sociedade, como
biotecnologia, transgênicos, recursos hídricos, fome zero, reforma
agrária, meio ambiente, segurança alimentar e agronegócio passam
pela formação técnica e pelo conhecimento desses profissionais.
Atualmente, com a modernização do campo e a conscientização da
população brasileira com relação aos problemas ambientais, os
agrônomos e seus parceiros, os produtores rurais, tornaram-se os
grandes guardiães do meio ambiente no setor rural, e estão sob sua
responsabilidade a preservação da flora, da fauna, do solo e da
água.
Muito tempo antes de se falar em meio ambiente e desenvolvimento
sustentável, as bases científicas que formaram o conhecimento
agronômico brasileiro já eram alicerçadas sobre o uso e a
capacidade dos solos e a conservação e o aproveitamento de suas
características naturais e de seus potenciais.
Eu me arriscaria a dizer que as grandes soluções para o
desenvolvimento sustentável, termo muito usado, mas pouco
compreendido, seguramente partirão de Minas Gerais e terão
participação expressiva da inteligência agronômica mineira.
A SMEA, em todos estes anos, esteve prestando serviços relevantes
ao Estado e ao País, seja na formação de profissionais, seja na
atuação à frente de tantos órgãos, seja oferecendo homens públicos
e cidadãos para a sociedade, seja no desenvolvimento de
tecnologias que contribuem para a manutenção dos atuais 27% dos
empregos gerados no País, 33% do PIB e 40% dos valores exportados,
sendo o único setor superavitário da balança comercial brasileira.
É importante ressaltar ainda que a agricultura nacional atingiu,
nos últimos dez anos, ganhos de produtividade média acima de 125%,
fato este não registrado nas principais agriculturas mundiais.
Isso não acontece por acaso ou por um passe de mágica, e os 70
anos da SMEA são testemunho desta história de sucesso do
engenheiro agrônomo, do trabalho incansável do produtor rural, da
agronomia mineira e do agronegócio nacional. Obrigado.